Luta e confiança

«São muito duros os tempos que vivemos, mas a hora é de luta e confiança»

Milhares de trabalhadores desceram às ruas da cidade do Porto no passado sábado numa combativa manifestação que reafirmou o protesto e a indignação pela continuação desta política de exploração e empobrecimento e exigiu a demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas. Reclamações que, como se podia confirmar nas palavras de ordem, nas faixas e intervenções, se projectam com redobrada força na exigência de ruptura com a política de direita e na afirmação de uma «política de esquerda e soberana». Luta que não vai parar e vai ter já no próximo sábado em Lisboa nova expressão na manifestação convocada pela CGTP-IN (que exige um grande esforço de mobilização) e na acção reivindicativa nas empresas e locais de trabalho, do sectores público e privado, em defesa dos direitos conquistados, em defesa do emprego e da contratação colectiva, pela melhoria dos salários, a começar pelo aumento do salário mínimo nacional para 515 euros, em defesa do sistema de Segurança Social público, universal e solidário, da escola pública, inclusiva e de qualidade, do Serviço Nacional de Saúde e das outras funções sociais do Estado que a «reforma» do Governo em curso visa reconfigurar ou destruir.

Os trabalhadores e o povo, como ficou visível nesta manifestação, exigem respostas para os seus problemas. Respostas tanto mais necessárias e urgentes quanto se sabe, e a vida todos os dias o confirma, que quanto mais prolongado for o período de vigência deste Governo, mais se agravam as condições de vida dos trabalhadores e do povo, maior será o rasto de destruição dos seus direitos, mais desastrosa será a situação económica e social do País, maior a dívida, mais profunda a recessão.

Importa, pois, prosseguir a luta, dinamizar a acção reivindicativa, defender os serviços públicos.

É certo que quem luta nem sempre alcança. Mas é importante assinalar que, mesmo neste tempo de grande retrocesso, foi pela luta que os trabalhadores da Administração Local conseguiram defender a semana de trabalho das 35 horas; foi pela luta que em muitas empresas os trabalhadores conseguiram aumentos salariais; se conseguiu a reposição dos salários e dos subsídios de férias no sector público e empresarial do Estado; os professores conseguiram 611 sentenças que obrigam o Governo ao pagamento de compensações pela caducidade dos contratos individuais; um número crescente de trabalhadores com vínculo precário, na sua maioria jovens, conseguiu a integração nos quadros da empresa. E foi também pela luta que os partidos do Governo sofreram uma derrota histórica nas eleições para o PE e o PS (corresponsável pela política de direita) registou um relativo insucesso eleitoral.

E foi ainda pela luta que se travou (e se continuará a travar) a batalha ideológica contra a teoria das inevitabilidades, contra a mistificação da «saída limpa», contra os apelos à resignação e ao conformismo.

É por isso que, embora sendo de grande complexidade a situação que vivemos, o tempo, porque é de luta, é também de confiança na capacidade de resistência e de transformação deste povo que em mais de oitocentos anos de história sempre soube encontrar saídas para as situações, por mais complexas que fossem.

Perante a grave crise institucional aberta pelo Governo, o PCP pediu ao PR a marcação de uma audiência que se realizou na passada segunda-feira. Consciente da gravidade da situação que estamos a viver – nos planos político, económico, social e institucional – o PCP apelou ao PR para que demita o Governo, dissolva a AR e convoque eleições antecipadas como forma de, devolvendo-se a palavra ao povo, se encontrar a saída para a crise. Com esta iniciativa, o PCP assumiu, com responsabilidade e coerência, o seu papel na sociedade portuguesa, colocando os interesses dos trabalhadores, do povo e do País no centro das suas atenções. E também nesta atitude se torna mais uma vez claro que os partidos não são todos iguais. Enquanto o PCP se empenha na mobilização para a luta e assume todas as suas responsabilidades no plano da acção institucional para a concretização de uma alternativa política à actual situação que ponha termo a esta política de terrorismo social, outros partidos viram-se para dentro, procurando esconder nas suas crises internas uma enorme insensibilidade social perante os graves problemas que o povo está a viver.

Na mesma linha de acção o PCP vai também intensificar na Assembleia da República o combate ao DEO, em defesa do Serviço Nacional de Saúde e da Segurança Social e em defesa dos serviços públicos. E vai travar um grande combate contra as propostas do Governo de ataque à legislação laboral, em particular, à contratação colectiva, em que se inclui uma audição parlamentar a realizar no dia 24 de Junho. E, consciente da necessidade da convergência e unidade no combate a esta política e na afirmação de uma alternativa patriótica e de esquerda, vai propor encontros com forças políticas e sociais e participar em acções de convergência com outros democratas e patriotas.

São muito duros os tempos que vivemos, mas a hora é de luta e confiança. Como diz o povo, «alcança quem não cansa». Da intensificação da luta de massas, do reforço do Partido, da convergência com outras forças sociais e políticas e outros democratas e patriotas depende a ruptura com esta política e a alternativa que se impõe. Para os que não se cansam, mais tarde ou mais cedo, esse momento chegará.