Os clubes desportivos enfrentam, no presente, uma séria concorrência da parte de empresas privadas que procuram conquistar os seus sócios, praticantes ou não, através das novas formas de marketing. Trata-se de um sério desafio que o Movimento Associativo deve encarar com seriedade, na medida em que a «mudança» de motivações, práticas e comportamentos é uma realidade bem visível, enquanto a grande maioria dos clubes desportivos mantém imutáveis (ou quase…) os seus tipos de propostas, formas de gestão e de organização.
Como bem se sabe um dos aspectos daquela mudança penetrou na nossa sociedade a partir da década de 80 do passado século, sob a forma da mercantilização de toda a actividade social, cultural e educativa. Tudo passou a ser «objecto de consumo» e os consumidores a constituírem uma ou mais «populações alvo», representando uma «procura» à espera de uma «oferta» adequada.
Claro está que esta visão, imposta por uma campanha maciça oriunda da conceção neoliberal e neo-conservadora da dinâmica social, sempre passou e continua a passar por cima de interesses de ordem individual e colectiva não compatíveis com as formas mercantis de obter lucro, características das empresas. Contudo, sendo os clubes o que são, ou seja os últimos redutos da expressão da solidariedade, do desempenho desinteressado de um serviço de interesse público e de afirmação da equidade social de acesso às práticas, naturalmente que quem possui a capacidade financeira suficiente e se preocupa, antes de tudo, com a sua imagem corporal de acordo com os valores do hedonismo e individualismo que está na moda, prefere os health clubs e outras empresas do mesmo tipo.
Esclareça-se desde já que só temos contra estas empresas a preocupação com a qualidade técnico-pedagógica da sua acção. Como empresas privadas têm toda a legitimidade de constituir um mercado e de o explorar.
Mas tem é de ficar claro que os seus interesses, formas de funcionamento e procura de lucro, nada têm a ver com o clube desportivo em que não existe qualquer preocupação com este último e em que os fundos financeiros obtidos revertem a favor do próprio clube. Nele predomina ainda a preocupação com a convivialidade, a sociabilização, a fraternidade e outros valores humanizadores de que são defensores acérrimos numa sociedade em que a sede do lucro tudo varre, degradando e desvalorizando a vida humana (desde a alimentação até às televisões).
Esta diferença é particularmente visível quando uma organização de negócios em actividade física e lazer, de carácter multinacional, aponta os «10 erros mais comuns cometidos na gestão de ginásios e instalações desportivas» e citamos:
1 - não saber vender como deve ser;
2 - não conseguir estabelecer novos contactos;
3 - não se preocupar devidamente com a retenção (?);
4 - não considerar o ginásio como um negócio;
5 - não utilizar formas de gestão adequadas;
6 - não conceber os procedimentos da forma mais correcta;
7 - não possuir os recursos indispensáveis;
8 - não ter a contabilidade devidamente organizada;
9 - não conceber que a sua empresa tem uma originalidade própria;
10 - acreditar que há formas mágicas de enriquecer.
Naturalmente que de cada um destes pontos decorrem as soluções adequadas que devem ser tecnicamente dominadas. Visando, como é natural, a obtenção do máximo lucro financeiro como acontece com qualquer outro negócio. Inclusive as forma de convívio e de aproximação visam reforçar idêntico objectivo que, como é natural, nada se preocupa com a solidariedade e a equidade no acesso às actividades que propõe.
Evidentemente que uma visão que dá lugar a uma organização deste tipo e com aquelas preocupações só é acessível a uma camada restrita da população e é esta que é visada sendo, no entanto uma minoria. E o resto da população que não possui os meios financeiros para frequentar este tipo de empresa, os campo de golfe e as piscinas privadas dos S.P.A.?
A sua defesa encontra-se nos clubes desportivos de bairro (já que as aldeias são cada vez em menor número). Que será bom reconhecerem que devem alterar as suas preocupações para revitalizar a sua vida interna, abandonando o absurdo da cópia dos grandes clubes desportivos profissionais e a procura da vitória a todo o custo que só degrada quem pratica e agrava a segregação social do acesso.