Líbia «balcanizada»
O autoproclamado governo da Cirenaica mantém encerrados os principais portos petrolíferos líbios, bloqueio cujo objectivo é forçar Trípoli a reconhecer as autoridades de Benghazi.
A autoridade do Estado esboroa-se
Expirado no domingo o prazo dado ao governo central pelo chefe secessionista, Ibrahim Jathran, para o estabelecimento de um acordo de partilha das receitas da exportação de petróleo, as autoridades de Benghazi mantêm inoperacionais os três terminais ocupados por milícias que lhe são leais.
A situação arrasta-se desde Julho em Ras Lanuf, Sider e Zuetina. Em consequência, as exportações de petróleo líbio caíram de cerca de 100 milhões de barris por dia para pouco mais de 100 mil, colocando o débil gabinete de Trípoli carente de meios para funcionar.
O braço-de-ferro imposto pelos autonomistas da Cirenaica, que criaram já uma companhia de energia própria e exigem, ainda, investigar as vendas de petróleo efectuadas após o derrube do regime liderado por Muammar Kadhafi, tem como objectivo de fundo consolidar a «balcanização» do território. Iniciada a Leste, esta pode estender-se num país onde a autoridade do Estado se esboroa, minada por centenas de brigadas que ditam regras e controlam parcelas à força das armas.
Os independentistas estabeleceram sede em Ajdabiya (ponto nodal das vias de comunicação que ligam o litoral, o interior e o Sul da região), mas os acontecimentos em Benghazi fornecem dados significativos para interpretar a rearrumação de forças em curso. Segundo o jornal alemão Welt am Sonntag, em Setembro, pouco antes da proclamação da autonomia, ter-se-ão reunido na segunda cidade da Líbia, durante três dias, líderes jihadistas da bacia do Mediterrâneo. O encontro terá sido dominado pela discussão da estratégia a seguir, do Norte de África ao Médio Oriente.