O Tribunal Supremo italiano chegou à conclusão de que, Sílvio Berlusconi, em vez de se ter conluiado com a máfia, foi afinal «vítima» da organização criminosa.
Num documento com 146 páginas, divulgado dia 25, os magistrados explicam assim a polémica decisão tomada em Março, pela V Secção do Tribunal Supremo, que anulou a condenação de um dos colaboradores mais próximos do ex-primeiro-ministro italiano, o senador Marcello Dell’Utri, sentenciado a sete anos de prisão por associação mafiosa.
Porém, agora, o tribunal de última instância faz uma interpretação totalmente diferente dos factos e, «independentemente dos depoimentos feitos pelos [mafiosos] arrependidos», afirma que Silvio Berlusconi pagou de facto «elevadas somas» à máfia siciliana na década de 70, mas «por necessidade» de se proteger a si próprio e à sua família.
O seu colaborador apenas terá «mediado» a relação. E foi este pacto com a Cosa Nostra que terá também levado Berlusconi a contratar um famoso gangster, Vittorio Mangano, já falecido, como guarda-costas da família.
A argumentação dos juízes não só iliba Dell’Utri, como anula as graves acusações que pesavam sobre Berlusconi neste caso. Dir-se-ia que os consecutivos julgamentos têm tido o inacreditável efeito de recuperar a manchada reputação de il cavaliere, conferindo-lhe uma áurea da mais cândida brancura, que ofuscaria qualquer um, não fosse a maliciosa sabedoria popular dos italianos, logo aventando que, neste sistema, até a inocência se pode comprar quando não falta dinheiro.