Na senda dos acordos assinados pela troika nacional (PS, PSD e CDS) com a troika estrangeira (UE, FMI e BCE) está a ser levada a cabo uma brutal ofensiva contra os trabalhadores, o povo e o País que tem no projecto de alteração à legislação laboral um dos seus elementos principais.
O Governo quer impor – a pretexto do combate ao défice e da competitividade da economia – o agravamento desenfreado da exploração, de forma a satisfazer as pretensões do grande capital e das grandes potências da União Europeia.
A esta política de terrorismo social visando conduzir as relações de trabalho a um retrocesso social e civilizacional sem precedentes responde o PCP com uma campanha nacional de esclarecimento e mobilização dos trabalhadores, para que dêem combate e derrotem o intento de liquidar o direito ao trabalho com direitos tão duramente conquistado pela luta de sucessivas gerações.
A proposta de lei sobre o aumento do horário de trabalho está em apreciação pública até 18 de Janeiro, mas o que está em causa vai muito para além desta iniciativa legislativa.
Medidas que estão na forja
1 Facilitação dos despedimentos por «inadaptação» e a redução das indemnizações por despedimento sem justa causa.
2 Alargamento da precariedade e o ataque à contratação colectiva.
3 Redução do 50% do pagamento de horas extraordinárias e do trabalho em dias de descanso (o que se pode traduzir num roubo de dois a três salários por ano).
4 Alargamento do horário de trabalho no sector privado (meia hora diária, duas horas e meia semanais), sem qualquer retribuição para o trabalhador, o que faria com que Portugal passasse a ter a segunda maior jornada de trabalho da UE, só atrás da Grécia.
5 Eliminação de quatro feriados e fim da majoração das férias em função da assiduidade.
6 Imposição do banco de horas (actualmente limitado) que pode levar a que um trabalhador possa trabalhar 12 horas por dia e 60 horas por semana sem qualquer compensação extraordinária.
7 Diminuição do valor e do período de atribuição do subsídio de desemprego.
8 Redução do valor-hora para cálculo de outras retribuições.
9 Eliminação do descanso compensatório após trabalho em dia de descanso ou dia feriado.
Consequências destas medidas
Roubar ao povo...
Ao mesmo tempo que ataca os direitos laborais, congela salários, corta nas remunerações, rouba o subsídio de férias e de Natal, o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas aumenta impostos e o preço dos serviços prestados a uma população cada vez mais empobrecida:
1- Na Saúde, o preço das taxas ditas moderadoras mais do que duplicou, atingindo custos de 20 a 50 euros nas urgências hospitalares; 10 euros nas consultas nos hospitais; 5 euros nas consultas nos centros de saúde; 4 e 5 euros nos cuidados de enfermagem.
– No conjunto da OCDE, as famílias portuguesas são as que mais gastam com cuidados de Saúde, as portuguesas são das que mais gastam – 27,2 por cento (cerca de 1300 euros/ano).
– As consequências já se fazem sentir. Só entre Setembro e Outubro, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde, realizaram-se menos 26 272 intervenções; menos 87 transplantes até Outubro de 2011; 49 por cento das consultas consideradas mais urgentes foram realizadas fora do prazo legal de 30 dias; o tempo de espera nas urgências em muitos hospitais ultrapassou com frequência as nove horas; milhares de doentes não urgentes ficaram sem transporte.
2- Na Alimentação – água, mercearia, charcutaria, café, refeições congeladas, etc. –, assim como no sector da restauração, o IVA foi agravado para a taxa máxima (23%).
3- Na Electricidade, no espaço de um ano, os preços subiram 25,2% para os consumidores domésticos.
4- Nas portagens e telecomunicações os aumentos são brutais.
5- Nos transportes, a par de uma redução significativa da oferta de serviços – cortes de carreiras, encerramento de linhas de comboio, redução de frequência – os preços não têm parado de subir desde o Verão.
6- Nas rendas de casa, aparece agora a ameaça de uma nova lei das rendas que na prática é uma lei dos despejos ao serviço da especulação imobiliária. Centenas de milhares de pessoas, estãoem risco de ficar na rua.
… para engordar o grande capital
O que o Governo PSD/CDS rouba ao povo vai para a banca, para os grupos económicos e para a especulação financeira:
– Só em 2012 o Estado pagará cerca de 9 mil milhões de euros de juros à banca.– Ascendem a 35 mil milhões de euros os juros a pagar pelo país à UE e ao FMI, no âmbito do empréstimo da troika.
– Estão previstos cerca de 12 mil milhões de euros de recursos públicos para a «recapitalização» dos bancos.
– A transferência dos fundos de pensões dos trabalhadores da banca, sendo um grande negócio para os banqueiros, ameaça tornar-se numa bomba-relógio para a Segurança Social.
Há alternativa!
Para romper com o rumo de afundamento do País o PCP propõe uma política patriótica e de esquerda que tem como componente essencial a valorização do trabalho e dos trabalhadores, dos seus salários, direitos e condições de vida, e que imponha:
– A renegociação da dívida pública, nos prazos, juros e montantes;– A tributação dos grupos económicos e financeiros taxando os lucros, o património de luxo e a especulação financeira;
– O fim das privatizações e a recuperação do controlo público dos sectores estratégicos da economia;
– A defesa dos serviços públicos e a garantia de apoios sociais à população;
– A defesa da produção nacional, o apoio às PME's e o combate às importações;
A afirmação da soberania nacional rompendo com as imposições da UE, do FMI e do grande capital;
– A alternativa ao capitalismo e ao seu rasto devastador é o projecto de democracia e socialismo, é a sociedade livre da exploração do homem pelo homem, é a concretização do ideal e projecto comunista.
Do Livro III
O aumento da mais-valia absoluta, ou o prolongamento do sobretrabalho (e, para isso, do dia de trabalho), permanecendo igual o capital variável, portanto, com o emprego do mesmo número de operários nominalmente pelo mesmo salário — sendo indiferente se o sobretempo [Überzeit] é pago, ou não — afunda relativamente o valor do capital constante face ao capital total e ao capital variável, e eleva, por esse facto, a taxa de lucro, mesmo abstraindo do crescimento e da massa da mais-valia e da taxa, possivelmente em subida, da mais-valia. O volume [Umfang] da parte fixa do capital constante (edifícios fabris, maquinaria, etc.) permanece o mesmo, quer se trabalhe com ele 16 ou 12 horas. O prolongamento do dia de trabalho não requer nenhum desembolso novo com ele, com a parte mais dispendiosa do capital constante. Acrescenta-se a isto que o valor do capital fixo é reproduzido assim numa série mais curta de períodos de rotação, portanto, é encurtado o tempo durante o qual ele tem que ser adiantado para fazer um determinado lucro. O prolongamento do dia de trabalho faz subir, por conseguinte, o lucro, mesmo quando o sobretempo [é] pago, e, até um certo limite, mesmo se é pago mais alto do que as horas normais de trabalho. A necessidade sempre crescente do aumento do capital fixo no sistema da indústria moderna foi, por conseguinte, para capitalistas ávidos de lucro, um aguilhão principal para o prolongamento do dia de trabalho 11.
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11 «Como em todas as fábricas há um montante muito grande de capital fixo em edifícios e maquinaria, quanto maior for o número de horas em que a maquinaria pode ser mantida a trabalhar, maior será o retorno.» (Rep. of Insp. of Fact., 31 de Outubro de 1858, p. 8.)