Exposição evocativa de Álvaro Cunhal em Lisboa foi um grande êxito

Uma visita que milhares jamais esquecerão

Mais de 20 mil pes­soas vi­si­taram a ex­po­sição cen­tral do cen­te­nário de Álvaro Cu­nhal, que es­teve pa­tente no Ter­reiro do Paço du­rante pouco mais de um mês e que en­cerrou no do­mingo: por lá pas­saram mi­li­tantes co­mu­nistas, in­de­pen­dentes e gente dos mais va­ri­ados qua­drantes po­lí­ticos ; per­so­na­li­dades da cul­tura, das artes e das le­tras e anó­nimos; re­sis­tentes ao fas­cismo e com­ba­tentes dos dias de hoje, que de lá saíram mais co­nhe­ce­dores do per­curso e da obra de Álvaro Cu­nhal e do seu Par­tido de sempre, o PCP, e – quando foi esse o caso – mais con­fi­antes na pos­si­bi­li­dade real de trans­formar a vida, mesmo quando tal pa­rece im­pos­sível.
A ex­po­sição po­derá ser vi­si­tada na Festa do Avante! nos dias 6, 7 e 8 de Se­tembro, e, entre 30 de No­vembro e 15 de De­zembro, no Centro de Con­gressos da Al­fân­dega do Porto.

Image 13329

A ex­po­sição «Álvaro Cu­nhal: vida, pen­sa­mento e luta – exemplo que se pro­jecta na ac­tu­a­li­dade e no fu­turo», que ter­minou no do­mingo a sua es­tadia na be­lís­sima Sala do Risco do Pátio da Galé, no Ter­reiro do Paço, saldou-se por um as­si­na­lável êxito. Foi esta a apre­ci­ação trans­mi­tida ao Avante! por Ale­xandre Araújo, José Ca­pucho e Rosa Ra­biais, al­guns dos di­ri­gentes do Par­tido en­vol­vidos nesta re­le­vante ini­ci­a­tiva, que fi­zeram um pri­meiro ba­lanço da ex­po­sição, quando esta ainda es­tava a ser des­mon­tada.

Ale­xandre Araújo, do Se­cre­ta­riado, co­meçou por sa­li­enta que a ex­po­sição des­pertou in­te­resse «não só no Par­tido como em muita gente que, não sendo do Par­tido, a vi­sitou, quer in­di­vi­du­al­mente quer em grupo». Os nú­meros con­firmam esta ava­li­ação po­si­tiva: mais de 20 mil vi­si­tantes em 32 dias. No que res­peita às vi­sitas gui­adas, en­vol­vendo or­ga­ni­za­ções do Par­tido, sin­di­catos, as­so­ci­a­ções, es­colas, os dados são igual­mente sig­ni­fi­ca­tivos, como re­velou Rosa Ra­biais, do Co­mité Cen­tral: quase 2500 pes­soas vi­si­taram a ex­po­sição in­te­grados em vi­sitas gui­adas, mar­cadas pre­vi­a­mente ou no pró­prio local.

José Ca­pucho, do Se­cre­ta­riado, des­tacou também a «grande obra co­lec­tiva» que foi esta ex­po­sição, a qual en­volveu na sua pre­pa­ração e re­a­li­zação cen­tenas de mi­li­tantes e amigos do Par­tido. Desde a re­dacção dos textos e a es­colha das fo­to­gra­fias e ma­te­riais, à ela­bo­ração dos ele­mentos es­cul­tó­ricos, pas­sando pelos muitos mem­bros do Par­tido que ali as­se­gu­raram os ser­viços ne­ces­sá­rios ao fun­ci­o­na­mento (mais de 50 por dia) a mi­li­tância co­mu­nista cum­priu, nesta ex­po­sição como em todas as re­a­li­za­ções do Par­tido, aquele que é o seu papel.

José Ca­pucho e Ale­xandre Araújo su­bli­nharam ainda a ines­ti­mável co­la­bo­ração de ins­ti­tui­ções como a Câ­mara e a As­so­ci­ação de Tu­rismo de Lisboa, a Pe­ni­ten­ciária, o Liceu Ca­mões ou as es­ta­ções de te­le­visão, que ce­deram ima­gens. Al­gumas per­so­na­li­dades não co­mu­nistas deram igual­mente a sua con­tri­buição para o su­cesso da ex­po­sição, par­ti­cu­lar­mente através da par­ti­ci­pação nas ini­ci­a­tivas re­a­li­zadas no au­di­tório. Foram os casos de Ju­dite de Sousa, João Céu e Silva, Ca­ta­rina Pires, Vítor Norte, Paulo Pires, Jo­a­quim Leitão e Joana Ma­nuel, en­quanto que José Fon­seca e Costa, não tendo po­dido estar pre­sente, foi es­sen­cial para que o de­bate em torno do filme «Cinco Dias, Cinco Noites» se re­a­li­zasse.

Razão e emoção

Pas­sada a ex­po­sição, Ale­xandre Araújo va­lo­riza o con­tri­buto que ela deu para um mais pro­fundo co­nhe­ci­mento, em todas as di­men­sões, da fi­gura de Álvaro Cu­nhal. Mas ao per­correr o pe­ríodo de vida de Álvaro Cu­nhal, acres­centou, a ex­po­sição atra­vessou também a his­tória do Par­tido, a his­tória do povo por­tu­guês e da sua luta ao longo do sé­culo XX e início do sé­culo XXI, a que Álvaro Cu­nhal surge in­ti­ma­mente li­gado.

