Utentes protestam
Centenas de utentes protestaram, segunda-feira, nos distritos de Lisboa e Braga, contra o aumento do preço dos transportes. Em Alhandra, a polícia reprimiu a acção recorrendo a fogo real e deteve dois utentes.
«O PCP está solidário com a luta contra o aumento dos transportes»
Em Queluz, São João do Estoril, Pontinha, Odivelas, Cais do Sodré e Alhandra, centenas de utentes iniciaram, na manhã de dia 29, a recolha de assinaturas para uma petição onde se exige a alteração desta política de preços nos transportes, imposta pelo Governo.
O documento, que o Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) promove com o objectivo de levar a debate na Assembleia da República o brutal aumento das tarifas, teve uma ampla aceitação por parte da população, tendo sido subscrito, em poucas horas, por mais de um milhar de pessoas, informou a Comissão Permanente do MUSP.
Na estação da CP de Nine, distrito de Braga, a União de Sindicatos promoveu, no mesmo dia, uma concentração em defesa dos serviços públicos e de esclarecimento e mobilização da população para a luta, mas foi no distrito de Lisboa que as iniciativas revelaram maior contundência.
Repressão não demove
Em São João do Estoril e no Cais do Sodré, os utentes realizaram cortes simbólicos da circulação. Em Alhandra, a interrupção da passagem de composições ferroviárias por cerca de 20 minutos desencadeou uma reacção desproporcionada por parte da polícia.
Já depois da desocupação da linha, as autoridades detiveram dois utentes, Bento e Pedro Luís, e carregaram sobre os manifestantes sem que nada o justificasse, acção que só pode ser qualificada como prepotente e violadora da liberdade e da democracia, relatou ao Avante! João Milheiro, testemunha dos acontecimentos em Alhandra.
No meio da repressão, um dos agentes da PSP apontou a arma aos participantes e disparou um tiro para o ar.
Os detidos foram levados imediatamente para a esquadra da PSP de Alhandra, donde seguiram para o Tribunal de Vila Franca acusados de coação e desobediência, tendo sido libertados ao final da tarde de segunda-feira.
Alertado para os factos, o grupo parlamentar do PCP enviou a deputada Rita Rato ao local. Em declarações ao Avante!, a eleita comunista sublinhou a legitimidade do protesto e manifestou a solidariedade do Partido para com os utentes.
Já na terça-feira, mais de uma centena de pessoas concentraram-se junto à estação da CP de Alhandra, contra o aumento do preço dos transportes e a repressão.
Na iniciativa, a União de Sindicatos de Lisboa e o MUSP reiteraram o «inequívoco apoio a todos os que se manifestaram», exigiram «o imediato arquivamento dos processos levantados contra dois utentes e um inquérito rigoroso à actuação das forças policiais», e apelaram à ampliação da luta.