Crise política na Turquia

Erdogan por um fio

Milhares de pessoas voltaram a exigir a demissão do primeiro-ministro turco, cujo governo e partido estão acossados por um escândalo de corrupção que atinge as mais altas esferas do poder.

O primeiro-ministro recusa abrir mão do poder

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Nos dias 27 e 25 de Dezembro, em Istambul, na capital, Ancara, e em Izmir, os manifestantes reivindicaram a demissão de Recep Erdogan, noticiaram a AFP, a agência Firat e a Prensa Latina. Os protestos na principal cidade da Turquia terminaram em confrontos com a polícia de choque, que usou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar a multidão, repetindo, aliás, a repressão desencadeada dia 22, também em Istambul, contra a movimentação popular que tomou as ruas para exigir a saída do primeiro-ministro, informou a Russia Today.

Segundo a Lusa, também no dia 22, Erdogan ameaçou, num comício do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), «partir as mãos a quem ousar fazer-nos mal, semear distúrbios ou preparar-nos armadilhas neste país». Posteriormente, dia 25, o primeiro-ministro anunciou uma remodelação governamental envolvendo dez ministérios, isto após a demissão dos titulares das pastas do Interior, Economia e Ambiente.

Erdogan recusa abrir mão do poder que detém desde 2002 e considera que a investigação judicial em curso é parte de uma conspiração envolvendo forças nacionais e potências estrangeiras. O primeiro-ministro indicou o embaixador dos EUA, Francis Ricciardone, como uma das peças do «complot». Os norte-americanos negam, mas meios de comunicação social locais garantem que Washington estará na disposição de deixar cair um líder cada vez mais incontrolável.

Internamente, Erdogan aponta o dedo à organização liderada por Fetullah Gülen, exilado desde 1999 na Pensilvânia. A Hizmet, até aqui aliada do AKP, mudou de posição depois de o executivo decidir encerrar as escolas privadas que a confraria usa como fonte de financiamento. A Hizmet é uma estrutura influente no corpo repressivo e judicial, e no aparelho burocrático do Estado, assegura o diário Hurriyet.

 

Purga travada

 

Estrebuchando para se manter no topo e enfrentando dissensões entre alguns dos seus deputados, Erdogan só aceitou a demissão do ministro do Interior depois de Muammer Güler iniciar uma purga na polícia, e de o seu governo aprovar um decreto que obrigava os agentes a informarem a hierarquia de novas diligências de investigação e detenção de altas figuras. O Tribunal Constitucional veio, entretanto, declarar a norma ilegal.

No mesmo sentido, o líder do AKP tudo fez para coagir o apuramento judicial. O procurador Muammer Akkas denunciou ter recebido avisos sobre o aprofundamento das investigações, e disse enfrentar a recusa da polícia em cumprir as suas ordens, reportou a Reuters. Em sua defesa veio o Supremo Tribunal, que instou Erdogan a parar de controlar a Justiça.

Desde o dia 17 de Dezembro já foram indiciadas por crimes de corrupção, suborno, desvio de fundos, lavagem de dinheiro e tráfico de ouro, mais de 80 pessoas. 24 foram mesmo detidas, entre as quais figuram os filhos dos três ministros que se demitiram, o presidente do banco público Halkbank, vários burocratas e empresários ligados ao AKP. O filho de Recep Erdogan também é suspeito.



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