- Nº 1999 (2012/03/21)
CGTP solidária com operários da Halivourgia

Resistência e solidariedade

Europa

O Secretário-geral da CGTP-IN enviou uma carta ao primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos, expressando solidariedade com a prolongada greve na siderurgia grega Helleniki Halivourgia, em Aspropyrgos, arredores de Atenas.

Image 9977

Na missiva, enviada dia 14, Arménio Carlos recorda que os cerca de 400 trabalhadores se encontram em greve há cerca de quatro meses e meio e apela ao governo grego para que tome medidas para se encontrar uma solução, suspendendo os despedimentos e cortes salariais na empresa e garantindo o emprego permanente e com direitos aos seus trabalhadores.

«Esta corajosa acção dos trabalhadores siderúrgicos tem lugar num momento em que se desenvolve uma ofensiva contra as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores da Grécia, de Portugal, mas também de outros países europeus, nomeadamente através de pacotes de austeridade impostos pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Central Europeu e pela União Europeia. O exemplo de luta e resistência dos trabalhadores da Halivourgia está a inspirar as lutas dos trabalhadores na Europa e em todo o mundo. Tal como nós em Portugal, estão em luta para defender o trabalho com direitos, condições de trabalho dignas, contra o empobrecimento e as medidas recessivas e por uma mudança de política com crescimento económico e justiça social.»

Manifestando «plena solidariedade aos trabalhadores da Halivourgia e à luta mais geral dos trabalhadores gregos contra a ingerência externa e as medidas anti-sociais», o dirigente da maior central sindical portuguesa apelou ao governo grego para que «intervenha rapidamente para que seja imediatamente reposto o respeito pelos direitos» dos trabalhadores em luta.

 

Uma luta de classe

 

O conflito laboral teve início em 31 de Outubro, quando a direcção da empresa, evocando dificuldades económicas, colocou os operários perante o dilema: ou aceitavam a supressão de 180 postos de trabalho ou todos passariam a trabalhar a tempo parcial, com redução de pelo menos 40 por cento do salário. A resposta foi a greve, já que os operários não estavam dispostos nem a ceder o emprego nem cerca de metade do salário.

A sua determinação foi reforçada com base nos resultados positivos da unidade industrial, que só em 2010 obteve lucros na ordem dos 200 milhões de euros. Além disso, a produtividade aumentou 30 por cento nos últimos anos e o volume da produção de aço cresceu em 70 mil toneladas. Tudo isto sem a admissão de novos efectivos e em boa parte à custa da intensificação dos ritmos de laboração, que provocou inúmeros acidentes de trabalho. De resto, o incumprimento das normas de segurança levou a empresa a ser condenada pelo tribunal, em 2010, com uma pesada sanção pecuniária.

Já no seu quinto mês de greve, mantendo as instalações ocupadas e vigiadas em permanência, os operários estão rodeados por um anel de solidariedade que continua a alargar-se. A ajuda moral dos trabalhadores e da população das redondezas é complementada com auxílio financeiro, que permite aos grevistas sobreviver e garantir o mínimo às suas famílias.

Importante é igualmente a solidariedade internacional. A Federação Sindical Mundial e a União Internacional da Metalurgia e Minas declararam recentemente uma semana de solidariedade com os operários da Helleniki Halivourgia, de 9 a 14 de Abril.

Situada numa cintura industrial de Atenas, onde estão concentradas numerosas indústrias pesadas, designadamente a maior refinaria do país e um importante porto de mercadorias, a greve na Helleniki Halivourgia levou à suspensão de processos semelhantes noutras unidades da região. Os patrões, receando o alastramento das greves, decidiram esperar pelo desenlace da luta na Halivourgia. Não fosse a determinação destes operários, seguramente que novas vagas de despedimentos e a redução de salários já teria afectado muitos milhares de trabalhadores.