Encerramento tormentoso
Dezenas de organizações não-governamentais abandonaram a Conferência do Clima (COP19) antes do seu encerramento, sexta-feira, 22, em Varsóvia. A reunião promovida pelas Nações Unidas, durante duas semanas, reuniu cerca de nove mil representantes oriundos de 195 países.
Estruturas como a Greenpeace, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a Amigos da Terra, a Oxfam, a ActionAid International, entre outras congéneres africanas e latino-americanas, mas também a Confederação Europeia de Sindicatos, decidiram «dar melhor uso ao seu tempo e retirar-se». As organizações esclareceram ainda, em comunicado difundido quinta-feira, 21, citado pela lusa, que «esta conferência, que deveria marcar uma etapa importante na transição para um futuro sustentável, está a traduzir-se em nada».
No documento, os ambientalistas denunciam também que as discussões em torno das alterações climáticas se estão a transformar num negócio, e consideram que o seu conteúdo é determinado pelas grandes corporações, em particular pelo sector energético, informou, por seu lado a Prensa Latina.
Críticas duras, igualmente, quanto ao adiamento das decisões para a conferência a realizar em Paris, em 2015 – facto a que poderá estar associado o anúncio da Venezuela de que, em 2014, na COP que ocorrerá em Lima, no Perú, as organizações e movimentos terão uma participação «activa e directa»; para a falta de acordo quanto ao financiamento, por parte das nações mais desenvolvidas das medidas de redução dos gazes com efeito de estufa nos países subdesenvolvidos, e quanto ao pagamento, até 2020, dos prejuízos provocados naqueles pelas alterações climáticas; bem como quanto ao estabelecimento de metas ambiciosas que substituam as acordadas no Protocolo de Quioto, em 1997, e a sua efectiva concretização.
União Europeia, EUA, Japão (que inclusivamente anunciou que irá rever em baixa as metas estabelecidas) ou Austrália, recusam-se a pagar o fundamental da factura e argumentam que os países em vias de desenvolvimento, casos da China ou da Índia, têm de pesar mais na comparticipação. Estes, por seu lado, defendem que tal seria uma distorção da realidade com o propósito de colocar um garrote à sua industrialização e ao desenvolvimento das regiões subdesenvolvidas.
Insólitos e responsáveis
A COP19 ficou ainda marcada por insólitos e factos que revelam quem são os responsáveis pela degradação do planeta e quem obstaculiza a sua inversão. Na quarta-feira, o ministro do Ambiente anfitrião, o polaco Marcin Korolec, foi demitido. Segundo o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, a remodelação prende-se com a necessidade de dar um novo fôlego a um governo em franca queda de popularidade.
Em paralelo com a COP19, realizou-se, em Varsóvia, a Cimeira Mundial do Carvão, encontro promotor da utilização daquele mineral contaminante, apontado como responsável por boa parte das emissões de gazes que se supõe que provoquem as alterações climáticas. A Polónia é um dos maiores exportadores e utilizadores de carvão. A Agência Internacional de Energia nota que a utilização de carvão na indústria e na produção de energia (é, aliás, a maior fonte mundial de produção de calor e energia) tinha, em 2011, uma quota de emissão de dióxido de carbono de 44 por cento.
Simultaneamente, o Instituto de Responsabilidade Climática (IRC), com sede no Colorado, EUA, divulgou um estudo no qual calcula que cerca de metade das emissões de gazes nocivos para o meio ambiente, desde 1751, foram realizadas nos últimos 25 anos. O IRC responsabiliza 90 multinacionais, 83 das quais ligadas à extracção e produção de hidrocarbonetos e carvão, e as restantes sete à indústria de cimento.
Acompanhando a denúncia, as ONG, por seu lado, publicaram uma lista dos 89 bancos mundiais que mais investiram na indústria do carvão. Só entre 2005 e 2013, foram mais de 118 mil milhões de euros. Mais de 70 por cento do investimento foi feito por 20 entidades financeiras norte-americanas, britânicas, francesas, suíças e chinesas, surgindo na dianteira o CitiBank, Morgan Stanley, Bank of América, JP Morgan Chase, Deutsche Bank, Crédit Suisse, Industrial Bank of China, Royal Bank of Scotland, Bank os China e BNP Paribas, UBS, Barclays, China Construction Bank, HSBC, China Development Bank, Mitsubishi UFJ, Standard Chartered, Crédit Agricole e Goldman Sachs.
Entre 2000 e 2012, a produção de carvão aumentou 69 por cento, atingindo, no ultimo período, um recorde de extracção anual de 7,9 mil milhões de toneladas métricas.