DAR VOZ AOS VALORES DE ABRIL

«A luta contra a po­lí­tica de afun­da­mento na­ci­onal das troikas é uma luta por Abril»

Come­mo­ramos mais um ani­ver­sário do Dia da Li­ber­dade num tempo mar­cado pela in­ten­si­fi­cação da fu­riosa ofen­siva contra Abril e as suas con­quistas. Uma ofen­siva que – ini­ciada há trinta e seis anos pelo pri­meiro go­verno PS/​Mário So­ares, e pros­se­guida de então para cá por su­ces­sivos go­vernos com­postos pelos três par­tidos da po­lí­tica de di­reita, so­zi­nhos ou aos pares – as­sume agora con­tornos de um as­salto final a tudo o que a Re­vo­lução de Abril nos trouxe de po­si­tivo, avan­çado, mo­derno e pro­gres­sista.

En­tre­tanto, à troika PS, PSD, CDS que ao longo de mais de três dé­cadas tem vindo a de­vastar o Por­tugal de Abril, juntou-se, de há um ano a esta parte, a troika FMI, UE, BCE – e as duas, de mãos dadas, as­si­naram o te­ne­broso pacto de agressão. Um pacto que, tal como o PCP alertou na de­vida al­tura e a re­a­li­dade con­firmou, veio agravar ainda mais a si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial, pro­vo­cando um maior en­di­vi­da­mento do País; tra­zendo mais de­si­gual­dades e in­jus­tiças; tra­zendo mais de­sem­prego e mais ex­plo­ração; abrindo alas aos au­mentos de­sen­fre­ados de todos os bens es­sen­ciais; rou­bando nos sa­lá­rios, pen­sões e re­formas; au­men­tando a po­breza, a mi­séria e a fome; rou­bando pe­daços sig­ni­fi­ca­tivos da in­de­pen­dência e da so­be­rania na­ci­o­nais; rou­bando di­reitos, li­ber­dades e ga­ran­tias aos tra­ba­lha­dores e aos ci­da­dãos; rou­bando de­mo­cracia à já fra­gi­li­zada de­mo­cracia exis­tente; rou­bando Abril aos tra­ba­lha­dores, ao povo e ao País.

Um pacto que, na­tu­ral­mente, e cum­prindo o seu ob­jec­tivo maior, trouxe mais e mais lu­cros e van­ta­gens e be­nesses aos chefes dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, para servir os quais – e só para isso - as duas troikas existem.

Por tudo isso, co­me­mo­ramos o 38.º ani­ver­sário de Abril em luta: luta pela re­jeição do pacto de agressão e da sua po­lí­tica an­ti­pa­trió­tica e de di­reita; luta por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, ao ser­viço dos in­te­resses de Por­tugal e dos por­tu­gueses, ins­pi­rada nos va­lores da Re­vo­lução de Abril.

 

A Re­vo­lução de Abril foi o mo­mento mais lu­mi­noso da his­tória de Por­tugal. Tempo de ale­gria co­lec­tiva, de povo nas ruas a des­pe­daçar al­gemas e mor­daças, a con­quistar a li­ber­dade, exer­cendo-a, e con­fe­rindo-lhe o seu ver­da­deiro e amplo sig­ni­fi­cado, jun­tando-lhe os di­reitos que a dis­tin­guem da falsa li­ber­dade bur­guesa. Tempo de afir­mação en­tu­siás­tica e cons­ci­ente da de­fesa do in­te­resse na­ci­onal – que é o in­te­resse dos tra­ba­lha­dores e do povo no quadro da in­de­pen­dência e da so­be­rania de Por­tugal. Tempo de início da cons­trução de um tempo novo, de jus­tiça so­cial, de di­reitos hu­manos re­co­nhe­cidos, de paz e so­li­da­ri­e­dade com todos os países e povos do mundo. Tempo da cons­trução da mais avan­çada de­mo­cracia al­guma vez exis­tente em Por­tugal: uma de­mo­cracia eco­nó­mica, so­cial, po­lí­tica, cul­tural e com uma de­ter­mi­nante com­po­nente par­ti­ci­pa­tiva – que viria a ser con­sa­grada na Cons­ti­tuição de Abril, apro­vada em 2 de Abril de 1976.

