Almada acolhe homenagem às vítimas do fascismo

Mulheres constroem a igualdade e a paz

No âmbito de uma reunião do Comité de Direcção da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM), que reuniu em Portugal, de 4 a 6 de Fevereiro, cerca de 40 mulheres, de 23 países dos quatro cantos do mundo, participaram, sábado, em Almada, junto ao monumento «Os Perseguidos», numa cerimónia de homenagem a todas as mulheres e homens vítimas da perseguição fascista.

O nazi-fascismo foi derrotado mas não está morto

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«Num momento em que forças obscurantistas, conservadoras e fascizantes se levantam, impondo condições de vida que nos lembram os negros períodos da história mundial, organizações de mulheres de 23 países, de todos os continentes, reunidos em Almada, deixam a sua homenagem a todas e a todos os que sofreram e foram vítimas do fascismo e do nazi-fascismo em Portugal, na Europa e em todas as partes do mundo. Pela igualdade e a paz, a liberdade e a soberania dos povos, pelo direito a ter direitos, estamos presentes, sempre, com a luta internacionalista das mulheres», lia-se numa placa que acompanhava as flores depositadas junto ao monumento.

Nesta iniciativa, que contou com a presença, entre muitos outros, de Maria Emília de Sousa, presidente da Câmara de Almada, interveio a presidente da Federação das Mulheres Gregas que, também ela emocionada, recordou os «23 milhões de soviéticos, assim como muitos outros milhares da Europa e dos Balcãs, que perderam as suas vidas» na 2.º Guerra Mundial, a lutar contra o fascismo. A propósito, lembrou as palavras de Isidora Dolores Ibárrui Gémez, mais conhecida como La Pasionaria, que, no primeiro Congresso da FDIM, disse: «O nazi-fascismo foi derrotado mas não está morto. Temos que estar atentos».

A dirigente grega alertou ainda para as consequências do imperialismo, que só traz «pobreza, fome, miséria, desemprego, prostituição e drogas». «Nós, as mulheres que lutamos sob a bandeira da FDIM, frente a este monumento, prometemos que não vamos baixar os braços e lutaremos pela criação de uma sociedade livre de exploração do homem pelo homem».

Maria Emília de Sousa sublinhou, de igual modo, que as palavras ali proferidas não eram de «fantasia», mas sim de «grande oportunidade». De facto, afirmou, «os opressores espreitam por todo o mundo, com uma intervenção gritante de injustiça».

Daí a importância daquele monumento, erguido «pela vontade do povo que, por subscrição pública, decidiu colocá-lo no centro da nossa cidade, honrando aqueles que combateram o fascismo, nas cadeias, no exílio, em todos os lugares onde foi necessário estar, para derrubar o fascismo e para conquistar a liberdade». «Eles [Os Perseguidos] não representam só o povo português, mas todos os homens e mulheres que, nos diferentes cantos do mundo, lutaram contra o fascismo, contra o nazismo, contra todas as injustiças, pela paz», acrescentou a eleita do PCP.

Por seu lado, Regina Marques, do Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), deu conta de que a reunião da FDIM, com o lema «Pela igualdade e a paz. Pelo direito a ter direitos. Não mais à exploração das mulheres», teve como objectivo a preparação do seu 15.º Congresso, que se vai realizar em Brasília, no Brasil, entre os dias 8 e 12 de Abril. «Estamos aqui para valorizar o que fazemos e o que os outros estão a fazer pelo progresso, pelo desenvolvimento, mas também para denunciar aquilo que nos magoa, aquilo que faz sofrer os povos, que, de facto, estão a ter tantos retrocessos nos seus direitos», disse.

 

Sessão pública no Teatro Municipal de Almada
Mulheres por um mundo de paz

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No final da tarde de sábado, depois do visionamento de um filme sobre a história do MDM, realizou-se ainda uma sessão pública, no Teatro Municipal, subordinada ao tema: «A situação internacional e a solidariedade activa das mulheres por um mundo de paz», que contou com as intervenções das presidentes da FDIM e da Câmara de Almada, do MDM e das organizações de Cuba e da Palestina. Ali estiveram ainda, em solidariedade com a luta das mulheres no mundo, Manuela Pinto Ângelo e Manuela Bernardino, do Secretariado do PCP, Conceição Morais, das Mulheres Comunistas, e os embaixadores de Cuba e da Palestina em Portugal. O Partido Ecologista «Os Verdes» também marcou presença nesta iniciativa, tendo entregue, no final, flores às intervenientes no debate.

Maria Emília de Sousa abriu o debate valorizando o «trabalho fundamental» promovido pelo MDM, recentemente reconhecido para parceiro social, «na defesa e na luta pelos direitos das mulheres, desde os tempos da ditadura fascista, o que o torna o mais activo e mais antigo movimento de mulheres em Portugal». Às mulheres dos quatro cantos do mundo, a autarca lembrou que Almada, mesmo antes da Revolução dos Cravos de 1974, já era uma terra de «resistência, de solidariedade, de luta árdua, sempre empenhada, genuína, solidária e determinada na construção de um mundo melhor para as mulheres e para todos os seres humanos».