Para o êxito da ex­po­sição, ga­rantiu por seu lado José Ca­pucho, con­tri­buiu também o seu con­teúdo e a qua­li­dade dos ma­te­riais ex­postos, dos textos às fo­to­gra­fias, das es­cul­turas aos ví­deos e aos do­cu­mentos e ob­jectos pes­soais. Se ela, por um lado, re­velou «todo o tra­balho in­te­lec­tual e ar­tís­tico de Álvaro Cu­nhal e con­se­guiu dar uma ideia muito con­creta do que foi a sua vida desde que aderiu ao Par­tido, em 1931, uma vida que se con­fundiu com o pró­prio Par­tido», mos­trou também o «ser hu­mano que tinha a sua fa­mília, a sua vida pes­soal». Assim se con­tri­buiu para des­mis­ti­ficar a visão, di­fun­di­dada por al­guns, de Álvaro Cu­nhal como al­guém «fe­chado» e «frio», pas­sando-se a ver­da­deira imagem de «al­guém que amava a vida e o ser hu­mano, uma pessoa fra­terna e amiga».

Sendo certo, para Rosa Ra­biais, que os vi­si­tantes saíam da ex­po­sição sa­tis­feitos (o que se ve­ri­fica lendo as men­sa­gens que dei­xaram nos li­vros de honra), tal deve-se também à carga emo­tiva que dela per­pas­sava. Havia, entre os mi­lhares que pas­saram pelo Pátio da Galé entre 27 de Abril e 2 de Junho, muitos «ho­mens e mu­lheres in­cóg­nitos que lu­taram na clan­des­ti­ni­dade» e que, ao verem ali pa­tentes di­versos as­pectos da vida de Álvaro Cu­nhal que foram também ele­mentos im­por­tantes da sua pró­pria vida, re­viram-se na ex­po­sição. Também os que ade­riram ao Par­tido após o 25 de Abril sen­tiram «a sua vida toda ali ex­posta. Muitos pro­cu­raram-se nas fo­to­gra­fias, ou a ou­tras pes­soas co­nhe­cidas que com elas par­ti­ci­param na cons­trução do Por­tugal de­mo­crá­tico e, de­pois, na luta de re­sis­tência».

O prelo e as ex­pli­ca­ções de viva voz dos ti­pó­grafos clan­des­tinos e a frase final da ex­po­sição – a que Álvaro Cu­nhal deixou na sua úl­tima von­tade: «A todos de­sejo que, vida fora, re­a­lizem os seus so­nhos» – con­tri­buíram também para esta com­po­nente emo­ci­onal.

Image 13331

Es­crito(s) com alma

«Di­fícil é conter em ima­gens, pa­la­vras, ou mesmo im­pos­sível, toda a ri­queza, a imen­sidão da per­so­na­li­dade, da vida, pen­sa­mento e luta de Álvaro Cu­nhal. Mi­li­tante co­mu­nista, ar­tista, in­te­lec­tual, exemplo ins­pi­rador para os co­mu­nistas de hoje e para o seu povo. A ex­po­sição tem todas estas di­men­sões e deixa-nos a von­tade de saber mais sobre a fas­ci­nante per­so­na­li­dade e vida. Deixa-nos mais: a von­tade de pros­se­guir a sua luta.»

 

«Sim­ples­mente belo!»

 

«Gostei muito da ex­po­sição e vou sempre se­guir os meus so­nhos como Álvaro Cu­nhal disse.» (Alice, 7 anos)

 

«En­trei e es­cutei a frase dita por uma mu­lher mais velha do que eu: “só me ape­tece chorar...”. Sinto ver­gonha por pa­recer tão di­fícil con­ti­nuar o sonho do Álvaro...»

 

«Que os so­nhos se possam re­a­lizar, que nós se­jamos her­deiros mais ho­nestos desta luta e sa­cri­fício, enfim, gra­tidão imensa pelo 25 de Abril na es­pe­rança de que este se venha a cum­prir nos seus mais ge­ne­rosos va­lores.»

 

«Para que a me­mória não se apague e a his­tória não se re­pita.»

 

«”Vi­vemos a trans­formar o sonho em vida”. A frase é tua, ca­ma­rada. Agora é nossa. Lembro-me dela todos os dias.»

 

«Não sendo do par­tido, no en­tanto re­gisto aqui a minha pro­funda ad­mi­ração pelo Dr. Cu­nhal, pelo seu exemplo de vida e co­e­rência.»

 

«Tenho 10 anos e gostei muito do que vi e prin­ci­pal­mente do te­atro in­fantil “Bar­rigas e Ma­griços”. Quando crescer vou de­fender os Ma­griços como Álvaro Cu­nhal.»

 

«É enorme o vazio que ficou e a falta que faz a este povo.»

 

Dos li­vros de honra da ex­po­sição



Mais artigos de: Em Foco

A resposta necessária

Num mo­mento mar­cado por inú­meras ini­ci­a­tivas de re­sis­tência e rei­vin­di­cação, a In­ter­sin­dical con­vocou para 27 de Junho uma greve geral, con­si­de­rando que esta «é a res­posta ne­ces­sária à grave si­tu­ação em que o País está mer­gu­lhado».

Um espaço que deixa saudades

Com a exposição encerrou também o auditório onde, ao longo de pouco mais de um mês, se debateu variados aspectos da obra teórica de Álvaro Cunhal e se valorizou a sua dimensão intelectual, artística e humana. Na última...