Por mais que o imperialismo clame contra a «ilegalidade» do referendo de 16 de Março na Crimeia e ameace com «sanções, a verdade é que nem os media que deram cobertura ao golpe de estado em Kiev conseguem ocultar que, em contraste com a violência e o terror da praça Maiden, assistimos na Crimeia a uma inequívoca expressão da vontade popular onde (como nas imagens de alegria que nos chegaram da Praça Lénine em Simferopol) é possível ver a esperança de reconquistar muito do que o desaparecimento da URSS destruiu, a par de uma inequívoca rejeição do fascismo que, na Crimeia como por toda a Ucrânia, perpetrou crimes que perduram na memória do povo.
De facto, na incerta evolução da situação na Ucrânia, situação em que não estão excluídos desenvolvimentos muito perigosos para a segurança e a paz, avulta um elemento inquietante que nada pode ocultar: o fascismo avança na Europa. Avança sem disfarce, abertamente, arrogante e provocador, apoiado e organizado pelos serviços secretos «ocidentais» e agindo como força de choque do expansionismo imperialista. E instala-se num governo golpista «pró-ocidental» assente na violência e na perseguição étnica e anticomunista, um governo prontamente reconhecido pela União Europeia que com ele se prepara para assinar o acordo leonino que o legítimo governo recusara. Recusa essa que foi o pretexto para a brutal operação de ingerência e subversão conduzida pelos EUA, NATO e UE, responsável pela grave situação actual, nomeadamente pelos desenvolvimentos que se verificam na parte Leste/Sul da Ucrânia e que levaram ao referendo na Crimeia.
Uma evidência se impõe: o imperialismo não recua perante nenhum crime a menos que a isso seja obrigado pela luta e pela correlação de forças no plano internacional. A sua natureza exploradora e agressiva que está na origem de duas guerras mundiais devastadoras aí está de novo na sua expressão mais terrorista lembrando que o capitalismo traz a guerra como a nuvem traz a tempestade e que, sendo certo que a guerra não é inevitável, a paz só estará assegurada com a liquidação dos monopólios e a abolição dos antagonismos de classe. A luta contra o fascismo e a guerra e a luta pelo progresso social e o socialismo estão estreitamente interligadas.
Nunca é demais repeti-lo: a situação na Ucrânia é inseparável das dramáticas derrotas do socialismo e da cavalgada do imperialismo para Leste que se lhe seguiu. Para consolidar a contra-revolução e explorar a tragédia social e ideológica em que mergulharam povos inteiros, o imperialismo declarou guerra mortal a toda e qualquer resistência à expansão do seu domínio. Da anexação da RDA à destruição da Jugoslávia à bomba, e hoje à Ucrânia, tem valido tudo. Não há lei internacional que não seja rasgada em nome dos «direitos humanos» e do «dever de ingerência humanitária». Violentamente arrancado à Sérvia, o Kosovo continua a ser exemplo particularmente acusador da hipocrisia e do gangsterismo imperialista. É uma evidência que os EUA, a Alemanha/UE e a NATO, arvorados em protectores da «soberania e integridade territorial da Ucrânia», o que procuram é submeter este grande e rico país e apertar o cerco militar à Rússia. Isto sem entretanto esquecer que entre a URSS socialista e a Rússia capitalista e entre o conteúdo das respectivas políticas externas e de defesa vai um abismo que a inevitável resistência do actual poder russo à estratégia do imperialismo para destruir o seu potencial nuclear e apoderar-se das suas imensas riquezas, de nenhum modo pode apagar. Mas sem esquecer também que, como é patente na Ucrânia, os sectores mais reaccionários e agressivos do capitalismo jogam cada vez mais perigosamente no fascismo e na guerra para enfrentar a crise e quebrar a resistência dos trabalhadores e dos povos à sua ofensiva exploradora e agressiva.