POR UMA FORTE GREVE GERAL

«A greve geral é a ne­ces­sária res­posta das massas à po­lí­tica de di­reita e ao pacto das troikas»

A úl­tima se­mana ficou im­pres­si­va­mente mar­cada, no plano na­ci­onal, por três acon­te­ci­mentos: o anúncio, por parte do Go­verno, de mais uma brutal ope­ração de pi­lhagem aos bolsos e aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo; a apre­sen­tação das mo­ções de cen­sura; e, no plano da luta de massas, o início da Marcha Contra o De­sem­prego e a con­vo­cação da greve geral para o dia 14 de No­vembro.

Lá fora, o acon­te­ci­mento maior foi a re­e­leição do pre­si­dente Hugo Chávez, com cerca de 10 pontos de van­tagem sobre o seu opo­sitor – uma vo­tação que ex­pressa o inequí­voco apoio do povo ve­ne­zu­e­lano ao pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário bo­li­va­riano em curso.

Quanto aos três acon­te­ci­mentos da se­mana na­ci­onal.

no pri­meiro caso tratou-se de um as­salto à mão ar­mada, ao es­tilo da­queles de que é feita a prá­tica normal do Go­verno PSD/​CDS: um roubo or­ga­ni­zado aos mesmos de sempre em be­ne­fício dos mesmos de sempre – a con­firmar que pôr fim a esta po­lí­tica e a este Go­verno, é con­dição in­dis­pen­sável para salvar os por­tu­gueses da mi­séria ex­trema e o País do afun­da­mento total.

No se­gundo caso, es­tamos pe­rante duas mo­ções de cen­sura dis­tintas. Uma, a do BE, de cen­sura ao Go­verno ac­tual – e pronto. Outra, a do PCP, de cen­sura ao Go­verno ac­tual e à po­lí­tica de di­reita pra­ti­cada, desde 1976, pela troika PS/​PSD/​CDS – e agra­vada no úl­timo ano com o pacto de agressão as­si­nado por aqueles três par­tidos e pela troika ocu­pante (FMI/​UE/BCE).

Como se vê, é grande a di­fe­rença entre as duas mo­ções.

Para o BE, todos os males que fla­gelam os por­tu­gueses de­correm do úl­timo ano de go­ver­nação, assim pas­sando uma es­ponja sobre as enormes res­pon­sa­bi­li­dades do PS, quer como ini­ci­ador e exe­cu­tante ac­tivo da po­lí­tica que con­duziu o País ao es­tado em que está, quer como pri­meiro as­si­nante do pacto das troikas e fiel de­fensor da sua apli­cação.

Já a moção do PCP é um texto que vai ao cerne da questão e que, tendo como alvo pri­meiro o pacto de agressão e as suas ter­rí­veis con­sequên­cias, su­blinha o ca­rácter de classe da po­lí­tica de di­reita da troika PS/​PSD/​CDS e o papel dessa po­lí­tica en­quanto ins­tru­mento es­sen­cial da ofen­siva contra Abril e de en­trega do poder ao grande ca­pital na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal, ge­ra­dora do afun­da­mento do País e da dra­má­tica si­tu­ação em que vive, hoje, a imensa mai­oria dos por­tu­gueses. Tratou-se ade­mais, como acen­tuou o Se­cre­tário-geral do PCP, de «uma moção de cen­sura a olhar para o fu­turo que os por­tu­gueses de­sejam e a que têm di­reito», um fu­turo que tem como re­fe­rência pri­mor­dial «os va­lores de Abril e o pro­jecto de pro­gresso que a Cons­ti­tuição con­sagra».

Abs­tendo-se nos dois casos, o PS li­mitou-se a con­firmar que vai con­ti­nuar a ser o que sempre foi: exe­cu­tante fiel da po­lí­tica de di­reita quando está no go­verno e seu fiel apoi­ante quando finge ser «opo­sição» – e é o seu de­sejo de per­pe­tu­ação da po­lí­tica de di­reita que ex­plica o anúncio, feito por Se­guro, de uma pro­posta vi­sando re­duzir o nú­mero de de­pu­tados.

Quanto à greve geral, con­vo­cada pela CGTP-IN na sequência da gi­gan­tesca ma­ni­fes­tação do dia 29, ela é a grande e ne­ces­sária res­posta das massas tra­ba­lha­doras à po­lí­tica an­ti­pa­trió­tica e de di­reita e ao pacto das troikas.

Ela é, também, a ex­pressão con­creta da exi­gência da re­jeição desse pacto e da im­ple­men­tação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

Nesse sen­tido, e para que os tra­ba­lha­dores adiram mas­si­va­mente à greve geral, as­sume uma im­por­tância de­ci­siva o apelo feito pelo Se­cre­tário-geral da CGTP-IN à par­ti­ci­pação de todos os tra­ba­lha­dores, in­de­pen­den­te­mente das suas fi­li­a­ções sin­di­cais e par­ti­dá­rias e das suas op­ções ide­o­ló­gicas e po­lí­ticas. A hora é de cerrar fi­leiras, de unir es­forços, von­tades e co­ra­gens vi­sando o ob­jec­tivo, comum a todos os tra­ba­lha­dores, de pôr cobro à vaga de ter­ro­rismo so­cial em curso e abrir ca­minho a uma po­lí­tica de res­peito pelos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

Daqui até ao dia 14 de No­vembro, há todo um tra­balho de es­cla­re­ci­mento e mo­bi­li­zação a levar por di­ante, de forma a as­se­gurar uma par­ti­ci­pação mas­siva dos tra­ba­lha­dores na greve geral – ob­jec­tivo para o qual o as­si­na­lável êxito da Marcha Contra o De­sem­prego cons­titui um pre­cioso con­tri­buto, bem como as di­versas lutas rei­vin­di­ca­tivas le­vadas a cabo em sec­tores e em­presas, como é o caso da luta dos vi­dreiros em torno das horas ex­tra­or­di­ná­rias.

À ofen­siva de ame­aças, chan­ta­gens e re­pre­sá­lias, com a qual o grande ca­pital e os seus la­caios no Go­verno tentam es­pa­lhar o medo e im­pedir a adesão dos tra­ba­lha­dores à luta, há que res­ponder com as po­de­rosas armas que temos na mão: a or­ga­ni­zação, a de­ter­mi­nação e a uni­dade – sempre em­pu­nhando a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa e sempre de­nun­ci­ando que são eles, os ex­plo­ra­dores e o Go­verno que os re­pre­senta, que estão fora da Lei Fun­da­mental do País.

O co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista, ao mesmo tempo que ocupa a pri­meira fila da luta de massas, pros­segue a sua ac­ti­vi­dade nas múl­ti­plas áreas de in­ter­venção que são exi­gidas a um par­tido que a re­a­li­dade mostra ser uma força in­dis­pen­sável para uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda como pro­jecto de fu­turo, face a um Go­verno e uma po­lí­tica de di­reita que são, cada vez mais, coisas do pas­sado.

Dignas de re­gisto são as ini­ci­a­tivas em que par­ti­cipou o Se­cre­tário-geral do Par­tido, nos Açores, no âm­bito da cam­panha elei­toral, e na Ma­rinha Grande, neste caso com a pre­sença de 700 ca­ma­radas e amigos – para além, na­tu­ral­mente, das exi­gentes e ina­diá­veis ta­refas que se prendem com a pre­pa­ração do XIX Con­gresso. Porque, se é ver­dade que o Par­tido não fecha para Con­gresso, também é ver­dade que o Con­gresso não dis­pensa a in­ter­venção em­pe­nhada do co­lec­tivo par­ti­dário.