Álvaro Cunhal: anos 40

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A frente única da classe operária

«A frente única da classe operária é uma condição indispensável da sua vitória contra a ofensiva do capital e contra a forma mais brutal do domínio de classe da burguesia: o fascismo. A frente única da classe operária é uma condição indispensável dum movimento vitorioso de Unidade Nacional Antifascista. (…)

«É nestas acções de massas operárias, nas lutas constantes, insistentes, multiplicando-se e renovando-se sem cessar, que se realiza de facto a frente única. É nestas acções que os trabalhadores unidos encontram o caminho da luta vitoriosa contra o patronato e o fascismo (…)

«Afigura-se-me, portanto, que hoje nenhum camarada contestará a concepção da frente única do nosso Partido. Isto é: que a frente única operária em Portugal não é realizada por “acordos” entre organizações operárias, mas nas mais variadas formas de luta da classe operária. Que nos pequenos movimentos reivindicativos começou a ser realizada a frente única.»

(Álvaro Cunhal, Unidade da Nação Portuguesa na Luta pelo Pão, pela Liberdade e pela Independência, informe ao III Congresso, 1943)

 

O caminho para o derrubamento do fascismo

«Como considerámos nós a insurreição? Considerámo-la como o levantamento em massa da nação, a ter lugar numa situação de “crise nacional geral”, quando o povo não quer mais ser governado pelo fascismo e quando o fascismo não pode mais governar. Esta é a orientação do nosso Partido e cremos que ela é justa (…)

«Cabe-nos alargar e fortalecer a Unidade Nacional, alargar e intensificar as lutas das amplas camadas da população portuguesa e assim conduzir a nação até ao vitorioso levantamento em massa contra o fascismo.

«Saibamos ser atentos à realidade e à vida. Saibamos ligar toda a nossa acção às necessidades e aspirações das massas populares. Saibamos aferir a cada passo a justeza da nossa orientação, rectificar a cada passo as nossas deficiências e erros e também valorizar e tirar todos os ensinamentos das nossas vitórias.»

(Álvaro Cunhal, O Caminho para o Derrubamento do Fascismo, informe ao IV Congresso, 1946)

 

As greves

«Qual a diferença entre as greves de 1942 e 1943? A diferença fundamental reside em que, ao passo que nas de Outubro-Novembro de 1942, não houve uma acção directiva directa do Partido, não houve um trabalho de organização da greve, e, ainda que tenha sido o Partido a orientar as lutas anteriores e ainda que tenham sido as organizações de base do Partido que, nalgumas empresas decisivas, conduziram a massa à greve, no seu conjunto não houve uma preparação – as greves de Julho-Agosto apresentam o aspecto verdadeiramente novo de serem preparadas, organizadas e desencadeadas pelo Partido, de milhares e milhares de trabalhadores irem à luta à voz do Partido.»

(Álvaro Cunhal, O Caminho para o Derrubamento do Fascismo, informe ao IV Congresso, 1946)

 

Esforço e sacrifício

«O crescimento do Partido desde o I Congresso Ilegal não se tem verificado em condições fáceis. O terror fascista continua procurando desesperadamente aniquilar a nossa organização e os nossos quadros. Militantes são presos e torturados. Alguns dos nossos melhores (Alfredo Diniz, Ferreira Marquês, Germano Vidigal) morreram como heróis. O crescimento da organização do Partido, da sua influência de massas, cimenta-se no esforço e no sacrifício dos seus militantes. Graças a esse esforço e sacrifício o Partido teve grandes progressos de 1943 até hoje e, sob o ponto de vista da organização, atingimos um desenvolvimento que nunca foi excedido na história do nosso Partido.»

(Álvaro Cunhal, informe sobre Organização ao IV Congresso, 1946)

 

Salazar e a reacção mundial

«A política interna e externa de Salazar é comandada pelos cálculos e pelos planos da reacção mundial e dos fomentadores de guerra. Salazar sabe que os regimes fascistas sobreviventes não podem subsistir num mundo que caminha para a democracia. Daí apoiar a política de expansão e intervenção militar dos monopolistas anglo-americanos e os seus sinistros propósitos de desencadear uma nova guerra.»

(Álvaro Cunhal, Unidade, Garantia da Vitória, informe ao Comité Central, 1947)

 

Unidade

«A unidade não se forma apenas pela aceitação comum de objectivos de luta ou pela simpatia geral por um movimento. O movimento da nação contra o fascismo não se cria apenas pela adesão de novos adeptos aos objectivos de luta do Conselho Nacional ou pela solicitação para participar nos organismos do MUNAF e do MUD (…) Mas este movimento só se cria como um verdadeiro movimento da nação, só se fortalece e se desenvolve como força capaz de se opor vitoriosamente ao fascismo, na medida em que não se traduz em organismos mais ou menos numerosos de homens decididos ou antifascistas sinceros, mas em lutas concretas, lutas pertinazes e constantes contra a política do fascismo salazarista.»

(Álvaro Cunhal, O Caminho para o Derrubamento do Fascismo, informe ao IV Congresso, 1946)



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Construtor, defensor, redactor

Álvaro Cunhal – temo-lo dito e escrito repetidas vezes, e com inteira justiça – foi o principal obreiro do PCP como hoje o conhecemos: um Partido revolucionário, marxista-leninista, profundamente enraizado na classe operária e nos trabalhadores e com forte influência noutras camadas antimonopolistas da população. Os alicerces deste edifício situam-se nos anos 40 do século passado, os anos da reorganização do Partido e do III e IV congressos, das grandes greves e jornadas de luta, da construção da unidade antifascista.

Em todo este processo, Álvaro Cunhal teve um papel preponderante e entre as muitas e exigentes tarefas que desempenhou nesta década conta-se a de redactor principal do Avante!, que assumiu durante cerca de cinco anos, em dois períodos.

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