UM CONGRESSO DE LUTA

«O Congresso foi mais um ponto de partida para a luta que a situação do País exige»

Como era expectável, o Congresso «Álvaro Cunhal – o Projecto Comunista, Portugal e o Mundo de hoje» constituiu um momento alto do programa das comemorações do Centenário, marcadas desde o início do ano pela realização de um vasto e diversificado conjunto de iniciativas.

Na saudação proferida na sessão de abertura, o Secretário-geral do PCP, referindo-se ao homenageado, declarou que «com este Congresso e na multiplicidade de olhares que permite sobre a sua obra, o seu percurso e luta, havemos de colher todos nós, estou certo, ensinamentos que nos enriquecerão e fortalecerão a luta por um mundo melhor e mais justo». E sublinhando, incisivo, que a riqueza e a dimensão da obra e do exemplo de luta de Álvaro Cunhal não deixam de fora «praticamente nenhum dos domínios essenciais do combate dos que não se contentam apenas em interpretar o mundo, mas que assumem o compromisso de o transformar», o camarada Jerónimo de Sousa acentuou que desse precioso legado emerge, igualmente, a noção do papel decisivo quer do Partido, quer da luta organizada das massas trabalhadoras visando um projecto de desenvolvimento ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País e pela independência nacional. Quer isso dizer que a obra, a vida, o exemplo de Álvaro Cunhal constituem fontes de força essenciais, quer para o sempre necessário combate pelo reforço do PCP, quer para a intervenção do «nosso grande e fraterno colectivo partidário» hoje, na luta dos trabalhadores e do povo contra a política das troikas e a sua acção devastadora, e por uma política ao serviço de Portugal e dos portugueses.

Entretanto, as comemorações do Centenário prosseguem em todo o País – e também em vários outros países – e assumirão expressão relevante no comício que terá lugar no dia 10 de Novembro, na Praça do Campo Pequeno – espaço historicamente ligado a grandiosas realizações do PCP, muitas das quais contaram com a presença do camarada Álvaro Cunhal.

Assim, o Congresso do passado fim-de-semana, porque constituiu como que um carregar de baterias para os militantes e simpatizantes comunistas, foi mais um ponto de partida para a luta que a situação do País exige.

Num cenário que continua marcado pelo impacto mobilizador das históricas marchas por Abril do dia 19, em Lisboa e no Porto, são grandes as perspectivas de desenvolvimento da intervenção das massas trabalhadoras e populares. E que a luta organizada dos trabalhadores é a que o grande capital mais teme, vê-se pela forma como ela é atacada, menorizada, desvalorizada, pelo matilha de comentadores e analistas de serviço, os quais não têm tido mãos a medir, nos últimos dias, na repetição da estafada cassete da «inutilidade da luta» e de outras propagandices da mesma família.

Gostariam todos eles – os que comentam e analisam e os que lhes pagam para isso – que os trabalhadores baixassem os braços e deixassem avançar, à vontade e sem obstáculos, a ofensiva de terrorismo social da política das troikas. Mas não foi assim ao longo dos trinta e sete anos de política de direita; nem será assim nos tempos que aí vêm – nestes tempos em que a necessidade da intensificação dessa luta organizada se apresenta como questão essencial para impedir o afundamento de Portugal e conquistar um rumo de progresso, desenvolvimento e justiça social.

Registe-se, por isso, a expressiva participação de trabalhadores na greve dos CTT (greve fortíssima e, por isso, tão silenciada e ocultada pelos media dominantes…) – e assinalem-se as muitas lutas anunciadas para os próximos dias (trabalhadores da Administração Pública, dos Transportes, etc., etc.), bem como a concentração convocada pela CGTP-IN para a Assembleia da República, amanhã, 1 de Novembro, dia em que ali se procederá à votação na generalidade do Orçamento do Estado para 2014.

Um OE que contará, obviamente, com o voto contra dos deputados comunistas, e cuja rejeição e denúncia do seu conteúdo predador deverá ser objecto da acção das massas trabalhadoras e populares. Deste Orçamento do Estado, verdadeiro instrumento da política de direita, só há que esperar mais malfeitorias e mais atentados às condições de trabalho e de vida da imensa maioria dos portugueses. O que este OE aí traz é mais um brutal aumento da exploração, tanto para os trabalhadores do sector público como do privado; um assalto ainda mais violento aos rendimentos dos trabalhadores, dos reformados, das famílias portuguesas, provavelmente atingindo sectores e camadas intermédias que até aqui têm sido apoiantes dos governos e da política de direita; mais um passo em frente no afundamento do País; mais ataques e violações à Lei Fundamental do País – mas, naturalmente, mantendo intocáveis, e aumentando até, os privilégios e os benefícios para o grande capital, mandante supremo e beneficiário exclusivo desta política de terrorismo social.

E não é por acaso que a apresentação deste Orçamento do Estado – à qual, desde logo, se sucederam múltiplas manobras de diversão, procurando esconder a brutalidade do seu conteúdo – vem acompanhada de uma nova e intensa ofensiva contra a Constituição da República Portuguesa.

Tudo a confirmar a importância da luta organizada das massas contra este Governo e esta política e por uma política alternativa, patriótica e de esquerda – e a confirmar igualmente que, como temos vindo a sublinhar, na luta por esses objectivos, são os trabalhadores que estão dentro da legalidade constitucional e é o Governo que está fora dela.