A cidade insolvente dos EUA

Detroit ou o absurdo capitalismo

Com uma dívida de mais de 15 mil milhões de euros, verba que o Orçamento de perto de 1,5 mil milhões da cidade não suporta, Detroit foi-se paulatinamente transformando numa gigantesca ruína.

Detroit não é só uma questão económica é também um problema racial

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As ruas onde outrora alguns ostentavam luxuosos Cadilac da General Motors ou Ford Galaxie, todos eles consumidores por excelência de combustível barato, são agora autênticas lixeiras e palco do tráfico de droga, com a miséria e o crime violento que lhe está associado. Para compor este dantesco cenário, nada mais do que uma gestão corrupta.

Afinal, o esplendor de uma indústria automóvel que fez o furor da cidade nos anos cinquenta, mas que se estendeu até bem mais tarde, e que para ali chamou milhões de operários, que com as suas famílias do Sul ali se estabeleceram, não resistiu ao aumento exponencial do petróleo, conjugado com a forte concorrência estrangeira, sobretudo nipónica. A juntar à crise que provocou despedimentos em massa há uma administração que, para além de ignorar os seus efeitos sociais, foi confiando no gasto argumento do poder equilibrador dos mercados e, nalguns casos, até ajudou, mostrando-se vulnerável ou até mesmo generosa para com a corrupção.

Os grandes patrões da indústria desataram a despedir desalmadamente, a deslocalizar as suas grandes unidades de montagem, abandonando operários à sua sorte. Nos anos 80, onze fábricas saíram de uma assentada para o México, procurando aumentar os seus lucros fazendo depreciar consideravelmente os salários dos seus operários. Dos anos 80 para cá Detroit viu serem reduzidos mais de 90% dos seus postos de trabalho na indústria automóvel. Alguns operários partiram, mas muitos outros, sobretudo famílias inteiras desempregadas, sem condições de partir, foram sobrevivendo na velha urbe. Detroit passou de uma das maiores cidades dos EUA, com cerca de dois milhões de habitantes, para uma cidade que alberga não mais de 700 mil. O desemprego é da ordem dos 22%. Metade da população jovem masculina de Detroit (18 e 35 anos) está presa e 50% da população vive numa situação extrema de pobreza e é iletrada.



Exploração e racismo



A cidade, cujo centro se transformou num gueto de pobreza, crime, violência, tráfico de droga, destruição e miséria, é abraçada por um anel habitacional de gente mais rica, branca. Detroit não é só uma questão social de raiz económica é também uma questão racial. Por exemplo, até ao início dos anos 70, a legislação local impedia a venda de uma casa a um negro ou a um judeu.

Agora, a velha indústria automóvel, designadamente a General Motors e a Chrysler, que há quatro anos havia declarado a insolvência, foi prioridade nas preocupações da administração de Obama. Foram nomeados gestores público, injectado capital e, assim, a indústria regressou aos lucros no exercício corrente, de 1,5 mil milhões de dólares. Porém, com a declarada insolvência da cidade nada de semelhante parece ocorrer com as principais vítimas deste descalabro do capitalismo automóvel, as pessoas. Apesar de ter sido levado à justiça o mayor da cidade, alegadamente envolvido em actos de corrupção e gestão danosa, o efeito da prometida recuperação da cidade vai, mais uma vez, sair dos bolsos dos cidadãos que, enquanto contribuintes desembolsaram para que se recuperasse a indústria e agora vão pagar duplamente a recuperação da cidade, vendo, também aqui, reduzida parte das suas pensões.





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