OS ABUTRES
«O governo cumpre a sua missão de conselho de administração dos interesses do grande capital»
Ficamos mais pobres sempre que a morte leva do nosso convívio e rouba à militância partidária, um camarada – e mais pobres ainda quando se trata de um militante que, como é o caso do camarada Urbano Tavares Rodrigues, pela qualidade da obra que produziu, se afirmou como figura relevante da Cultura e da Literatura portuguesas.
Resistente antifascista várias vezes submetido aos brutais interrogatórios da pide, que sempre enfrentou com coragem e verticalidade exemplares; militante comunista desde esse tempo longínquo da ditadura até ao fim da sua vida; escritor e intelectual prestigiado nacional e internacionalmente; dele guardamos na memória a sua constante disponibilidade solidária e amiga, a sua integração plena no nosso grande, coeso e fraterno colectivo partidário comunista.
Numa entrevista ao Avante! quando da comemoração dos seus cinquenta anos de carreira literária, o Urbano disse a dada altura: «Continuo a reflectir sobre a arte e a ficção, a contar histórias, a amar as palavras (…) e continuo fiel aos meus valores essenciais, a liberdade e a justiça social, que desejo ainda ver harmoniosamente unidas numa sociedade bem diferente da actual.»
Assim fez: escreveu e foi comunista até aos seus últimos instantes de vida, orgulhando-se sempre da sua militância comunista.
Essa militância - sempre importante, sempre decisiva para a afirmação do Partido na luta pelos seus objectivos imediatos e na árdua mas exaltante caminhada rumo ao objectivo supremo da construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados – e que tão necessária é, na situação actual, para o combate à política das troikas, antipatriótica e de direita, e para a conquista da alternativa patriótica e de esquerda pela qual nos batemos.
Como a vida e a experiência nos mostram, não há outro caminho para alcançar esse objectivo que não seja o caminho da luta das massas trabalhadoras e populares, o único que pode levar, e levará, à derrota definitiva do Governo PSD/CDS e da política por ele praticada. Este Governo e esta política que todos os dias afundam mais o País e que todos os dias agravam mais as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do povo. Este Governo e esta política que têm como única preocupação e objectivo, encher os bolsos a uns poucos (os chefes dos grandes grupos económicos e financeiros) e esvaziar os bolsos à imensa maioria dos portugueses: os que trabalham e vivem do seu trabalho, os que, trabalhando, conquistaram o direito a pensões e reformas dignas.
Este Governo que, nas últimas semanas, em grande estardalhaço propagandístico, não se tem cansado de apregoar sucessos inexistentes, nomeadamente em matéria de «emprego» – assim procurando esconder a sucessão infinita de gritantes insucessos.
A verdade é que, como acentuou o Secretário-geral do PCP, no domingo passado, em Vila Real de Santo António, os sinais positivos de viragem no problema do desemprego, apregoados pelo Governo, não conseguem esconder os factos concretos que nos dizem, por exemplo, que o número de trabalhadores no desemprego aumentou em 60 mil do 2.º trimestre de 2012 para o 2.º trimestre de 2013; que, nos últimos dois anos, foram destruídos 387 400 postos de trabalho; que 211 000 trabalhadores foram para o desemprego; que mais de 150 000 trabalhadores, em grande parte jovens, foram forçados a emigrar; que a taxa de desemprego em sentido restrito passou de 12,1 para 16,4 %. Aliás, a natureza de classe desta política e dos seus executantes é bem visível na euforia com que têm vindo a festejar o emprego com salários de miséria – 10 euros diários! – que muitos são forçados a aceitar para sobreviver, e que, certamente, faz as delícias do grande patronato e do Governo seu serviçal, que não pensam noutra coisa que não seja aumentar a exploração e baixar os salários para índices de escravatura.
Neste tempo em que os trabalhadores, o povo e o País são violentamente fustigados por uma política de desastre nacional, uma política de mentiras, de extorsões e de roubos, praticada por autênticos abutres, feitos à medida do conteúdo dessa política, o Governo cumpre a sua missão de conselho de administração dos interesses do grande capital.
Por isso, é ver os governantes a saltar das administrações dos grandes grupos económicos e financeiros nacionais e transnacionais, para os governos; é vê-los, cumprido o turno de serviço aos interesses dos patrões, voltarem à origem, à gamela do dono – sabendo todos eles que, em Portugal, como em todos os países dominados pelo capitalismo explorador e opressor, não há melhor profissão de que a de ex-ministro ou ex-secretário de Estado…
Os tempos que aí vêm são de luta, de muitos e diversificados combates, de grandes e pequenas batalhas.
Como o Avante! nos tem mostrado, a luta dos trabalhadores não tem parado mesmo em tempo de férias, e em muitos casos ela tem conduzido a vitórias – vitórias tanto mais importantes e significativas quanto, como sabemos, elas foram alcançadas frente a um inimigo de classe que usa e abusa da faca e do queijo que o Governo ao seu serviço lhe põe nas mãos.
Como temos dito, nas circunstâncias actuais, lutar, resistir, já é vencer, e a experiência mostra-nos que a luta e a resistência podem proporcionar-nos vitórias decisivas no combate a este Governo e à sua política.
Como afirmou o camarada Jerónimo de Sousa na intervenção acima referida, estamos perante «um Governo em desagregação, isolado socialmente e politicamente ilegítimo, e que, apesar de amparado pela mão protectora de Cavaco Silva, há-de ir ao chão com a luta dos trabalhadores e do povo».
E assim será.