- Nº 2020 (2012/08/16)

Catílina acabou mal…

Opinião

Cícero, cônsul de Roma antiga, referindo-se a Catílina proferiu um dia a celebre frase «Até quando vais tu, Catílina, abusar da nossa paciência?».

Catílina fingia indignar-se com os privilégios da elite e prometia hipocritamente defender o povo. Mas foi forçado a desmascarar-se.

O pacote laboral que entrou em vigor e que contou com a prestimosa ajuda da UGT e do PS, é a mais monstruosa e sinistra operação de rapina lançada sobre os trabalhadores.

A máscara deste Governo tem vindo a cair. É hoje evidente que não estamos perante uma tentativa de tornar a economia mais competitiva. Se o Governo estivesse preocupado com o relançamento da economia não teria agravado os impostos dos produtos energéticos, determinante para a competitividade. Não permitiria os salários principescos dos administradores das principais empresas do PSI 20, e muito menos o seu aumento, como aconteceu.

Este Governo tomou o poder apresentando-se como «acima de qualquer suspeita». Mas tem ministros que eticamente ficam muito a desejar, tem nomeado para as administrações de empresas públicas toda a camarilha do PSD e do CDS, havendo super-homens que são «campeões de cargos». Não venderia o BPN por menos de 1% do que ele vai custar aos contribuintes, não faria privatizações por preços tão pouco transparentes, não venderia o Pavilhão Atlântico ao genro do Cavaco Silva, não adiaria o processo das PPP,e teria feito mais cortes nas rendas das energias (como aliás a troika tinha exigido: ou afinal há exigências da troika que não são para cumprir?).

Mostrar-se forte com os fracos é tirania, mostrar-se fraco com os fortes é cobardia.

O que este Governo quer fazer é um ajuste de contas ideológico com um povo que um dia se ergueu e teve a coragem de enfrentar o grande capital.

Reduzir ainda mais os salários de trabalhadores, que já vivem abaixo do limiar da pobreza, quando esse nível de pobreza já ultrapassa os 30% da população, é crime que um dia terá de ser julgado.

Catílina foi julgado pelo povo de Roma, e considerado como inimigo público.

Até quando vamos permitir que este Governo abuse da nossa paciência?

Aurélio Santos