Jornada histórica na Grécia

Manifestantes cercam o parlamento

Centenas de milhares de pessoas participaram nas manifestações históricas realizadas na capital grega e nas principais cidades do país, nos dias 19 e 20 – duas jornadas de greve geral que paralisaram o conjunto das actividades.

O protesto alargar-se a amplas camadas da população

Após semanas de intensas lutas nos sectores público e privado, um oceano de protestos convergiu para o centro de Atenas, cercando o parlamento durante dois dias consecutivos.

Lá dentro, o governo de Papandreu, consolidando a sua aliança com os conservadores da Nova Democracia, lograva aprovar mais um pacote de austeridade, que reduzirá à indigência vastas camadas da população subitamente empobrecidas pelo programa de agressão e de saque, imposto pela troika UE/BCE/FMI, em Maio de 2010, e consentido pelas classes possidentes que dominam o país.

Desde então, o descontentamento alastrou à generalidade da população, exprimindo-se em incessantes greves sectoriais, que têm tocado desde profissões liberais, advogados, jornalistas, motoristas de táxi, aos funcionários públicos, médicos, professores ou simples cantoneiros de limpeza, cuja luta deixou Atenas atulhada de lixo e forçou o governo a recorrer à requisição civil na véspera da greve geral de 48 horas.

Já sem nada a perder, milhões de trabalhadores aderiram ao protesto nacional, vendo nele a única forma de impedir a aplicação das duras medidas que prevêem a destruição de mais 30 mil postos de trabalho nos serviços do Estado, a redução de 40 por cento dos salários e o alargamento da tributação aos rendimentos mais baixos. Esta última medida obriga ao pagamento de impostos a partir de um rendimento de cinco mil euros, ou seja, até aqueles que vivem abaixo do limiar da pobreza, no caso da Grécia, com menos de 6500 euros anuais, serão forçados a pagar IRS.

O torvelinho da crise, que só tem poupado as grandes fortunas e as pequenas elites privilegiadas, envolve camadas cada vez mais amplas da população. O desemprego continua a aumentar, passando de 12 por cento no início do ano, para 16,5 por cento segundo os dados mais recentes. Oficialmente há mais de 820 mil desempregados (a taxa real é mais do dobro), num país com uma população total de cerca de 11 milhões de pessoas. A queda abrupta da economia provoca uma sucessão de falências, os pequenos negócios são as primeiras vítimas. Por isso, também o pequeno comércio aderiu à greve geral, fechando as portas dos estabelecimentos.

O enorme sucesso da greve geral, convocada pela Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME), à qual aderiram as centrais reformistas GSEE e ADEDY, ficou, no entanto, marcado por episódio trágico que provocou a morte do dirigente sindical da PAME, Dimitris Kotzaridis, de 53 anos, secretário do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil.

A agressão teve lugar do segundo dia de greve, quando grupos de encapuzados lançaram contra os manifestantes da PAME, já perto da praça Sintagama, cocktails Molotov, granadas lacrimogéneas, pedras e outros artefactos. Kotzaridis foi uma das várias dezenas de vítimas. Transportado para o hospital viria a sofrer uma paragem cardíaca de que não recuperou.

Sobre esta agressão, o Partido Comunista da Grécia imputa uma «enorme responsabilidade» ao governo. «Por trás desta operação, que visava intimidar, caluniar e reprimir o movimento sindical e popular, estão estruturas, centros e serviços do Estado. (…) Esta gente encapuzada, anarcas-autonomistas, fascistas, ou com outras designações, tentou fazer aquilo que a repressão, a chantagem e as ameaças não lograram: intimidar os trabalhadores para que se submetam. Depreende-se com toda a objectividade que partiu destes mesmos centros a ordem dada aos agentes provocadores para incendiar o banco Marfin, que causou a morte de três pessoas, na altura em que era votado o memorando, em 5 de Maio de 2010.»



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