STIM divulga relato da deslocação a Espanha

Diário solidário operário mineiro

Para manifestar solidariedade aos mineiros espanhóis, em luta pela continuidade da laboração das minas de carvão, uma delegação de representantes dos trabalhadores da indústria mineira deslocou-se, de 10 a 13 de Julho, a Madrid e às Astúrias.

 

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O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, da Fiequimetal/CGTP-IN, tornou público o relatório dessa deslocação. O documento, publicado no sítio da federação na Internet e ilustrado com algumas fotografias, constitui um relato, sem intermediários, de como se viveu este caso recente de solidariedade operária.

A delegação foi constituída por Jacinto Anacleto (coordenador da direcção do STIM), Sérgio Dias e Manuel Inácio (membros da direcção do STIM), e Manuel Bravo (da direcção da Fiequimetal).

A luta dos mineiros das Astúrias, Leão e Aragão, resulta do facto de o governo espanhol, liderado por Mariano Rajoy, ter cortado substancialmente as subvenções do Estado à indústria mineira. Trata-se de um corte de 63 por cento que, a concretizar-se, levaria à exterminação do sector e à destruição de milhares de postos de trabalho directos e indirectos. Após recordar, assim, o contexto em que se realizou a deslocação, o documento descreve o percurso e as actividades em que participou a delegação portuguesa, no que constitui um verdadeiro «diário de bordo».

 

11 Julho - 01h00, Gran Via, Madrid

A delegação portuguesa, entre muitos milhares de pessoas, participou na recepção aos mineiros que integraram a «Marcha Negra», que percorreu mais de 400 quilómetros, desde as Astúrias, Leão e Aragão, até à capital espanhola.

 

11 Julho - 10h00, Plaza Colón, Madrid

Uma hora antes do início da manifestação, já a praça fervilhava de gente, todas as vias de acesso à praça estavam «entupidas» e muitos milhares de pessoas continuavam a chegar ao local de concentração. Centenas de autocarros vieram de todos os recantos de Espanha, especialmente das Astúrias, Leão e Aragão. Os seus ocupantes, com ar alegre e também reivindicativo, esperavam ansiosos a chegada dos mineiros que iriam encabeçar a manifestação.

 

11 Julho - 11h00, Paseo de la Castellana, Madrid

Os mineiros, de capacete na cabeça, colocaram-se em cinco colunas alinhadas por cordas: duas colunas para as Astúrias, outras tantas para Aragão e Laciana e, uma última para os de Bierzo. Iniciaram a marcha ao som da «Santa Bárbara Bendita», canção que não deixou de soar ao longo de todo o percurso – dos altifalantes nos carros de som, dos músicos, que decidiram brindar os mineiros com a sua arte, e das vozes dos milhares de manifestantes que se foram juntando ao protesto.

Durante mais de três quilómetros, pela Avenida Castelhana rumo ao Ministério da Indústria, para além do orgulho mineiro, também se respirava pólvora, que emanava dos muitos petardos atirados nas laterais. Entre outras palavras de ordem contra as medidas do governo de Rajoy, ouviu-se «Esto nos pasa por un Gobierno facha», «Esta es nuestra selección» e também «Viva la lucha de la clase obrera».

Nas faixas laterais da avenida, milhares de pessoas aplaudiam a manifestação.

A delegação portuguesa, em dado momento, ingressou na «cabeça» da manifestação, atraindo a atenção da comunicação social, e deu várias entrevistas. As questões colocadas pelos jornalistas incidiram essencialmente sobre a situação do sector mineiro em Portugal e sobre a situação económica, política e social do País.

A presença da delegação portuguesa foi motivo de grande satisfação para todos, traduzida em constantes aplausos daqueles que, nas laterais da avenida, assistiam ao desfile e traduzida também em palavras de agradecimento dos organizadores e manifestantes.

 

11 Julho - 14h00, Ministério da Indústria, Madrid

A manifestação chega ao palco montado junto ao Ministério da Indústria. Para os mineiros era o culminar da «Marcha Negra», após vinte dias de caminhada.

Ali, começou a notar-se um impressionante aparato policial, com a presença de dezenas de carrinhas da polícia de intervenção – «los antidisturbios». Até à chegada ao Ministério, a presença policial era quase imperceptível.

Ao palco subiram os dirigentes sindicais, que lançaram mensagens de esperança e também de luta. Entre eles encontravam-se os secretários-gerais das Comisiones Obreras e da UGT, Ignacio Fernández Toxo e Cândido Méndez, respectivamente, e ainda Kemal Ozkan, secretário-geral adjunto da IndustriAll Global Union. Os secretários-gerais dos sindicatos organizadores foram precedidos pelo responsável da indústria mineira das CCOO, Juan Carlos Alvarez Liébana, e pelo seu homólogo da FITAG-UGT, Victor Fernandéz.

Os incidentes com a polícia aconteceram já fora do âmbito da manifestação, tendo sucedido, segundo informação divulgada pela própria polícia, na sequência de distúrbios causados por um grupo de «anarquistas».

 

11 Julho - 21h00, Puertas Del Sol, Madrid

Vários grupos de manifestantes juntaram-se, à noite, nas Portas do Sol. Ali, a delegação portuguesa tomou conhecimento da realização de três grandes manifestações, duas junto às sedes do PSOE e do PP, e outra junto ao parlamento.

Nas Portas do Sol o ambiente era de confraternização e camaradagem, saudava-se o êxito da luta desenvolvida e reforçava-se o ânimo para a necessária continuidade. Por um dia, «Madrid foi uma cidade mineira!» – e era exactamente isto que se celebrava.

Mas o capital, através de grupos supostamente anarquistas, tratou de voltar a semear a confusão. Ainda assim, com coragem e determinação, milhares de cidadãos conscientes e com uma atitude progressista retomaram a essência do protesto, e a afirmação de luta continuou pela noite dentro.

 

12 Julho - Mieres, Astúrias

A delegação portuguesa viajou, pela manhã, até Mieres, onde pelas 17h00 foi recebida por uma delegação de dirigentes sindicais locais. Após breve troca de informação, rumaram às minas de Candín e Santiago.

 

12 Julho - 18h00, Pozo de Candín, Astúrias

A delegação contactou com dirigentes sindicais e demais trabalhadores que se encontravam na mina de Candín, em piquete de greve, tendo sido recebida por estes com grande fraternidade e satisfação. A delegação portuguesa transmitiu àqueles trabalhadores, em nome dos mineiros e demais trabalhadores que representa, uma calorosa e fraternal saudação e, em especial, para aqueles quatro trabalhadores que estão encerrados no fundo do poço.

 

12 Julho - 19h00, Pozo de Santiago, Astúrias

Ao chegar ao poço de Santiago, a delegação foi recebida de forma especialmente calorosa. Trocou informações com a organização dos trabalhadores da mina e esteve em contacto com o piquete de greve. Deixou exposta a sua faixa, deu uma entrevista à TVE e esteve com David Villa, futebolista internacional da selecção espanhola, que na hora da luta não renegou as suas origens (filho de mineiro «picador») e esteve e continua a estar com a luta dos operários mineiros.



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