No limite
Na semana em que a troika estrangeira voltou a Portugal para mais uma avaliação – a quinta – do programa em curso de liquidação do desenvolvimento do País, assistiu-se a uma sucessão de declarações que traduzem bem o desnorte reinante nas hostes da troika nacional. O que se tem dito em Castelo de Vide, onde decorre a «universidade de Verão do PSD», ilustra bem essa realidade.
Certamente não por acaso, as figuras do Executivo primam pela ausência. Dir-se-ia que o PSD optou – não vá o diabo tecê-las... – por se precaver de eventuais questionamentos de «alunos» mais afoitos, deixando aos homens do aparelho a função de ir doutrinando e galvanizando os pupilos até ao acto de encerramento, em que Passos Coelho, fazendo de conta que se dirige para o interior do partido, falará para fora marcando a sua rentrée política. Será uma espécie de fim do retiro de silêncio a que o primeiro-ministro se remeteu nos últimos tempos, seja por estratégia seja por incapacidade de resposta aos problemas que continuam a avolumar-se no País.
A lição de abertura esteve a cabo de Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD, que à falta de melhor inspiração ou por partilhar a convicção do ministro da propaganda nazi Joseph Goebbels de que «uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade», voltou a bater na tecla da «oportunidade» oferecida pela crise aos portugueses. «Olhemos para esta crise como uma oportunidade de dar mais liberdade aos cidadão e menos peso ao Estado, olhemos para esta crise para fazer do empreendedorismo, do investimento seletivo e reprodutivo, das reformas estruturais, no fundo, a criação de um novo modelo de desenvolvimento», disse. O que pensam os jovens presentes desta tese das oportunidades que a crise tece não se sabe. O que se sabe é que a frequência da universidade de Verão vai dando frutos: segundo os próprios organizadores, 10 dos deputados desta e da anterior legislatura passaram por lá, para já não falar de presidentes de Câmara e outros titulares em lugar de destaque, mesmo que o objectivo proclamado seja tão só estimular a «intervenção cívica». Mas como as oportunidades, tal como a crise, não são para todos, até no reduto social-democrata há apreensões quanto ao futuro, como reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa, a quem coube sossegar os jovens, ainda que só no condicional: «Se os líderes europeus tiverem bom senso e solidariedade europeia, há esperança» para sair da crise. E como a principal preocupação parece ser a possibilidade de uma nova revolução – porque será, se tudo está tão bem? –, Marcelo lá foi dizendo não acreditar em tal, embora advertindo para a necessidade de a «democracia representativa se renovar».
Coincidência ou não, Adriano Moreira – antigo ministro de Salazar e histórico do CDS – aproveitou as jornadas de Castelo de Vide para alertar que há um «limite» para a «fadiga tributária que não pode ser ultrapassado», que é como quem diz que mais austeridade pode ter consequências imprevisíveis. Fala a voz de quem, tendo servido a ditadura, a viu cair num dia de Abril às mãos de quem fez das «fadigas» forças.