Garantia de mudança
Jerónimo de Sousa iniciou a sua intervenção, que encerrou o momento, manifestando «as mais cordiais saudações a todos os presentes, a todas as forças e individualidades independentes que, como nós, dão corpo ao projecto democrático e unitário da CDU, nomeadamente o Partido Ecologista «Os Verdes» e a Intervenção Democrática» e saudou, particularmente, João Ferreira, o primeiro candidato da CDU às eleições do próximo dia 25 de Maio.
Segundo valorizou o Secretário-geral do PCP, a escolha de João Ferreira «dá as maiores garantias, pela sua capacidade e experiência, bem patente no valioso trabalho que tem vindo a desenvolver no quadro da nossa intervenção colectiva no Parlamento Europeu, em defesa dos trabalhadores, do nosso povo e do nosso País, por um projecto alternativo para Portugal e para a Europa e travar, juntamente com as forças que compõem a CDU e os outros candidatos, esta batalha eleitoral com força e a convicção que o grave momento que o País atravessa exige e os portugueses esperam e confiam».
«Este é um primeiro e importante momento da intervenção da CDU para se afirmar na actual situação nacional como condição de defesa dos interesses do povo e do País, para se constituir como contribuição para derrotar este Governo, para animar todos quantos aspiram a uma ruptura com a política de direita e lutam por uma outra política, patriótica e de esquerda», reforçou.
Rumo de desastre
Como não podia deixar de ser e contrariando «a propagando sobre falsos sucessos», Jerónimo de Sousa falou da «real situação do País», vivida por «cada um dos milhões de portugueses», dos que procuram desesperadamente «por um emprego e que está a levar milhares a emigrar», que «roubados dos seus salários e pensões de reforma, se vêem forçados a entregar as suas habitações», ou que «sem apoio e protecção social, passam por dificuldades extremas e engrossam o número dos cerca de três milhões de portugueses lançados na pobreza».
«É esta a realidade social de um país definhado economicamente, sem procura interna e sem investimento, incapaz de assegurar o indispensável crescimento económico. Um país que por opção das suas políticas está a desbaratar recursos e sectores estratégicos, a entregar ao capital transnacional as alavancas que seriam necessárias ao desenvolvimento soberano, submetido ao efeito asfixiante de uma dívida impagável em nome da qual assenta a cruzada da exploração, liquidação de direitos e aviltante alienação de soberania», acusou, lembrando que o actual «programa de agressão, apoiado e estimulado pelas troikas nacionais e estrangeiras», intensificou nos últimos três anos «o rumo de desastre a que sucessivos governos do PS, PSD e CDS conduziram ao longo de 38 anos de política de direita».
«Uma realidade indissociável também das quase três décadas de integração capitalista europeia e da natureza federalista, neoliberal e militarista que a determina», acrescentou Jerónimo de Sousa, antevendo o «agravamento» de todos os problemas, baseando-se nas medidas inscritas no Orçamento do Estado, que vêm «ampliar a política de extorsão e confisco dos rendimentos do trabalho e das populações», enquanto que os responsáveis pela crise no País – o grande capital económico e financeiro – são recompensados com «novas medidas de alívio dos impostos, benefícios fiscais, substanciais lucros do negócio da dívida pública e novas privatizações».
CDU é a alternativa
Quando está quase a terminar o mandato do Parlamento Europeu, «tempo de particular violência sobre os trabalhadores e os povos, aos quais foi imposto pagar uma crise que não é da sua responsabilidade e para a qual nada contribuíram», Jerónimo de Sousa alertou para o facto de, em tempo de eleições, o directório das grandes potências filo-germânico ter decretado como extinta a crise.
«É o regresso momentâneo ao reino das ilusões, ao discurso dos sinais positivos que por cá também conhecemos e do império celestial em construção, onde o futuro assume as cores do sonho da coesão económica e social que todos os dias negam na prática», afirmou, dando como exemplo as declarações proferidas por Jeroen Dijsselbloem, líder do euro grupo e ministro das Finanças da Holanda, que anunciou, para breve, medidas de alívio da dívida e declarou que a Grécia está à beira de regressar ao quadro de honra dos países em recuperação e com direito a uma renegociação especial da dívida, com baixa de juros e prazos de reembolso alargados.
«Ninguém se iluda com essa União Europeia das políticas e dos políticos siameses, dos senhores Dupont & Dupont, da direita e da social democracia, que apenas transpiram mercados por todos os poros, uns e outros a prometerem novos e distintos rumos, mas que acabam sempre de mãos dadas, como na Alemanha agora, a seguirem a mesma rota que o grande capital monopolista impõe, sob o alto comando da senhora Merkel, ou a dar o dito por não dito e a renunciar à tão cantada mudança de rumo e de estratégia, como fez Hollande – a grande referência e a esperança da social-democracia caseira para mudar a Europa –, mas que de tudo abdicou em nome do tal pragmatismo e lucidez que os mercados impõem», salientou o Secretário-geral do PCP.
Esclarecer os portugueses
Em Portugal a estratégia que impera não é diferente do resto da Europa. «Temos um Governo que se constituiu já em comissão eleitoral, na tentativa de, a todo o custo, contrapor às consequências desastrosas da sua política a promessa de um novo e radioso destino para o País e os portugueses», acusou, antevendo pela frente «muito trabalho» de «denúncia e esclarecimento sobre os verdadeiros objectivos das políticas em curso», mas também «das falsas soluções alternativas».
«Os resultados desastrosos da integração capitalista europeia, para lá das suas consequências devastadoras, não iliba os sucessivos governos do PS, PSD e CDS, sozinhos ou aliados, que não só apoiaram as orientações e opções associadas ao processo de integração, como as invocaram para prosseguirem e intensificarem a sua política ao serviço dos interesses do grande capital», referiu Jerónimo de Sousa, rejeitando «quaisquer formas de perpetuação da política de extorsão de rendimentos e recursos nacionais».
A demissão do Governo e a convocação de eleições, bem como o reforço da CDU nas eleições do próximo dia 25 de Maio, constituem, por isso, um factor essencial para a derrota da política de direita.
«O apoio à CDU e o seu reforço são seguramente uma afirmação dos valores de Abril neste ano em que se comemoram os 40 anos da Revolução de Abril. Mas o reforço da CDU e da sua votação, dando expressão e sentido à vontade de todos quantos têm lutado em defesa dos seus direitos, é a mais sólida garantia para dar força a uma política alternativa, patriótica e de esquerda», defendeu o Secretário-geral do PCP, concluindo: «Uma política alternativa para devolver aos portugueses a certeza da confiança de que Portugal tem futuro e que é possível uma outra Europa, dos trabalhadores, dos povos e da sua dignidade e felicidade».