NECESSÁRIA E POSSÍVEL

«A concretização da alternativa está nas mãos dos trabalhadores e do povo»

O desfile realizado na passada quinta-feira, em Lisboa, constituiu um momento alto da Campanha Nacional «por uma política alternativa, patriótica e de esquerda», que o PCP levou a cabo durante todo o primeiro semestre deste ano. Tratou-se de uma campanha no decorrer da qual as organizações do PCP, em todo o País, levaram por diante um vasto e diversificado conjunto de iniciativas políticas, desde a realização de múltiplas acções de rua com a participação de milhares de pessoas, até à organização de diversos debates nos quais participaram individualidades com opiniões e orientações diversas. Tratou-se de uma campanha que veio dar mais força à luta geral pelo fim da política antipatriótica e de direita e por uma política patriótica e de esquerda, uma luta que conta e contará sempre com a intervenção activa dos militantes comunistas, quer no plano partidário quer no plano unitário; uma luta que prosseguirá o tempo que for preciso até alcançar os seus objectivos – e que, mais cedo do que tarde, os alcançará. Como afirmou o secretário-geral do PCP na intervenção proferida no encerramento do desfile de Lisboa, esta «Campanha demonstrou que a política patriótica e de esquerda pela qual lutamos não só é necessária, como é possível», sendo indispensável, para a concretização dessa possibilidade, que a luta das massas ganhe a dimensão e a força que a hão-de impor como solução de facto para os muitos e graves problemas e dramas que afectam os trabalhadores, o povo e o País, por efeito de trinta e sete anos de política de direita praticada por sucessivos governos PS, PSD, CDS.

E assim será. Porque a luta continua todos os dias, e todos os dias ganha nova amplitude e força nas empresas e locais de trabalho quer do sector público quer do sector privado, nas localidades, nos campos e nas escolas, enfim em todo o lado onde os efeitos devastadores da política das troikas se fazem sentir e, afundando o País, fazem num inferno a vida de milhões de portugueses. Um inferno a que é urgente pôr termo definitivo.

Daí a importância da Greve Geral do próximo dia 27, dia em que, como acentuou o camarada Jerónimo de Sousa, é preciso fazer uma jornada memorável de luta dos trabalhadores e do povo português, para, unindo esforços, vontades e coragens, concretizar os objectivos de pôr fim à vaga de terrorismo social em curso; de rejeitar o predador pacto das troikas; de demitir este governo ilegítimo do PSD/CDS, cuja acção política e legislativa tem sido marcada pela violação constante da Constituição da República Portuguesa; de exigir a convocação de eleições legislativas antecipadas; de construir a alternativa política indispensável para a implementação da necessária política alternativa. Uma política alternativa que, em matéria de combate à vaga de terrorismo social do governo Passos Coelho/Paulo Portas, assuma como princípios fundamentais a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a valorização efectiva dos salários e pensões e o compromisso de reposição de salários, rendimentos e direitos roubados, incluindo nas prestações sociais. Uma alternativa política cuja concretização está nas mãos dos trabalhadores e do povo, na unidade e na convergência das forças, sectores e personalidades democráticas e de todos os patriotas empenhados em lutar pelo rompimento com a política de direita e pela construção da solução que, inspirada nos valores de Abril, terá a Constituição da República Portuguesa como referência e matriz essencial – uma alternativa cuja concretização, como a Campanha Nacional do PCP demonstrou, está na razão directa da intensificação, ampliação e fortalecimento da luta das massas trabalhadoras e populares, e do reforço da influência social, política e eleitoral do PCP.

A urgência na alternativa é tanto maior quanto, como a realidade nos mostra, o governo Passos Coelho/Paulo Portas não descansa na sua tarefa de afundar o País e flagelar as condições de trabalho e de vida da imensa maioria dos portugueses. Veja-se este «programa» acertado com o FMI e que o governo quer concretizar nos próximos dois anos, envolvendo cortes no valor de mais de 4 700 milhões de euros. Obviamente, cortes nos salários; nas pensões e reformas; nos serviços sociais (com mais e mais graves incidências na Saúde, na protecção social e na Educação); nos direitos dos trabalhadores - cortes que, se não impedirmos que sejam aplicados, se traduzirão em mais recessão, mais desemprego, mais dificuldades e dramas para milhões de portugueses, mais afundamento do Portugal.

Sublinhe-se uma vez mais o apoio do Presidente da República a todos estes «programas» predadores dos interesses do povo e do País; a sua identificação total com a política de terrorismo social praticada pelo governo; a sua recusa em assumir o juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.

E registe-se a desfaçatez com que, na intervenção do 10 de Junho, em Elvas – onde se fez acompanhar pelo primeiro-ministro - procedeu à louvação da suposta evolução positiva da agricultura portuguesa nos últimos trinta anos, tendo tido ainda o desplante de situar a origem dessa evolução, vejam bem!, na década em que foi primeiro-ministro – a década da consumação da destruição da Reforma Agrária, a década da liquidação da nossa agricultura por ordem dos patrões da Europa, a troco de milhões em subsídios pagos a quem não produzisse – milhões, dos quais 90% foram entregues a 10% dos agricultores, aos grandes, é claro, atirando para a ruína milhares e milhares de pequenos e médios agricultores.

Em Elvas, Cavaco Silva e Passos Coelho foram vaiados pelo povo. Justamente. Como mereciam.