Mentir e destruir para reinar
«O latifúndio está na raiz da história brasileira. Hoje, renova-se o latifúndio antigo integrando-o num sistema moderno a que se chama agronegócio. A desequilibrada distribuição das terras tem desencadeado a fonte principal de muitos conflitos sociais. É o caso de vários estados (como o de Mato Grosso) onde 3,35% de grandes produtores possuem 61,5% dos terrenos aráveis com mais de 2500 hectares de extensão» (Inácio Werner, “Do latifúndio ao agronegócio”).
«De um dia para o outro, o FMI e o Banco Mundial (os maiores responsáveis pela dívida pública e pela crise social nos países em desenvolvimento ou em transição) mascararam-se em instituições caritativas cuja principal missão é, supostamente, derrotar a pobreza... Conjuntamente com a Organização Mundial do Comércio, promovem agora o diálogo com ONGS ditas “moderadas”e “anti-globalização, tratando-as como opositores sérios, enquanto combatem as associações sindicais de classe e as massas populares que se manifestam nas ruas» (Rui Namorado Rosa, “Imperialismo seus limites e alternativas”, 2004).
«O imperialismo sabe avançar à sombra do estandarte dos direitos do homem e da boa administração… Brincando em parceria com as ONG, as multinacionais de nada mais precisam do que apresentarem-se como campeãs do desenvolvimento de um capitalismo sustentável» (Pierre Bordieu, “Le Monde Diplomatique”).
Em meio mundo (na Europa, em África, nas Américas, etc.), o Vaticano é considerado como o mais poderoso latifundiário. Mas a extensão das terras que domina é segredo de Estado ferozmente guardado. Para isso mesmo é que servem as concordatas com os estados laicos, os múltiplos e contínuos cruzamentos de interesses com os gigantescos grupos financeiros multinacionais, a filantropia das opulentas Fundações ou o combate à fome entregue a ONG e Bancos Alimentares gerados pelas criminosas instituições que representam a fonte principal da fome em todo o mundo. O cinismo financeiro é de tal ordem que continua a reinar entre os banqueiros exploradores (nomeadamente entre os imperialistas assumidos), a palavra de ordem do FMI e do Banco Mundial divulgada em 2008, quando se oficializou a existência de uma grave crise no sistema (Robert B. Zoellick, presidente do BM): «Há um novo contrato agrícola a promover… Temos de colocar o nosso dinheiro onde está hoje a nossa boca, para que possamos levar comida à boca dos famintos!».
Como é evidente, o financiamento deste novo contrato de combate à fome jamais foi retirado dos cofres dos ricos. E veio dar força às políticas agrárias neoliberais já então seguidas a partir da década de 80. Concessão de empréstimos em cadeia aos países em desenvolvimento, a juros tão altos que os respectivos governos os não pudessem pagar. Deste modo, agravamento imparável das dívidas públicas, aprofundamento do fosso entre ricos e pobres, apagamento da soberania e das funções sociais do Estado democrático, empobrecimento de centenas de milhões de seres humanos, despedimentos maciços, aumento acelerado dos preços dos bens de primeira necessidade, encerramento de escolas, clínicas, serviços públicos locais, etc. Por outro lado, crescem as guerras e rumores de guerra, os escândalos financeiros, a ausência de ética na política, o respeito pelas constituições, os exércitos privados, as poderosas sociedades secretas, a desregulamentação dos mercados, o abandono dos campos como condição prévia para o retorno ao latifúndio, etc., etc.
Tudo isto se passa, presentemente, também em Portugal. Há mandatários da troika, imorais e incapazes, que nem sabem o que fazer e como fazer, a não ser destruir. Há uma apalhaçada independência e um povo que faz recordar a arraia miúda medieval esmagada pelas corveias e portagens reais. Há uma dívida pública que um pequeno país com sistema capitalista nunca poderá pagar.
Aproximamo-nos do caos. A julgar pelos elementos que vão surgindo, já nas próximas semanas se falará muito em agronegócio, «bolhas» financeiras, bancos lucrativos com o seu cortejo de escândalos e bancos não lucrativos (!!!) do combate à fome; virão também à tona de água nomes conhecidos de piedosos filantropos e de banqueiros ladrões, siglas de gigantes dos mercados que enriquecem ainda mais com a fome de multidões, etc. Não se saberá tudo, bem longe disso... Algo, entretanto, se virá a saber!
Vamo-nos aproximando do coração da batalha e muitos combates duros teremos, ainda, que travar. Mas os trabalhadores são corajosos, são fortes e sabem unir esforços nos momentos decisivos.