Ensino do Português no estrangeiro em risco

Defender a cultura e a língua

A chamada «reestruturação total da rede de ensino do Português no estrangeiro», proposta pelo Governo, poderá significar a sua pura e simples destruição, alerta a Direcção da Organização da Emigração do PCP.

Aos filhos dos emigrantes deve ser assegurado o ensino da língua

Num comunicado de dia 16, os comunistas consideram que esta proposta do Governo confirma o que há muito vêm denunciando: a «ausência de políticas coerentes de língua, ensino, cultura e identidade para os portugueses que residem fora do País, por parte de sucessivos governos». As políticas que foram assumidas, aliás, fragilizaram «ainda mais as precárias condições de materialização dos direitos consignados na Constituição da República, no sentido de “assegurar aos filhos dos emigrantes o ensino da língua portuguesa e o acesso à cultura portuguesa”».

O PCP rejeita ainda o que considera o «primado do ensino do português como língua estrangeira» sobre o ensino do português como língua materna» que, acusa, «tem sido uma opção estratégica assumida há muito e que ficou clara logo nas primeiras declarações da presidente do Instituto Camões». A estratégia, prossegue a estrutura partidária, «estava preparada para ser levada à prática por fases até atingir os seus objectivos de, sob o manto da integração do ensino da nossa língua nos sistemas educativos dos países de acolhimento, reduzir ao máximo a rede de ensino». Em alguns países, passado pouco tempo, os cursos de

«ensino integrado» deixaram praticamente de existir.

O quadro criado pelo anterior executivo, do PS, criou condições para o «ataque frontal do Governo PSD/CDS-PP contra a rede de ensino de português no estrangeiro (EPE), um dos poucos pilares de ligação das comunidades emigrantes a Portugal». Entre outras medidas, alertam os comunistas, o Governo pretende «suspender a comissão de serviço a 50 professores já a partir de Janeiro próximo, praticamente no início do ano lectivo, deixando sem aulas cerca de cinco mil alunos e ameaçando com novos despedimentos para Agosto».

 

Emigrantes são cidadãos nacionais

 

Estas medidas – que o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas justifica, como não podia deixar de ser, com os cortes impostos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros – somam-se, lembra o PCP, a outras, de que são exemplos a não colocação de professores, a sua não substituição quando em licença de paternidade ou em situação de reforma, os novos cortes de horários, deixando milhares de alunos sem aulas ou sobrecarregando as turmas existentes. Procurando atirar areia para os olhos dos emigrantes e luso-descendentes, o governante anuncia «tempos áureos» com a reestruturação total da rede, a introdução do ensino à distância e as novas tecnologias, acusa o PCP.

Para os comunistas, o Governo deveria sim tomar as medidas há anos anunciadas, de implementação do ensino do Português no estrangeiro em países fora da Europa, como os EUA ou o Canadá. Mas em vez disto, veio o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmar que as medidas visam também a «eliminação progressiva da diferença de tratamento entre as comunidades de alguns países da Europa e as de fora da Europa». Ou seja, não só não se implementa o EPE onde ele não existe como se destrói onde existe.

O PCP lembra que os portugueses que residem no estrangeiro, bem como várias gerações de luso-descendentes e os muitos milhares de trabalhadores que «continuam a ter que procurar no estrangeiro os meios de subsistência que o País lhes nega», pagam os seus impostos e enviam para Portugal cerca de dois mil milhões de euros por ano de remessas. Além disso, «são cidadãos portugueses de pleno direito e como tal devem ser tratados».

Defendendo a importância da afirmação da língua e da cultura portuguesas no mundo, o PCP reafirma a sua solidariedade com a luta dos professores, dos pais e dos alunos.



Mais artigos de: PCP

É a luta do povo que determina o futuro

«Ninguém se ponha de lado, porque a ofensiva é contra todos, tirando o capital financeiro, os banqueiros, os grandes grupos económicos que continuam a ir de vento em popa», afirmou Jerónimo de Sousa, no sábado, no final de um desfile na Baixa da Banheira.

Fazer da greve uma jornada memorável

O salão do Rancho do Monte, em Vila do Conde, encheu com as mais de 500 pessoas que, no passado domingo, ali se juntaram para participar no almoço comemorativo do 90.º aniversário do PCP e do 94.º da Revolução de Outubro, levado a cabo pela...

Contra o roubo no subsídio de Natal

O PCP promoveu, anteontem, em todo o País, acções de contacto e esclarecimento junto dos trabalhadores e da população sobre o roubo no subsídio de Natal, e de apelo à rejeição do pacto de agressão e à participação na greve geral.

Construtores da greve geral

Mais do que apoiar a convocação e realização da greve geral, as células e organizações do PCP são construtoras activas desta grande jornada de luta contra a exploração e o empobrecimento.

Manter os <i>Estaleiros</i> públicos

Num comunicado distribuído aos trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, a célula do Partido denuncia a inexistência do plano de reestruturação que o Governo se comprometeu a apresentar até ao final do mês de Outubro (depois de uma primeira data ter sido...

Almada e os <i>desgraçados</i> anos 60

Meio século é muito tempo na vida de um homem. Sobretudo se essa é uma vida cheia de episódios marcantes e, alguns, porventura dolorosos. Seria, pois, natural que as recordações de um acontecimento passado há tantos anos fossem difusas ou mesmo...

PCP felicita PCE

Reagindo aos resultados das eleições legislativas em Espanha (ver página 20), o Secretariado do Comité Central do PCP endereçou ao Comité Federal do Partido Comunista de Espanha (PCE) uma felicitação na qual salienta «o expressivo resultado alcançado...

<i>Avante!</i> na Bélgica

Mais de meia centena de militantes e amigos do Partido emigrantes na Bélgica participaram, no domingo, em Bruxelas, num almoço que contou com a presença de José Casanova, membro do CC do PCP e director do Avante!. A seguir ao almoço, realizado nas...