História mal contada
O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas, que detém a tutela da comunicação social, considera «pidesco» que um órgão de comunicação social o questione sobre as incongruências detectadas nas suas declarações no Parlamento, a 15 de Maio, a propósito do caso das secretas.
Para quem perdeu o fio à meada deste imblógio que tem as cenas dos próximos capítulos a correr na ERC – a entidade reguladora para os media com um conselho composto por cinco elementos, três dos quais indicados pelo PSD e os restantes dois pelo PS –, cabe recordar: 1 – Relvas começou por afirmar «não ter ideia» de ter recebido 'sms' e 'clippings' do chamado «super-espião» Jorge Silva Carvalho; 2 – Relvas, certamente após um esforço de memória, disse lembrar-se que a primeira notícia que havia recebido do antigo director do SIED respeitava a uma viagem de George W. Bush ao México; 3 – Relvas, puxando pelas meninges, lembrou-se ainda que conheceu Silva Carvalho em 2010, quando era secretário-geral do PSD.
Do que Relvas não se lembrou foi que a viagem de Bush ao México ocorreu em 2007, ou seja três anos antes da data em que afirma ter conhecido o ex-chefe das secretas que lhe mandava 'sms' e 'clippings'.
A discrepância será tudo menos irrelevante para quem tem a tarefa de juntar peças do intrincado puzzle das secretas portuguesas, aparentemente as mais públicas do mundo. Questionado, o ministro encrespou-se, embora não conste que alguém lhe tenha feito a «fatal» pergunta que parece faltar neste quadro: por que consideraria o espião Silva Carvalho ser apropriado dar nota, em 2007, ao então deputado Miguel Relvas, da visita do ex-presidente norte-americano ao México? Mistério.
Seja qual for a resposta a esta e a outras questões que parecem estar por aí a borbulhar – veja-se a recente demissão do adjunto político de Relvas alegadamente por causa das suas relações com o omnipresente Silva Carvalho, e a revelação de que afinal Relvas se encontrou pelo menos três vezes com o referido espião – é pouco provável que o ministro saia incólume de toda esta história ainda mal contada que mistura ameaças, pressões e secretas e o que mais adiante se verá. Já agora, como classificará Relvas quem ameaça jornalistas com a divulgação de dados da vida privada?
Convicção, mas pouca
A quarta visita da troika estrangeira a Portugal para apurar do andamento do caderno de encargos endossado a e assumido pela troika nacional ficou marcada por declarações que parecem anedota. Sendo público e notório que aos candentes problemas do desemprego e da necessidade imperiosa de crescimento da economia nacional troika e Governo disseram nada, Miguel Frasquilho, do PSD, veio dizer que a primeira está a «monitorizar de perto esta situação [do desemprego e da recessão], mas não foram avançadas soluções concretas». Já Mesquita Nunes, do CDS, optou por um discurso mais optimista: «Há a convicção da troika e dos partidos que apoiam o Governo que as reformas estruturais são o caminho para o emprego sustentado». E acrescentou, como se de um seguro se tratasse, que a troika garantiu que «Portugal estará a ultrapassar a fase pior [da crise] e que «já terá superado o ponto mais baixo».
É caso para dizer que nem a si próprios se conseguem convencer.