O Messias Francisco

António Roque

Quero ir para o inferno, não para o céu. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e príncipes. No céu, só terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apóstolos.

Maquiavel

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Não há dúvida de que a Igreja surpreendeu o mundo!

A chegada de Jorge Mário Bergoglio ao Vaticano faz parte de uma operação, eclesiástica e leiga, uma espécie de golpe de estado palaciano que tem vindo a amadurecer nos últimos tempos, dirigida por um núcleo de gente da Cúria Romana que se mantém na penumbra e com imenso poder e dinheiro e na posse de informação ultra secreta, que visa dar um novo fôlego a uma Igreja e a uma religião em acentuada e progressiva perda de influência.

Em termos simplistas, diremos que esta operação consiste em renovar o discurso oficial da Igreja mas assegurando que os dogmas da fé, os princípios e a «verdade» bíblica ficarão incólumes. Dito de outra maneira, e como diria o Príncipe de Falconeri, algo terá de mudar para assegurar que tudo fique na mesma.

Lembremo-nos dos escândalos surgidos tempos antes da resignação de Bento XVI, resignação, aliás, que é uma parte importante desta operação, que está longe de estar terminada.

Obviamente Bento XVI era incapaz de levar tal tarefa a bom porto. A sua idade, o seu estado de saúde e, sobretudo, a sua imagem de Papa ultraconservador e reaccionário – que realmente era – incapaz de aproximar fosse o que fosse, não lhe permitiria ter êxito nesta operação de grande envergadura.

Esta tese é fundamentada num facto óbvio do conhecimento geral: A Igreja Católica Apostólica Romana está em franca decadência que se manifesta desde logo na falta de vocações para profissões de natureza eclesiástica, no decréscimo acentuado do número de fiéis, nos actos litúrgicos com cada vez menos assistência e participação e no surgimento de seitas evangélicas ou mesmo de origens pouco transparentes, que lhe disputam com êxito muito crentes.

É uma situação que não sendo nova para a Igreja, tinha que ser tentado o seu estancamento, ou mesmo a sua inversão.

É à luz de tudo isto que devemos interpretar o fenómeno «Papa Francisco», que, aliás, está a resultar muito bem.

Dir-se-ia até que, de acordo com o que vemos, ouvimos e lemos já não é Cristo o redentor e o salvador da Igreja mas o super Francisco.

De facto, ao visitar o Vaticano, para além de beleza ímpar das obras de arte que ali se encontram, que nos extasiam, sentimo-nos também incomodados com todo aquele escandaloso fausto, aquele luxo obsceno e percebemos que o que ali tem acontecido é uma impostura. Aquele lugar alberga um centro de intrigas e corrupção milenares. Os poderosos sempre ali encontraram um fidelíssimo aliado.

Perguntamo-nos legitimamente o que terá isto tudo a ver com Cristo e a sua mensagem.

Desiludam-se! A Igreja não é uma instituição em reformação, não é reformável, nem o quer ser.

Se nos informarmos sobre as suas origens e o seu percurso, concluiremos que a Igreja Romana é a directa herdeira do Império Romano. É uma reminiscência viva desse Império.

Por isso a Igreja de hoje assegura ao poder secular, aos grandes interesses económicos e financeiros mundiais, a dominação, o medo e a ideologização necessária para a perpetuação do status quo desse poder, responsável pelo actual estado do mundo.

Bem nos podem vir dizer que são contra o capitalismo selvagem, querendo com isto dizer que são a favor do capitalismo – como aliás bem tem demonstrado o papado.

Como se fosse possível domesticar o capitalismo!

Não esqueçamos que há anos a Igreja escolheu um Papa para combater pelo capitalismo. De facto, o Papa João Paulo II teve um papel preponderante nesse combate, coadjuvado pelo que viria a ser seu sucessor, o Cardeal Joseph Aloisius Ratzinger.

Em resumo dir-se-á que apesar da simpatia indesmentível do actual Papa – que foi um critério importante na sua eleição pelo que acima se disse – o que de facto se pretende é perpetuar aquele que foi sempre o papel da Igreja Romana: um instrumento do poder para a submissão das massas, assumindo essa função formas diversas ao longo dos séculos nos aspectos espirituais, religiosos, morais, políticos e sócio-culturais, sendo a Inquisição a sua forma mais infamante.

Relembre-se que a Igreja nos seus momentos de aflição foi sempre salva também pelo poder: veja-se a institucionalização do Édito de Milão, a barbárie «cristã» das Cruzadas, os Papas de Avinhão, o Concílio de Trento, Mussolini e o Tratado de Latrão, etc.

Mas voltando ao Papa Peronista Jesuíta, tendo a Europa uma fraude chamada Hollande e os USA uma chamada Obama, faltava-nos mesmo um Francisco no Vaticano.




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