Dignidade operária
Os operários siderúrgicos gregos da Helenic Halivurguia decidiram, dia 28 de Julho, em assembleia-geral, suspender a greve que mantinham há nove meses (272 dias consecutivos).
Operários retomaram o trabalho de cabeça erguida
Entraram na fábrica em grupo, de punho erguido e cravo na mão, decididos a continuar a sua luta pelos postos de trabalho e por salários dignos. Retomaram o trabalho com orgulho na heróica luta que mantiveram durante nove meses, afrontando todas as pressões e superando todos os obstáculos.
O seu exemplo de firmeza e espírito de sacrifício suscitou uma onda de simpatia que rapidamente se transformou numa corrente de solidariedade que ultrapassou fronteiras. A sua luta tornou-se invencível, obrigando o governo a tirar a máscara democrática e a fazer uso do último recurso: a repressão.
Em 6 de Junho, um tribunal de Atenas havia declarado a greve «ilegal», mas os operários não se submeteram e aprovaram a continuação da greve.
A situação agravou-se quando, na madrugada de 20 de Julho, sete esquadrões da polícia de choque assaltaram a fábrica, prendendo seis operários que se encontravam no exterior, guardando as instalações durante a noite.
A repressão dos grevistas foi ordenada directamente do primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, que exigiu a aplicação imediata da lei, ou seja, a sentença do tribunal favorável ao patrão George Manessis.
Quando a notícia se espalhou, centenas de trabalhadores acorreram junto à fábrica em apoio aos grevistas. De toda a Grécia foram enviadas centenas de resoluções de solidariedade e condenação da brutal repressão.
Apesar da alteração das condições, os operários insistiram em exercer o seu legítimo direito à greve, resistindo às provocações e à presença ameaçadora dos esquadrões da polícia, que não arredaram pé dos portões da empresa.
No dia 24 de Julho, dezenas de milhares de trabalhadores manifestaram-se em Atenas e em mais 44 cidades, solidarizando-se com a luta dos operários siderúrgicos e denunciando a intervenção da máquina repressiva.
Os grevistas ainda conseguiram manter a fábrica encerrada, mas os pratos da balança desequilibraram-se quando as forças policiais invadiram as instalações e passaram a controlar a entrada.
Uma luta vitoriosa
Na assembleia, realizada dia 28 de Julho, o presidente do sindicato, Guiórgos Sifonios, lembrou que a greve, iniciada em Outubro de 2011, foi a resposta à proposta da administração, que colocou os operários perante o inaceitável dilema: ou se despediam 180 trabalhadores ou se reduzia o horário de trabalho para cinco horas diárias, com a correspondente baixa de salários. «Fizemos o que tinha de fazer qualquer operário que se respeite e respeite a sua classe. Naquele momento, nenhum de nós podia prever que estava a começar uma greve que se tornaria numa das lutas mais brilhantes do movimento operário do nosso país e num ponto de referência a nível internacional.» Depois de recordar algumas das mais de 50 iniciativas organizadas frente às instalações (desde manifestações, concertos, apresentação de livros, festas de Natal e de Ano Novo, etc.), Sifonios respondeu aos que se interrogam sobre os resultados da greve, já que as principais reivindicações não foram alcançadas.
«Nenhuma grande luta se travou ou se travará tendo asseguradas as condições para a vitória, tendo previsto sem erros todas as situações. Na vida não há tais lutas». «Os resultados da luta não se avaliam apenas no plano material. Há lutas que proporcionam muito mais do que os resultados materiais, porque preparam os passos seguintes e as batalhas seguintes da classe operária no seu conjunto». «Esta é a luta dos operários siderúrgicos, é assim que a devemos avaliar».
Lições da luta de classes
Em comunicado, o secretariado executivo da Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) salienta que «a semente lançada à terra florescerá nas novas lutas que eclodirão no período que se segue, porque temos pela frente mais uma tormenta de medidas antilaborais».
Analisando os resultados da greve na siderurgia grega, a PAME recorda que a paralisação começou num momento em que várias fábricas se preparavam para cortar direitos e precarizar o trabalho. «A luta dos operários siderúrgicos deteve temporariamente as tácticas e os planos mais vastos dos empresários». «E mostrou que quando a classe operária decide resistir, a engrenagem não funciona. E quando as fornalhas da fábrica se apagam, os Manessis tornam-se insignificantes. Esta luta lançou uma luz sobre o poder inesgotável e escondido dos operários, quando estes acreditam na sua força e decidem lutar».
Na siderurgia grega, como frisou Guiórgos Sifonios, os operários vão continuar a lutar pela reintegração de 40 camaradas despedidos, opondo-se a qualquer nova contratação que os deixe de fora. E estarão também alerta para responder a qualquer nova tentativa de alterar os horários e salários fixados no contrato colectivo de trabalho, medida que a administração optou tacticamente por retirar.