Com efeito, como afirmou o Se­cre­tário-geral do PCP na in­ter­venção pro­fe­rida em Paço de Arcos, no pas­sado do­mingo, a Re­vo­lução de Abril foi li­ber­dade; foi di­reito ao tra­balho com di­reitos; foi di­reito à Saúde, di­reito ao En­sino, di­reito à Se­gu­rança So­cial; foi a ex­pe­ri­ência his­tó­rica da terra en­tregue a quem a tra­ba­lhava e dos sec­tores es­tra­té­gicos fun­da­men­tais da eco­nomia co­lo­cados ao ser­viço do povo e do País; foi a cons­trução do Poder Local De­mo­crá­tico; foi o fim da guerra co­lo­nial, li­ber­tando ou­tros povos do jugo co­lo­nial e si­mul­ta­ne­a­mente li­ber­tando Por­tugal; foi o fim do iso­la­mento in­ter­na­ci­onal do nosso País…

E se é ver­dade que as fa­mi­ge­radas troikas já des­truíram parte grande dessas con­quistas de Abril, mais ver­dade é que Abril con­tinua vivo e a apontar para o fu­turo do Por­tugal pelo qual lu­tamos, com a cer­teza de que «Abril, os seus va­lores, as suas con­quistas e trans­for­ma­ções hão-de fazer parte do nosso devir co­lec­tivo».

Assim, a luta contra a po­lí­tica de afun­da­mento na­ci­onal das troikas é uma luta por Abril – e é, por isso, uma luta que, com co­ragem, de­ter­mi­nação e con­fi­ança, ven­ce­remos.

 

Luta di­fícil? Sem dú­vida. Mas luta para vencer, se a tra­varmos com a con­vicção e a co­ragem com que mi­lhares de ho­mens, mu­lheres e jo­vens se ba­teram contra a di­ta­dura fas­cista, em con­di­ções bem mais di­fí­ceis do que as ac­tuais – num tempo em que, como hoje, os mi­li­tantes co­mu­nistas ocu­pavam a pri­meira fila da luta.

Da mesma forma que, por exemplo, há cin­quenta anos, di­ri­gíamos e con­cre­ti­zá­vamos a cons­trução do maior 1.º de Maio até então re­a­li­zado, e al­can­çá­vamos a vi­tória his­tó­rica que foi a con­quista das oito horas nos campos do la­ti­fúndio, es­tamos hoje na van­guarda da luta contra a po­lí­tica das troikas, dando o nosso con­tri­buto in­dis­pen­sável nas im­por­tantes ac­ções uni­tá­rias como foram as greves ge­rais, as gran­di­osas ma­ni­fes­ta­ções de massas, as mil e uma pe­quenas e mé­dias lutas tra­vadas nas em­presas e lo­cais de tra­balho e nas lo­ca­li­dades. E ao mesmo tempo, le­vamos por di­ante as nossas ini­ci­a­tivas pró­prias, sempre tendo como re­fe­rência os va­lores de Abril: o es­forço cons­tante vi­sando tornar o Par­tido mais forte; a pre­pa­ração do XIX Con­gresso, mo­mento maior da vida par­ti­dária; as ac­ções de es­cla­re­ci­mento, con­cen­tra­ções, ma­ni­fes­ta­ções e des­files – de que são exemplo as ini­ci­a­tivas mar­cadas para 12 e 26 de Maio, res­pec­ti­va­mente, no Porto e em Lisboa,

Sempre com a cons­ci­ência de que é pela luta que lá vamos.

Lu­tando, com con­fi­ança, der­ru­bámos o fas­cismo e con­quis­támos Abril.

Lu­tando, com con­fi­ança, der­ro­ta­remos a po­lí­tica das troikas e da­remos voz aos va­lores de Abril no fu­turo de Por­tugal.