Bolívia alerta

Pa­ra­le­la­mente ao golpe de Es­tado no Pa­ra­guai, na Bo­lívia as rei­vin­di­ca­ções sa­la­riais dos po­lí­cias estão a ser ma­ni­pu­ladas para im­pul­si­onar o der­rube de Evo Mo­rales, de­nuncia o go­verno. O ce­nário pa­rece re­petir a ten­ta­tiva de der­rube do pre­si­dente equa­to­riano, Ra­fael Correa, em 2010, quando um motim po­li­cial quase de­ge­nerou no as­sas­si­nato do man­da­tário, na al­tura, de­fen­dido pelo povo que abortou a in­ten­tona jun­ta­mente com os mi­li­tares de­mo­cratas.

Na se­gunda-feira, o exe­cu­tivo de La Paz ga­rantia que o diá­logo com os po­lí­cias em torno das suas justas rei­vin­di­ca­ções sa­la­riais pros­se­guia, isto apesar de nas úl­timas horas uma parte dos uni­for­mi­zados ter ele­vado as exi­gên­cias de quatro para 21.

Em con­fe­rência de im­prensa, o vice-pre­si­dente, Álvaro Garcia Li­nera, re­feria-se a uma cons­pi­ração em­pre­en­dida no ter­reno por um pu­nhado de po­lí­cias que pre­tendem fazer con­fluir ma­ni­fes­ta­ções de ca­rácter eco­nó­mico para uma mo­vi­men­tação que nada tem a ver com me­lho­rias sa­la­riais e la­bo­rais, as quais, lem­brou, têm sido aten­didas pelo go­verno li­de­rado por Evo Mo­rales, já que, ex­plicou, só nos úl­timos seis anos os po­lí­cias viram o seu ren­di­mento base au­mentar 42 por cento e o total da massa sa­la­rial em 120 por cento, isto além da cons­trução e re­qua­li­fi­cação de cerca de oito mil es­qua­dras.

Garcia Li­nera ga­rantiu que o go­verno possui gra­va­ções de co­mu­ni­ca­ções via rádio que de­mons­tram que um grupo li­mi­tado de agi­ta­dores dentro das forças po­li­ciais falou em «fa­bricar cock­tails mo­lotov, as­sas­sinar fun­ci­o­ná­rios, queimar do­cu­men­tação, in­vadir es­qua­dras e des­ti­tuir Evo Mo­rales».

O vice-pre­si­dente bo­li­viano des­mentiu, ainda, que os re­pre­sen­tantes dos po­lí­cias no diá­logo te­nham sido for­çados a as­sinar o acordo, acu­sação que, do­mingo, foi vei­cu­lada por al­gumas das fi­guras en­vol­vidas nos pro­testos pro­cu­rando agravar o con­texto de crise. «An­tigos can­di­datos de par­tidos po­lí­ticos, que não são po­lí­cias ou que foram ex­pulsos da po­lícia, en­traram em al­gumas uni­dades, le­van­taram armas e dis­tri­buíram-nas», de­nun­ciou ainda.

O con­flito foi de­sen­ca­deado na quinta-feira à noite com o amo­ti­na­mento de al­gumas uni­dades e a in­vasão, des­truição e saque de edi­fí­cios pú­blicos, como o do Tri­bunal Dis­ci­plinar e dos Ser­viços de In­for­mação da Bo­lívia, e con­ti­nuou quando, no do­mingo à noite, um grupo de po­lí­cias em La Paz, Co­cha­bamba e Ta­rija pros­se­guiu o le­van­ta­mento.

Na se­gunda-feira, a mai­oria das uni­dades po­li­ciais ope­ravam com nor­ma­li­dade, mas não todas, já que nas mai­ores ci­dades do país con­ti­nu­avam os pro­testos po­li­ciais. Na ca­pital, o par­la­mento não es­tava vi­giado e o Mi­nis­tério dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros en­con­trava-se blo­queado. A Uni­dade Tác­tica de Ope­ra­ções Es­pe­ciais per­ma­necia ocu­pada.

En­tre­tanto, o pre­si­dente, Evo Mo­rales, con­si­derou que o pro­pó­sito de certos sec­tores re­ac­ci­o­ná­rios é pro­mover um banho de sangue para, tal como no Pa­ra­guai, dar o tiro de par­tida para um golpe de Es­tado que o des­titua da pre­si­dência.

Já na se­gunda-feira, di­versas or­ga­ni­za­ções po­lí­ticas e so­ciais bo­li­vi­anas ma­ni­fes­taram-se no centro da ca­pital em de­fesa do pre­si­dente e da de­mo­cracia. Cerca de duas cen­tenas de po­lí­cias ata­caram a ini­ci­a­tiva e di­ri­giram-se ao pa­lácio pre­si­den­cial.

Para esta se­mana, es­tava pre­vista a en­trada em La Paz de uma marcha in­dí­gena que tem como mote a ale­gada de­fesa do ter­ri­tório do Parque Na­ci­onal Isi­boro-Sé­cure. O exe­cu­tivo acusa a Con­fe­de­ração dos Povos In­dí­genas do Ori­ente Bo­li­viano de ser ma­ni­pu­lada e fi­nan­ciada, entre ou­tros, pelo go­ver­nador de Santa Cruz, Rubén Costas, prin­cipal rosto de uma ten­ta­tiva de der­rube vi­o­lento do go­verno li­de­rado por Evo Mo­rales ocor­rida em 2008.



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