Declaração de Jerónimo de Sousa

Condenação clara da política das troikas

Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, na declaração que proferiu no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, já depois das 22 horas, valorizou o resultado da CDU – o mais expressivo dos últimos 25 anos para o Parlamento Europeu –, garantindo que ele constitui um factor de confiança para afirmar a necessidade e a possibilidade de abrir caminho à construção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda.Já o resultado obtido pelos partidos do Governo representa uma «contundente condenação» da sua política, tendo o Secretário-geral do PCP anunciado, na ocasião, a apresentação de uma moção de censura.Transcrevemos em seguida, na íntegra, a declaração de Jerónimo de Sousa.

LUSA

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O aumento da expressão e influência eleitorais da CDU – passando de 10,7 para mais de 12 por cento – e o aumento do número de mandatos com a eleição do terceiro deputado (tão mais valorizável quanto obtido no quadro da redução do número total de deputados portugueses) constitui um dos mais significativos êxitos eleitorais da CDU para o Parlamento Europeu, a mais expressiva dos últimos 25 anos. Constitui, simultaneamente, um factor de confiança para afirmar não só a necessidade mas também da possibilidade de, pelo reforço da CDU, abrir caminho a uma política alternativa, patriótica e de esquerda, que rompa com a política de direita que há décadas PS, PSD e CDS têm imposto ao País.

O resultado da CDU que é, antes de mais, a vitória da confiança e da esperança sobre a desistência e o fatalismo, uma vitória da verdade sobre a mentira, uma clara afirmação da vontade popular e da sua força para tomar nas mãos a construção de um futuro melhor e mais digno. Um resultado que, confirmando o avanço eleitoral em sucessivos actos eleitorais, é também expressão da contribuição dada pela CDU, com a sua votação mas também com o seu esclarecimento e mobilização, para a pesada derrota que os partidos do Governo, PSD e CDS, sofreram nestas eleições.

Censura ao Governo e à política de direita

Os resultados agora conhecidos confirmam uma inequívoca derrota dos partidos do Governo e uma contundente condenação da sua política. Um resultado que expressa no plano eleitoral o indisfarçável isolamento político e social do Governo PSD/CDS-PP, para o qual a luta dos trabalhadores e do povo português e a intervenção coerente das forças que integram a CDU deram a mais decisiva contribuição.

Dando expressão à corrente de condenação do Governo e da política da troika, o PCP anuncia hoje – após informação às componentes da CDU – a sua decisão de apresentar uma moção de censura ao Governo. Uma censura a uma política e uma prática de permanente confronto com a Constituição da República, de afronta à lei e de comprometimento do normal funcionamento das instituições.

Uma moção de censura que é também uma censura e uma condenação à política da troika e às manobras para manter por outra via, agora pelo Tratado Orçamental que PS, PSD e CDS impuseram e apoiam, o mesmo rumo de exploração, empobrecimento e dependência. Uma moção tão mais actual e imperiosa quanto não só se avolumam nos últimos dias, ao arrepio de toda a propaganda sobre o milagre económico e a tal «saída limpa», dados que confirmam o rumo de desastre económico (endividamento, défice orçamental, exportações) como o Governo se prepara para numa «fuga para a frente» desencadear um novo assalto a salários e direitos como o Documento de Estratégia Orçamental confirma.

A dimensão da derrota do PSD e do CDS-PP – a mais baixa votação de sempre obtida por estes partidos – não deixa margem para outra leitura que não seja a de uma clara censura do povo português e de uma inequívoca afirmação nacional de exigência de demissão do actual Governo e dissolução da Assembleia da República. Não há mão protectora de Cavaco Silva que dê legitimidade e credibilidade política a este Governo. A expressiva condenação política agora verificada não deixa ao Presidente da República, por maior que seja a sua cumplicidade com o rumo de desastre nacional, outra decisão que não seja a da convocação de eleições antecipadas como a única saída digna e democrática que a situação do País reclama.

Mais fortes e mais confiantes

A CDU saúda os milhares de portuguesas e de portugueses que, com o seu voto, deram uma contribuição decisiva para o importante reforço eleitoral da CDU. A todos quantos confiaram como sempre o seu voto na CDU, a todos quantos pela primeira vez (incluindo muitos milhares de jovens) deram o passo de transformar o seu apoio e reconhecimento pelo percurso de seriedade e coerência em expressão de voto, a todos eles reafirmamos o nosso compromisso de sempre de honrar a palavra dada, de intervir em defesa dos trabalhadores e do povo, dos seus direitos e aspirações.

A força maior com que saímos destas eleições é a força acrescida com que todos podem contar para estar ao seu lado na defesa dos seus interesses, para lhes abrir uma janela de confiança que sim é possível derrotar esta política. Sim, saímos mais fortes e maior será a confiança na possibilidade de avançar e tornar mais próxima a ruptura com a política de direita e a construção de uma política alternativa patriótica e de esquerda.

Sim, saímos determinados para com a voz da CDU reforçada no Parlamento Europeu dar mais força à defesa dos interesses do povo e do País, contra as imposições do grande capital, do euro e da União Europeia.

Sim, daremos com este resultado, expressão mais genuína das muitas razões de luta e de protesto dos trabalhadores e do povo e a expressão consequente de todos quantos quiseram juntar o seu voto à corrente de acção e intervenção, um forte impulso para resgatar para os trabalhadores, para o povo e para o País os salários e rendimentos, os direitos e a soberania roubados.

A CDU saúda ainda particularmente os milhares de activistas da CDU – comunistas, ecologistas e independentes – que, lado a lado, com os candidatos, ergueram a campanha de esclarecimento e mobilização que não só constituiu o factor decisivo para o resultado da CDU como ampliou, na consciência dos trabalhadores e do povo, as razões e responsáveis pela situação do País, os constrangimentos ao desenvolvimento soberano do processo de integração capitalista, a urgência da derrota deste governo e da indispensável ruptura com a política de direita.

A CDU sublinha ainda o significado da condenação da política das troikas. Uma condenação expressa pela redução da expressão eleitoral dos três partidos – PS, PSD e CDS – que subscreveram, apoiaram e se propõem manter o rumo de exploração e empobrecimento, e que no seu conjunto viram a sua votação reduzir-se.

 



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