Alguns jornalistas designam esta época do ano como silly season (época tonta), talvez porque os personagens e os assuntos que para os media dominantes são notícia nesta altura estão a banhos.
De facto cabem nessa designação algumas coisas tontas que os jornais vão publicando. Veja-se a entrevista no Expresso de uma destacada figura que já foi do PS, independente pela AD, do PRD, novamente do PS, etc. Tratando-se de uma antologia sobretudo das coisas que esse senhor podia ter sido, tinha todas as condições para ter sido e afinal não foi, poderia passar-se em claro.
Mas que alguém diga enormidades como «desde 1965 que sabia que [Mário Soares] era o verdadeiro líder da oposição democrática», passa as marcas da silly season e entra no reino da asneira. Asneira que prossegue por caminhos bem mais graves do que os da impostura histórica quando a afirmação é que «a ditadura [salazarista] não era fascista, era simpática e querida».
E porque afirma esse senhor que o não era? Simplesmente porque entende que nunca se afirmou como tal. Seria bom que, em homenagem a Pedro Ramos de Almeida, consultasse o seu indispensável livro «Salazar, Biografia da Ditadura». Lá encontraria, por exemplo, a citação de uma entrevista de Salazar a António Ferro, em 1933: «A nossa Ditadura aproxima-se, evidentemente, da ditadura fascista no reforço da autoridade, na guerra declarada a certos princípios da democracia […]». E se adiante afirma alguma diferenciação, é nos «processos de renovação», uma vez que entende que para os mesmos objectivos que os do fascismo italiano não é necessário em Portugal recorrer necessariamente aos mesmos meios. Regime fascista, apoiante e solidário do franquismo e do nazi-fascismo, cuja derrota o fascista cardeal Cerejeira lamentava, em 1944: «os vencidos não são necessariamente criminosos, os vencedores não são necessariamente inocentes». Regime fascista, criminoso e brutal, ditadura terrorista do grande capital e dos latifundiários, os únicos para quem foi, de facto, «simpático e querido».
E, mesmo na silly season, é absurdo que se pretenda apresentá-lo de outra forma.