Relvas
Miguel Relvas, actual ministro dos Assuntos Parlamentares, parece a «sombra atrás do trono» quando o vemos, sempre diligente e atento, a abrir ou a fechar iniciativas governamentais que o próprio anuncia com um triunfalismo matemático. Do currículo do homem há um curso de Direito começado na Universidade de Lisboa e um outro de Relações Internacionais tirado na Lusófona (ai estas «universidades privadas», que tanto jeito deram a tantos políticos do poder!), acrescentando-se-lhe a qualidade de membro da Maçonaria.
Com toda esta impoluta aparelhagem, o ministro Relvas surge agora nas primeiras páginas apontado como «colaborador do grupo BPN» antes de este ter sido nacionalizado. Relvas era então deputado do PSD e apoiou uma operação financeira com o Brasil.
Isto já parece uma epidemia. Será que não há quadros ou dirigentes do PSD que não estejam envolvidos com o BPN?
Mas Relvas pode estar sossegado: os belos governos deste País, desde o de Sócrates ao actual, trataram de camuflar a insondável burla do BPN, «tapando-a» com não menos insondáveis milhares de milhões de euros do erário público.
Transplantes
A colheita de órgãos em cadáveres para serem transplantados em doentes em lista de espera atingiu em Outubro um mínimo histórico – apenas 10. Nos primeiros dez meses deste ano fizeram-se menos 87 transplantes do que em igual período do ano passado. Obviamente, este é o resultado curto e grosso do corte de metade das verbas para este sector decidida pelo Governo em Agosto passado. Só à espera de um rim estão cerca de 2200 pessoas.
Assinale-se que este corte no sector dos transplantes é de uma estupidez monumental, porque doentes transplantados passam a custar consideravelmente menos ao Estado do que os doentes em hemodiálise (isto só no caso dos rins), pelo que o resultado deste corte é de uma linearidade matemática: ao reduzir-se a colheita de órgãos e de transplantes para poupar metade do dinheiro, acaba a gastar-se o dobro (ou o triplo...) com as hemodiálises e afins.
A não ser, evidentemente, que este corte brutal de verbas para os transplantes pretenda liquidar os pacientes.
Os outros
No caso Face Oculta actualmente em julgamento Paulo Penedos é co-arguido, a par de seu pai, José Penedos, ex-presidente da REN. E foi Paulo Penedos que encheu as primeiras páginas ao acusar, em tribunal, a actual gestão da Refer de ter proposto um acordo ilegal com o sucateiro Godinho, o único réu que foi detido em prisão preventiva.
Anote-se que a Refer, empresa «extraída» da antiga CP, mas ainda totalmente de capitais públicos, é quem lida com o imenso equipamento dos caminhos-de-ferro onde, como o nome indica, o mesmo ferro abunda e a sua sucata também.
O sucateiro Godinho era, naturalmente, cliente assíduo, restando averiguar se foi ou não «aliciado», como diz Paulo Penedos.
Uma coisa é certa: tendo Paulo Penedos uma experimentada carreira política no PS, não admira esta sua súbita denúncia. Toda a gente sabe que para estes políticos, a culpa é sempre «dos outros»...