Sistema privado de propaganda

Ângelo Alves

Falar de ma­ni­pu­lação da e na co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante não é, in­fe­liz­mente, coisa pouco ha­bi­tual. No plano na­ci­onal temos como mais re­cente exemplo o ver­go­nhoso si­len­ci­a­mento das ac­ções de luta do PCP contra o pacto de agressão que mo­bi­li­zaram de­zenas de mi­lhares de pes­soas, e no plano in­ter­na­ci­onal pon­ti­fica a gi­gan­tesca cam­panha em torno do mas­sacre de Al-Houla para sus­tentar a es­ca­lada be­li­cista contra a Síria. Co­nhe­cemos bem as ra­zões de tais fe­nó­menos. Ra­dicam em pri­meiro lugar na questão da pro­pri­e­dade dos prin­ci­pais media – de­tidos pelo grande ca­pital (na­ci­onal e trans­na­ci­onal) e cada vez mais con­cen­trados em grandes grupos de co­mu­ni­cação. Tal factor de­ter­mina por um lado uma cres­cente ex­plo­ração dos jor­na­listas e per­versão da sua missão de in­formar e, por outro, um cada vez maior en­feu­da­mento ao grande ca­pital, às forças po­lí­ticas que o re­pre­sentam no sis­tema po­lí­tico e ao im­pe­ri­a­lismo.

Mas se fal­tassem exem­plos para com­provar o pro­cesso de trans­for­mação da co­mu­ni­cação so­cial num sis­tema pri­vado de pro­pa­ganda, o que acon­teceu no fim-de-se­mana foi al­ta­mente elu­ci­da­tivo. A mai­oria dos por­tu­gueses não sabe, mas es­ti­veram em Por­tugal, a con­vite do Mo­vi­mento para os di­reitos do povo da Pa­les­tina e para a paz no Médio Ori­ente (MPPM), o em­bai­xador da Pa­les­tina na ONU e o pre­si­dente do Co­mité para os Di­reitos do Povo Pa­les­ti­niano das Na­ções Unidas. Reu­niram com todos os grupos par­la­men­tares e no sá­bado à tarde o MPPM pro­moveu uma im­por­tante sessão com a par­ti­ci­pação dos re­pre­sen­tantes da ONU, onde estes anun­ci­aram o seu de­sejo de no pró­ximo ano Por­tugal re­ceber a reu­nião do Co­mité da ONU para os di­reitos do povo pa­les­ti­niano. O de­bate, onde in­ter­vi­eram des­ta­cadas per­so­na­li­dades de vá­rios qua­drantes po­lí­ticos que ali con­fir­maram a sua so­li­da­ri­e­dade para com a causa pa­les­ti­niana, foi com­ple­ta­mente ig­no­rado e si­len­ciado pela co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante. Porquê? Porque por ali passou não só a so­li­da­ri­e­dade mas também a de­núncia da po­lí­tica as­sas­sina de Is­rael e dos EUA, da hi­po­crisia da União Eu­ro­peia e ainda da gi­gan­tesca ma­nobra de ma­ni­pu­lação que se de­sen­rola em torno da si­tu­ação síria. E isso, mesmo en­vol­vendo a ONU, não pode ter vi­si­bi­li­dade me­diá­tica.



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