Maria Emília de Sousa destacou, de igual forma, o papel das mulheres no «desbravar de um caminho que haverá de conduzir a um mundo mais justo, mais fraterno e mais igualitário».

«Muitas já foram as conquistas alcançadas nesta luta das mulheres pela sua emancipação. Estas conquistas representam um factor civilizacional fundamental para a edificação e consolidação de uma sociedade cada vez mais equilibrada, mais fraterna, onde não haja lugar a discriminações de qualquer natureza entre os seres humanos, em função da cultura, das opções políticas e religiosas, da cor da pele, das condições sociais e económicas, em função do sexo, as quais, normalmente, agravam ainda mais os malefícios de todas as outras discriminações», referiu, alertando contudo: «Muito está ainda por fazer. É necessário continuar esse caminho, prosseguir essa luta».

«Esta luta das mulheres é profundamente positiva e construtiva, não se faz contra ninguém, mas é a favor de todos», frisou, criticando, quase a terminar, a «ofensiva sem precedentes», imposta a partir dos centros do poder político, contra «os direitos alcançados pelos trabalhadores, no processo de luta que contou sempre com uma larguíssima participação colectiva das mulheres». Em Portugal «as medidas que estão a ser colocadas em marcha pelo Governo afectam todos os trabalhadores portugueses, atingindo de forma muitíssimo grave a generalidade das mulheres, em especial as mulheres trabalhadoras», informou.

Por último, a autarca, eleita pelo PCP, anunciou que a Câmara de Almada está a construir uma nova biblioteca municipal, que será inaugurada em breve e que terá o nome de Maria Lamas, fundadora e presidente do MDM desde 1975 até morrer, uma mulher de acção, um exemplo de participação, sem medos, com uma intervenção cívica e política viva e solidária com as mulheres anónimas, com as trabalhadoras, com as intelectuais.

 

A perseverança do povo cubano

 

De Cuba veio o relato de Elpidia Moreno, que falou da perseverança de um povo que defende «a sua terra, a sua pátria». «Desde os primeiros anos da Revolução, o imperialismo norte-americano não suporta que a 90 milhas exista um povo soberano e revolucionário. Por isso implementou uma política de agressão, de austeridade, de ingerência, usando todas as suas forças, contra o povo cubano», denunciou, dando conta do «bloqueio genocida, económico e financeiro», contra o qual os cubanos «lutam há 53 anos», sempre «fiéis aos princípios da Revolução». «Este é o bloqueio mais prolongado que a humanidade conheceu, com prejuízos superiores a mais de 950 milhões de dólares por ano», calculou, recordando que os «sectores mais afectados são a Saúde e a Educação, muito importantes para a sociedade cubana». Na Saúde, explicou, «o bloqueio impede a compra de medicamentos para as crianças com problemas de coração», assim como para as que «precisam de transplantes». Existem, de igual forma, fortes limitações na aquisição de máquinas de escrever braille, para os invisuais.

«Estes são exemplos que continuamos a denunciar, porque numa sociedade como a cubana não há nada mais importante do que as crianças, nelas reside o futuro da pátria», disse Elpidia Moreno, que qualificou de «criminosa» e «inaceitável» a política dos EUA, que apoia os actos terroristas orquestrados a partir de Miami, como foi o caso do atentado, sob os Barbados, nas Caraíbas, a um avião civil da Companhia Aérea Cubana, que assassinou 73 jovens desportistas.

Elpidia Moreno falou ainda dos Cinco cubanos «injustamente condenados por procurar informações de actividades terroristas em grupos que operam nos EUA» e que já «provocaram a morte a mais de cinco mil pessoas». Neste sentido, apelou a que no dia 5 de Fevereiro, como vem acontecendo todos os meses, os povos de todo o mundo pressionem o presidente Barack Obama a libertar imediatamente René Gonzalez, Gerardo Hernandez, Fernando Gonzalez, Ramon Labañino e Antônio Guerrero. Poderão fazê-lo por telefone (202-456-1111), por fax (202 456-2461), pelo correio (Presidente Barack Obama, The White House, 1600 Pennsylvania Avenue, NW Washington, DC 20500) e por e-mail ([email protected]).

Entretanto, «a Revolução não pára» e prova disso foi o Congresso do Partido Comunista de Cuba, realizado em 2011, que foi «a prova da resistência dos nossos princípios socialistas», efectuado depois «de uma consulta pública e popular, onde se delinearam as matrizes da política económica do país». «O grande desafio que temos por diante é possibilitar um ambiente adequado, que contribua para o diálogo, o respeito de outras opiniões, num processo mais participativo e democrático», destacou Elpidia Moreno.

