Repressão alastra
Aos protestos de estudantes e da população da Patagónia, o governo liderado por Sebastián Piñera só responde com força bruta, como ficou provado, uma vez mais, no final da semana passada.
A primeira manifestação deste ano de estudantes e pais no Chile, realizada quinta-feira, 15, terminou com uma autêntica batalha campal no centro de Santiago (EFE), isto depois da polícia de choque ter atacado a multidão que protestava contra as sanções aplicadas aos estudantes envolvidos nas mobilizações do ano passado. Alguns dos alunos foram mesmo expulsos das instituições que frequentavam, denunciam.
Para o presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FESUC), Gabriel Boric, o comportamento das autoridades foi inaceitável, desde logo porque, antes do início da marcha contra a criminalização dos jovens e em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, irrompeu na sede da FESUC procurando intimidar os membros daquela estrutura juvenil.
Já na região de Aisén, na Patagónia, o conflito em torno da gestão soberana dos recursos naturais e da exigência de decréscimo do preço da energia, reclamados pela população, teve, no mesmo período, um brutal desenvolvimento.
Depois de levantarem os cortes de estradas com o objectivo de facilitarem a instalação de uma mesa negocial com o executivo, os representantes do movimento social esperaram em vão pelo ministro da Energia. Rodrigo Álvarez não só não compareceu às conversações na cidade de Coyhaique, como, nesse mesmo dia, enviou diversos contingentes das forças especiais a localidades insurrectas visando castigar as populações pela sua insubmissão.
Segundo informações de agências e órgãos de comunicação social latino-americanos, antes da investida, iniciada de madrugada, as autoridades cortaram o fornecimento de energia eléctrica, telefone e Internet.
Posteriormente, 22 dirigentes e participantes nas acções levadas a cabo nas últimas semanas em defesa da gestão pública e de um maior controlo regional sobre os recursos naturais da Patagónia, foram acusados de crimes contra o Estado.
A lei de que se socorre o governo de Piñera vigorou durante todo o período da ditadura fascista liderada por Augusto Pinochet e representa, neste contexto, mais uma afronta aos habitantes da Patagónia chilena e faz o país retroceder ao tempo em que a repressão e as violações dos direitos humanos eram política oficial.
Para o presidente do Partido Comunista do Chile, Guillermo Teillier, a aplicação da lei é uma aberração política, jurídica e social, uma vez que em Aisén ninguém atentou contra nenhum poder do Estado (Prensa Latina).