E FOI TERREIRO DO POVO
«Uma das mais significativas e maiores jornadas de luta de sempre realizadas no nosso País»
Num momento em que os trabalhadores portugueses, ao apelo da sua central sindical de classe, acabam de erguer uma das mais poderosas jornadas de luta da sua história, o Avante! assinala o seu 81.º aniversário.
Feliz coincidência esta, que permite ao órgão central do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores comemorar o seu nascimento da melhor maneira que era possível nas circunstâncias actuais: informando sobre uma das mais significativas e maiores jornadas de luta de sempre realizadas no nosso País.
Todos sabemos que oitenta e um anos são muitos anos; que são uma bonita idade para qualquer jornal – e muito mais bonita, ainda, se se trata do Avante! que é, em diversos aspectos, um caso singular na história da imprensa portuguesa.
Ele foi o único jornal que não se submeteu à censura fascista e que fez chegar aos trabalhadores e ao povo a informação que o fascismo lhes negava – assim assegurando a liberdade de informação da única forma possível naquele tempo: exercendo-a – e assumindo os riscos que isso comportava: as perseguições, as prisões, as torturas, os assassinatos.
Ele foi, enquanto órgão central do PCP, o grande veículo da organização, da informação, do esclarecimento, da formação ideológica.
Ele foi, como jornal operário, o órgão de mobilização, de consciencialização e de unificação de esforços dos trabalhadores portugueses.
Ele foi o grande jornal da resistência antifascista e da luta pela unidade de todos os que se opunham à ditadura salazarista/marcelista. E de tal forma foi tudo isso que só consultando-o é possível conhecer a história de Portugal no quase meio século de ditadura fascista.
Ele foi, após o 25 de Abril, o porta-voz das massas trabalhadoras, dos seus objectivos, das suas lutas, das suas conquistas históricas – e como tal se mantém, desde que há 35 anos a política de direita ao serviço da contra-revolução, tudo tem feito para liquidar a democracia de Abril e as conquistas dos trabalhadores e do povo.
E cá está, firme no seu posto de combate, fiel à sua condição de órgão central do PCP, olhando para a realidade que é a situação portuguesa actual, apontando as suas causas, combatendo a ofensiva ideológica do capitalismo, informando sobre as lutas e incentivando-as, apontando os caminhos da mudança rumo a uma democracia avançada, ao socialismo, ao comunismo.
As manifestações que, vindas de quatro locais diferentes, convergiram para o Terreiro do Paço e lá se juntaram aos muitos milhares de pessoas que já ali se encontravam, constituem, sem margem para dúvidas, o acontecimento mais relevante da semana que passou, que é, também, um dos mais marcantes da história da luta dos trabalhadores portugueses. Um acontecimento que, pela sua dimensão e impacto, constitui, igualmente, um contributo precioso para o fortalecimento das lutas travadas por trabalhadores de outros países, nomeadamente da Europa.
Tratou-se de uma jornada erguida a pulso, no quadro de uma cerrada barragem de silenciamento antes da sua realização, por parte dos media dominantes, e de uma intensa ofensiva ideológica pregando a resignação, o conformismo, o não-vale-a-pena.
Tratou-se de uma iniciativa impressivamente marcada por uma muito forte e entusiástica presença juvenil, certamente contando com muitos jovens que pela primeira vez na sua vida participaram numa acção em defesa dos seus direitos – e deixando inequívocos sinais de que gostaram e vão voltar.
Tratou-se de uma jornada de luta que superou todas as expectativas, mesmo as mais optimistas, em matéria de participação e combatividade.
Tratou-se de uma gigantesca manifestação feita de várias grandes manifestações, envolvendo trabalhadores e numerosas estruturas unitárias de utentes – todos vindo de todo o País, de Norte a Sul, e formando quatro grandes rios de povo a desaguar no imenso oceano que foi aquele Terreiro do Povo.
Tratou-se, por tudo isto, de uma jornada de luta a apontar para o futuro, a dizer-nos, não apenas que a luta continua, mas que continuará mais forte, mais intensa, mais participada e ainda mais combativa.
O Avante! saúda a CGTP-IN pelo êxito obtido, pelo trabalho realizado, pela forte capacidade de mobilização que demonstrou, pela notável capacidade de atrair à luta novos segmentos das massas trabalhadoras.
E saúda os milhares de camaradas que, dando uma vez mais provas de uma militância dedicada, esforçada, consciente, desempenharam papel determinante na mobilização não apenas dos trabalhadores mas também de outras camadas sociais e grupos etários.
Agora, a luta continua. Noutros terreiros que, porque são dos trabalhadores e das populações em luta, são também do povo: nas empresas, sectores e locais de trabalho contra as alterações ao Código do Trabalho – e com a consciência de que a aplicação das medidas aprovadas pela troika do chamado acordo de concertação social, pode ser impedida através da luta – pelo direito ao emprego com direitos, pelo direito aos salários e a salários dignos; nas localidades, pelo direito à saúde e contra a destruição do SNS; contra a lei dos despejos, pela defesa dos serviços públicos – com a certeza de que todos estes objectivos são comuns e convergem e encontram-se na luta comum contra o famigerado pacto de agressão.
Porque a jornada de luta de sábado passado abriu novas perspectivas e traçou novos caminhos para as batalhas do futuro, criou novas condições e constituiu um poderoso impulso para a intensificação e multiplicação das lutas dos trabalhadores e das populações, para uma cada vez mais forte e ampla resposta de massas à ofensiva em curso contra os interesses dos trabalhadores, do povo e do País.