Incensos
Uma luminescência da coligação governamental entreteve-se a encomiar Carlos Moedas, decidindo que a sua nomeação para comissário europeu – onde, «certamente», irá ocupar uma «pasta de relevo» – constitui «um prestígio para Portugal», que «decerto beneficiará» deste arrumo lusitano no «governo europeu».
Conviria – se «a tão fraca gente» se pudesse pedir alguma coisa – que o sujeito do panegírico a Moedas se lembrasse do historial de Barroso na ida para «presidente europeu», um outro a quem a sábia opinião local também consignou, na altura da nomeação, ridentes vantagens para o nosso País. Hoje, obviamente, assobiam para o lado e, se necessário, malharão no Barroso até que o seu indignado desprezo brote, em sangue, da criatura. Ao menos deviam reparar nisto, senhores, antes de repetir com o Moedas asneiras ostensivas do passado.
Rememorando sucintamente a trajectória de Durão Barroso (dos seus tempos de MRPP ficou apenas o roubo da mobília da Faculdade de Direito a seguir ao 25 de Abril, que levou para a sede do MRPP, onde Arnaldo Matos o obrigaria a devolvê-la), temos uma itinerância paciente pelo PSD até se conseguir alçado a primeiro-ministro. Cumpria o seu famoso vaticínio de que «havia de ser primeiro-ministro, não sabia era quando», mas foi sol de pouca dura: acossado pelo «País de tanga» que disse «ter herdado», fugiu passados dois anos de chanceler para a mordomia da presidência da UE, onde os seus comportamentos duvidosos (nomeadamente com Portugal) se tornaram uma rotina. Lembramos apenas as férias que passou no iate de um milionário grego logo no início do mandato e que o jornal alemão Die Welt titulou «Barroso deixa que lhe paguem uma viagem de cruzeiro» ou o recente escândalo com Vladimir Putin, denunciando à sorrelfa que ele lhe havia dito que, «se quisesse, tomava Kiev em duas semanas» e, perante a ameaça da Rússia em divulgar toda a conversa, desdisse-se vergonhosamente declarando que «a frase fora tirada do contexto» ou, em relação «à Pátria», quando ameaçou, em pura insanidade política, que se Portugal «falhasse» nos ditames da troika «tínhamos o caldo entornado».
Se Carlos Moedas tivesse alguma dimensão e produzisse mais alguma coisa além das, literalmente, fanhosas patacoadas neoliberais, o caso supra do elogio poderia, quiçá, melindrá-lo.
Ser louvaminhado com a mesma fórmula utilizada em Durão Barroso, que tão má conta deu de si «na Europa», não parece estimulante para um novo candidato ao Olimpo europeu.
Mas não. Esta tropa – referimo-nos aos incensados e aos manobradores do turíbulo – toda junta não vale uma prece. Isto para irmos ao encontro da famosa frase de Henrique IV, «Paris vale bem uma missa» (convertendo-se ao catolicismo para unir a França).
Esta ranchada nem o incenso ardido merece.