O Labirinto

Jorge Cordeiro

Se ponta de mérito fosse possível descortinar deste «diz que disse» e «foste tu e não eu» no rodopio de revelações, remoques e acusações recíprocas entre actuais e anteriores protagonistas desta fraude imensa que dá pelo nome de swaps, foi a de revelar o imenso labirinto de promiscuidade que dá corpo à política de direita e aos interesses de classe que representa.

Deste vai-vem de interessantíssimas afirmações a partir de dentro do actual Governo ou de mais ou menos inflamados esclarecimentos que, à vez, PSD e PS vão exigindo ao outro, que na gíria popular se conhece por «zangam-se as comadres e lá vêm as verdades», emerge a revelação essencial. Esse labirinto imenso que, construído da circulação entre grupos económicos e financeiros e Governo; da partilha de tarefas que a cada um é distribuída para ontem vender ao Estado, negociar hoje e supervisionar amanhã o que vai ser renegociado; do saltitante percurso entre bancos com gestão danosa e a condição de modestos accionistas bafejados por valorizações inesperadas – assegura não só o ciclo de delapidação do erário público como prova que só não é rico quem não quer ou não tem engenho empreendedor.

Aqui chegado é tempo de separar águas. Isto não é coisas de política ou de políticos como à falta de melhor escapatória procuram vender. São ou seriam, na maior parte, casos de polícia associados a uma determinada política e à gestão dos interesses do grande capital e da reprodução ilícita de lucros fabulosos. Casos quase todos eles diluídos no labirinto desta justiça de classe que assegura com êxito – a partir da divisão de funções deste jogo de xadrez (ou no «xadrez» porque popularmente é conhecida a vida atrás das grades) em que a uns (os peões) lá cabe o papel de bode expiatório e a outros (os reis do jogo) o de reconhecido sucesso empresarial – que tudo fica na melhor e dominante ordem que assegura a acumulação capitalista.

Dito isto, talvez agora melhor se compreenda que esta coisa do «arco governativo» por precisão de conceitos teria na expressão «dos que se governam» definição mais rigorosa. Se desta narrativa de labirintos se pode temer alguma perda de norte, previne-se que labiríntico só para quem está de fora porque dos que ali jogam ninguém se perde e todos sabem ao que andam.




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