O funcionário

Manuel Gouveia

A ideologia burguesa finge acreditar que a liberdade se garante através dos direitos formais. Há democracia porque há direito a voto. Há liberdade de expressão onde há a liberdade de falar. Assim, o dono de um jornal e um jornalista têm o mesmo poder de comunicação, e um operário e o seu patrão têm a mesma liberdade de falar de política no local de trabalho.

Um mecanismo que se limita a replicar o da própria sociedade capitalista, onde os proletários são tão livres que morrerão de fome e frio se não venderem a sua força de trabalho.

Detentora dos meios de produção, do capital e apropriando-se da riqueza produzida, a burguesia tem naturalmente milhares de funcionários a servir os seus interesses na luta de classes. Homens e mulheres que consciente ou inconscientemente vendem a sua força de trabalho à burguesia como seus combatentes nas diversas vertentes da luta de classes – política, ideológica, económica. Tudo a ideologia burguesa considera natural. E tudo tenta formatar impondo a lei da classe que detém nas suas mãos os meios de produção e o Estado: como o operário, também o polícia e o jornalista que recusam uma ordem ilegítima correm o risco de ser despedidos, e com esse despedimento, de verem colocada em causa a sua sobrevivência.

Tudo é natural na sacrossanta ordem burguesa.

A única abominação, logo denunciada pelos ideólogos do sistema, é que um colectivo de homens e mulheres decida criar uma organização independente da burguesia, e até se atrevam a reunir os meios necessários para que alguns se possam dedicar a tempo inteiro, mas do lado certo, à luta de classes. E contra essa abominação lança a burguesia os seus funcionários.

A independente organização política do proletariado português – o PCP – construiu esse importante corpo de funcionários. Há mais de 80 anos que, ligados ao Partido e às massas, ocupam um lugar central na resistência e luta do povo português. Funcionários que merecem todo o ódio que lhe têm os burgueses e os pequeno-burgueses ao seu serviço – como ficou bem patente este fim de semana.

É que na luta de classes o ódio de uns é o amor dos outros, a dependência do proletariado é a independência face à burguesia!



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