Mudar de Governo e de política
Os comunistas trouxeram para as ruas a censura ao Governo e à troika
A censura ao Governo não ficou confinada ao hemiciclo da Assembleia da República na discussão e votação da moção apresentada pelo PCP. Ao longo da semana passada, em várias localidades do País, os comunistas fizeram-na transbordar para as ruas do País, em várias acções de contacto com os trabalhadores e o povo explicando as causas que levaram à apresentação da moção de censura e afirmando a necessidade de levar a cabo uma nova política.
Na quinta-feira, 21, ao final da tarde, a baixa de Lisboa tingiu-se de vermelho, com mais de um milhar de militantes e simpatizantes a darem corpo a um vibrante e poderoso desfile de combatividade e afirmação de valores, que nem o jogo da selecção portuguesa de futebol frente à República Checa (que se iniciou pouco mais de um hora depois) conseguiu ofuscar. Empunhando faixas com as principais exigências do Partido, os comunistas e simpatizantes desceram a Rua do Carmo em direcção ao Rossio entoando diversas palavras de ordem: FMI Fora Daqui!; Troika em Portugal só serve ao capital; Abril de novo com a força do povo.
No final, numa breve intervenção muito saudada pelos militantes e simpatizantes do Partido e atentamente escutada por muita gente que por ali passava, Jerónimo de Sousa valorizou as diversas acções realizadas, que fizeram «ecoar por todo o lado essa justa palavra de ordem que afirma “é tempo de dizer basta!” a um Governo e a uma política de empobrecimento dos portugueses e de ruína nacional».
Não baixamos os braços!
Para o Secretário-geral do PCP, com o desfile e a força que dele sobressaiu os comunistas reafirmaram que não estão dispostos a baixar os braços perante as «crescentes injustiças e desigualdades que estão a dilacerar a sociedade portuguesa». Como afirmou Jerónimo de Sousa, «não nos conformamos nem nos resignamos à inevitabilidade de um rumo de afundamento do País a que nos conduz este Governo de Passos e Portas e o pacto de agressão que constitui o memorando preparado e assinado com o FMI e União Europeia pelo governo do PS e subscrito por PSD e CDS-PP».
Mas não é tudo. Os comunistas não deixarão de utilizar «todas as formas de luta e tomar todas as iniciativas que contribuam para travar esta política de desastre nacional e confrontar com as suas próprias responsabilidades todos aqueles que, de forma directa ou indirecta, por acção ou omissão, dão cobertura à concretização de um programa de violenta exploração do trabalho e de extorsão do nosso povo e País».
Assim, para Jerónimo de Sousa, a apresentação da moção de censura era, antes de mais, a «expressão e sequência da luta dos trabalhadores e do povo – a expressão institucional da grande contestação que entre os trabalhadores e o povo tem havido a esta política, a este Governo e ao pacto de agressão». E também «dessa luta que se desenvolve em múltiplas frentes, sectores e empresas e que tem trazido à rua centenas de milhares de pessoas manifestando o seu protesto e uma forte indignação com o rumo que o País segue». Uma moção de censura que, para lá da expressão institucional, se assume essencialmente pela sua dimensão política.
Exigência de mudança
Para Jerónimo de Sousa, para além da condenação da política de direita e de um ano de governação «assente na mentira e mistificação e na exploração do nosso povo», a moção de censura tinha outra componente: a exigência de ruptura com a política de direita que «há décadas compromete a vida dos portugueses e do País». Uma censura que, acrescentou o dirigente comunista, é uma «indispensável exigência de mudança não só de governo, mas de política e de um projecto que não é de desenvolvimento do País, mas de afundamento nacional».
Realçando que «existe uma outra solução para o País» e que o caminho que está a ser seguido «não é uma fatalidade», o Secretário-geral do Partido manifestou a sua convicção de que «é possível uma outra política alternativa, uma política patriótica e de esquerda a pensar no nosso povo e no nosso País e um governo capaz de a concretizar»; uma política «com uma indispensável mudança de governo dirigida à recuperação da dignidade nacional e de respeito pela dignidade dos trabalhadores e do povo».
A política e o governo patrióticos e de esquerda devem, clarificou Jerónimo de Sousa, empreender um programa «assente num novo rumo com uma clara rejeição do pacto de agressão; a renegociação da dívida assente numa reavaliação dos prazos, redução de juros e montantes; no melhoramento das condições de vida dos trabalhadores e do povo; na nacionalização da banca e na defesa do aparelho produtivo nacional; de apoio aos pequenos e médios empresários; no respeito pela Constituição da República e de renúncia às normas do chamado tratado orçamental e a consequente defesa da soberania nacional e da democracia e o direito ao desenvolvimento económico soberano de cada nação».
Arruada em Matosinhos
Dois dias antes, em Matosinhos, o PCP realizou uma arruada no final da tarde, que contou com a presença do membro da Comissão Política do Comité Central Jaime Toga. Após terem sido percorridas as principais artérias do centro da cidade, distribuindo propaganda explicando as razões da moção de censura, os comunistas entoaram palavras de ordem contra a exploração, o empobrecimento e as injustiças sociais, bem como contra toda a política de um Governo que afunda o País e o conduz ao desastre.