Monti demite-se
O primeiro-ministro italiano, Mário Monti, comunicou ao presidente, Giorgio Napolitano, a intenção de se demitir, depois do ex-primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, e chefe de um dos partidos que suportavam o governo, «Povo da Liberdade» (PDL), ter retirado o apoio ao executivo e anunciado a recandidatura ao cargo.
Berlusconi manipula o povo atingido pela austeridade
No comunicado divulgado pela presidência italiana, afirma-se que Monti procura entre as forças políticas «responsáveis» apoio para aprovar o Orçamento do Estado para 2013 antes de pôr fim a 13 meses de um executivo não eleito e apelidado de tecnocrata, cuja principal missão foi aplicar no país chamada austeridade, aliás, cada vez mais contestada pelo povo.
A cambalhota política, diz-se, está a deixar «os mercados nervosos», que acenam com o contágio da instabilidade transalpina a toda a zona euro. Neste contexto, multiplicaram-se as declarações de apelo ao prosseguimento da receita Monti «sejam quais forem as circunstâncias», desde logo pela aprovação do OE, insistiram, à vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westwrwelle, e Durão Barroso, que em entrevista ao «Il Sole 24 ore» pediu para que «as eleições não se convertam num pretexto para duvidar da inevitabilidade das medidas».
O discurso das inevitabilidades é também o do primeiro-ministro demissionário de Itália, que não desvendando se é candidato nas legislativas que se realizarão previsivelmente em Fevereiro do próximo ano, prossegue a rábula do professor afivelado à missão de assegurar o futuro do país.
Em entrevistas à RAI Uno e ao diário La República, Monti apelou à «maturidade» dos italianos na «avaliação das promessas eleitorais»; defendeu a abordagem europeia à crise afirmando que «seria feliz se conhecesse a receita que garante o salvamento da Itália e, simultaneamente, promove o crescimento económico», e até desvendou um particular familiar, revelando que o seu neto diz chamar-se spread, tantas vezes ouve o avô preocupar-se com o spread pago pela Itália nos «mercados». Tudo isto para concluir que, o que se fizer, ou não, «quem paga são os nossos netos».
Monti, com singeleza construída, assegura também que pretende continuar a influenciar o destino da Itália, declaração que motivou um convite velado de Pier Luigi Bersani, líder do Partido Democrático e candidato do dito centro-esquerda.
Bersani, que já cheira o poder acreditando em sondagens que lhe dão 30 por cento das intenções de voto, diz que Monti terá um papel – aludindo a uma possível candidatura à presidência da República –, mas advertiu-o a ficar de fora da «contenda» com Berlusconi.
Berlusconi quer mudar a Constituição
Quanto ao Il Cavalarieri, horas depois de ordenar ao seu PDL para tirar o tapete ao governo de Monti, anunciou que se recandidata a presidente do Conselho de Ministros de Itália porque «o país está pior do que antes», e, assim, vê-se obrigado a «salvar a Itália, minada pelo desemprego e pelo agravamento tributário», e pelas «políticas de austeridade ditadas pela Alemanha».
Populista treinado, Berlusconi tenta manipular o povo atingido pelo rolo compressor da austeridade, salientando mentiras e meias-verdades. «A diferença entre os juros pagos pela Alemanha e pela Itália é uma invenção para derrotar governos eleitos pelo povo. Nunca tínhamos ouvido falar dela antes. O que é que isso importa às pessoas?», afirmou em entrevista concedida a um dos seus canais de televisão ao mesmo tempo que Monti falava à emissora pública.
As pesquisas eleitorais indicam que Berlusconi já não merece a confiança da maioria dos eleitores italianos, mas é precipitado apostar na derrota de um magnata que controla 90 por cento dos meios de comunicação social do país.
Il Cavalieri está tão seguro de que irá vencer que já começou conversações com os fascistas da Liga Norte para a apresentação de um candidato único ao governo e para a formação de uma maioria capaz de «mudar a Constituição italiana».
O que Berlusconi não diz é que a perda da imunidade e o avanço dos processos que o envolvem em corrupção, abuso de poder e orgias (o afamado bunga-bunga), incluindo com uma menor, contribuem em muito para pretender voltar ao cargo de primeiro-ministro.
Já esta semana, a jovem marroquina Karima El Maghroug, conhecida por Ruby, faltou a uma audiência em tribunal por se encontrar no estrangeiro. Ruby, testemunha considerada irrelevante pela defesa de Berlusconi, não informou quando regressa, mas a sua ausência no julgamento que, desde Abril de 2011, arrelia Berlusconi, é entendida como uma manobra, cujo objectivo é permitir que o ex-primeiro-ministro italiano chegue à campanha eleitoral sem um veredicto quanto à acusação de prostituição de menor e às pressões que terá movido para a libertar, quando, em 2010, a jovem foi detida por furto.