 

Relatos de sofrimento e injustiças

 

Da Palestina chegou um relato impressionante de sofrimento e injustiças, infligidas por Israel, que assassinou, ao longo de décadas, milhares de palestinianos, aprisionou outros tantos, nomeadamente mulheres e crianças. O bloqueio à Faixa de Gaza prova, uma vez mais, que o massacre ao povo palestiniano continua. «Valorizamos os esforços e a solidariedade da FDIM para com as nossas justas causas, de obter a liberdade e a independência», disse a delegada do mundo árabe, sublinhando que essa «solidariedade» é «um forte escudo à resistência do povo palestiniano, um apoio para o caminho de libertação da ocupação israelita».

No entanto, as dificuldades das mulheres palestinianas não se resumem apenas à sua morte e das suas famílias. Ela está patente na «destruição de casas e de fábricas», no «aumento dos campos de refugiados na Faixa de Gaza», no «desemprego», no «encerramento de escolas», muitas delas «transformadas em bases militares». «Mais de 1200 palestinianos morreram por falta de acesso a cuidados de Saúde, e 68 mulheres deram à luz nos postos de controlo por não poderem passar para o hospital», disse a palestiniana, acrescentando: «O mais difícil é obrigarem as mulheres a despirem-se nos postos de controlo».

 

É possível um mundo melhor

 

No final desta sessão pública, Márcia Campos, presidente da FDIM, depois de saudar todas as delegações presentes, prometeu que de 8 a 12 de Abril, no Brasil, as mulheres de todo o mundo vão participar «numa grande marcha», para demonstrar que «é possível ter um mundo melhor» para que «os povos tenham emprego, saúde e educação». «A FDIM dirá aos senhores imperialistas que o compromisso dos povos é com o ser humano», afirmou.

 

Contra a exploração dos povos

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Na segunda-feira, no Seixal, realizou-se um outro acto público de solidariedade com as mulheres do mundo, no Auditório dos Serviços Centrais da Câmara Municipal. Uma iniciativa que contou com a presença e intervenção, entre muitos outros, de Alfredo Monteiro e Corália Loureiro, respectivamente presidente e vereadora na autarquia.

Depois da apresentação de um pequeno filme sobre a situação política, social e económica da Grécia, onde se mostrou a resistência de um povo contra as políticas de austeridade ali implementadas, tomaram ainda a palavra a delegada do Chipre, vice-presidente da FDIM, que alertou para o aumento, em todo o mundo, de mulheres que são despedidas por estarem grávidas, e da Líbia chegou uma mensagem de oposição ao capitalismo e ao imperialismo que, também no mundo árabe, está a causar a exploração dos povos.

Interveio ainda uma das representantes da Coreia do Norte, que lembrou que o seu país «está dividido em duas partes, sendo o Sul ocupado por uma base militar norte-americana». No entanto, prosseguiu, «o povo continua a lutar, pacificamente, pela reunificação da nossa península», com o objectivo de «uma melhor e nova vida para todos».

Ao Seixal chegaram ainda algumas informações sobre as mulheres de África, que, ao longo dos anos, têm lutado contra a «opressão colonial», «a fome» e a «miséria», sendo que muitas delas foram obrigadas a deslocarem-se «de uma terra para a outra, para sobreviver às guerras civis». «Apesar das dificuldades, as mulheres demonstram uma força inquebrantável para conseguirem alcançar os seus objectivos principais: direitos iguais e uma sociedade mais justa», destacou a delegada de Angola, que alertou ainda para o fenómeno da fome em África, nomeadamente na Somália.

 

Saudação do PCP

 

Numa saudação a todos os participantes e convidados na sessão pública promovida pelo MDM, o PCP e a sua Organização de Mulheres Comunistas transmitiram uma «saudação calorosa e fraterna» aos membros do Comité de Direcção da FDIM e, por seu intermédio, às mulheres e suas organizações que em «diversos países e continentes lutam contra a exploração, a opressão, a guerra, o ataque à soberania dos povos e em defesa dos direitos das mulheres».

Também em Portugal, recorda o texto da saudação, «agimos com tais objectivos», o que ficou bem expresso numa iniciativa «Em defesa dos direitos das mulheres, rejeitar o pacto de agressão», em que o Secretário-geral do PCP afirmou: «A situação nacional e internacional está marcada pela aceleração e agudização da crise do capitalismo, uma crise sem fim à vista, porque as medidas a que o sistema tem recorrido são elas próprias factores do seu aprofundamento».

Uma crise do sistema capitalista, afirmou Jerónimo de Sousa, que «está a gerar retrocessos inaceitáveis na situação e nos direitos das mulheres, pondo em risco um importante património de valores e conquistas que marcam a luta do movimento das mulheres no final do século XIX e século XX. A natureza das orientações que são emanadas dos grandes centros do capitalismo, das instâncias europeias e mundiais e a acção dos governos que servem esses interesses vão desferindo duros golpes nos princípios e valores que foram sendo proclamados no plano internacional em favor da igualdade de direitos das mulheres, mostrando a verdadeira natureza exploradora do sistema e a impossibilidade de dar êxito à igualdade das mulheres e à sua emancipação.»

No entanto, frisou ainda o Secretário-geral do PCP, «a luta das mulheres continua a ser uma realidade e a construir um factor de grande importância para a mobilização de milhões de mulheres na luta em defesa dos seus direitos».



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