Jovens exigem futuro no País
A recusa da política que generaliza a precariedade, alimenta o desemprego e impõe à juventude a emigração destacou-se entre as reivindicações colocadas pela Interjovem na manifestação que realizou em Lisboa, no Dia Nacional da Juventude.
Com outra política e outro Governo, os jovens têm presente e futuro em Portugal
O Largo do Carmo foi simbolicamente escolhido para iniciar a manifestação da juventude trabalhadora, a menos de um mês de passarem 40 anos sobre o dia em que o regime fascista foi derrubado e se iniciou a construção da democracia. Ali, a 25 de Abril de 1974, milhares de portugueses vieram apoiar o Movimento das Forças Armadas e acompanhar a rendição de Marcelo Caetano.
Na passada sexta-feira – coincidindo com a data em que, em 1947, terminava a semana da juventude promovida pelo MUD Juvenil e cujas iniciativas foram alvo de repressão feroz, como sucedeu no dia 23 de Março, num festival em Bela-Mandil (concelho de Olhão), e no dia 28, numa reunião na Voz do Operário (Lisboa) e num acampamento em São Pedro de Moel (Marinha Grande) – jovens trabalhadores de todo o País, que no dia-a-dia estão no esclarecimento, mobilização e organização inseridos na Interjovem e nos sindicatos da CGTP-IN, encheram o Largo do Carmo de bandeiras e palavras de ordem.
No percurso que fizeram depois, em manifestação, até à Assembleia da República, foi especialmente repetida (e cantada) a reclamação principal desta e de outras lutas dos últimos tempos: «Está na hora de o Governo se ir embora». Ouviu-se ainda, por exemplo, «Desemprego em Portugal é vergonha nacional», «É preciso que isto mude, emprego para a juventude», «É preciso, é urgente, correr com esta gente». Nos carros de som tocou, mais que uma vez, «Grândola, Vila Morena».
A manifestação foi impedida de subir a Calçada da Estrela, até junto da residência oficial do primeiro-ministro. O comício sindical acabou por realizar-se frente à Assembleia da República, com intervenções de Filipa Costa, dirigente da Interjovem, e de Arménio Carlos. O Secretário-geral da CGTP-IN enalteceu a determinação e o empenhamento dos manifestantes e de todos os demais jovens que hoje participam na vida sindical e nas lutas dos trabalhadores, afirmando a confiança em que, também assim, está assegurado o futuro dos sindicatos e da batalha por um Portugal desenvolvido e soberano.
PCP saúda insubmissão
Jerónimo de Sousa, com uma delegação da direcção do Partido, saudou os manifestantes no Largo António Sousa Macedo, ao fundo da Calçada do Combro, e foi calorosamente cumprimentado por muitos. Para o Secretário-geral do PCP, «esta manifestação de jovens, da juventude trabalhadora, é uma demonstração de insubmissão, de recusa de conformismo e resignação». Numa breve declaração, assinalou ainda que «estão a lutar pelos seus direitos e pelo seu futuro, pelo direito ao trabalho, pelo direito a ter direitos» e realçou que «esta acção da Interjovem tem um grande significado: a juventude não está indiferente, não está conformada, luta pelo seu próprio futuro».
Com Jerónimo de Sousa estiveram Inês Zuber, deputada do PCP no Parlamento Europeu, e João Ramos, deputado do Partido na Assembleia da República.
«Com a força da juventude»
«Temos o direito de viver e de trabalhar com direitos no nosso País! Estamos a construir Abril e Maio de novo, com a força da juventude!» Na resolução aclamada no final da manifestação, a Interjovem frisa que o Dia Nacional da Juventude «foi comemorado hoje, nas ruas de Lisboa, com uma grande manifestação» e que «mostrámos que não ficaram por mãos alheias as exigências que temos, de uma vida melhor dentro do nosso País».
Com esta homenagem aos «jovens antifascistas, jovens trabalhadores e estudantes, construtores da Revolução de Abril», a organização de juventude da CGTP-IN lembrou que «foi a luta destes jovens e de todo o povo que levou, após anos de resistência, à Revolução de Abril e às conquistas que ela nos trouxe».
Na situação presente, «não participar nesta luta ajudaria ainda mais à destruição que este Governo e que os partidos que defendem as medidas da troika querem tornar inevitável». «A nossa luta é inevitável», contrapõem os jovens.
«Levaremos a força da manifestação que construimos hoje para os nossos locais de trabalho, celebrando os quarenta anos do 25 de Abril e do primeiro 1.º Maio livre na rua, exigindo que as conquistas da Revolução de Abril se cumpram», declara-se na resolução, que aponta os grandes objectivos desta luta:
– exigir o fim desta política, a demissão do Governo que a pratica e a recusa de todos os governos que se formem para a praticar no futuro;
– rejeitar as medidas contidas no «memorando de entendimento», verdadeiro programa de agressão à juventude do nosso País;
– pôr fim ao desemprego e à emigração forçada;
– acabar com a precariedade e garantir que a um posto de trabalho permanente corresponda um vínculo de trabalho efectivo;
– reclamar o aumento dos salários, incluindo o aumento imediato do salário mínimo nacional;
– defender horários dignos e que os direitos sociais e laborais sejam respeitados, para que se possa ter vida pessoal e familiar.
A Interjovem e os participantes na manifestação afirmam recusar efeitos graves da política do actual Governo e dos seus antecessores desde 1976, designadamente: mais de 40 por cento dos jovens estão desempregados, cerca de 55 por cento têm que viver em casa dos pais, mais de 38 por cento querem estudar mas não têm como pagar os elevados custos da Educação.
«Não ficaremos calados perante o maior aumento da pobreza que se regista desde a Revolução de Abril», garante-se na resolução, notando que se multiplicam os estudos que dão conta do aumento dos casos de fome e de desnutrição nas famílias, enquanto se continua a promover as ocupações temporárias, o trabalho sem remuneração e a dependência dos mais jovens.
Depois de afirmar ainda que «queremos pôr fim ao encerramento de serviços públicos que são criadores de emprego em vastas regiões» e «são essenciais às populações e aos trabalhadores», a Interjovem traça a alternativa: «Queremos um país desenvolvido e soberano, onde as nossas capacidades sejam reconhecidas, onde o Estado invista na produção nacional, na investigação e no progresso económico que sirva os trabalhadores».