HÁ UMA ALTERNATIVA

«É na luta or­ga­ni­zada que está o ca­minho»

A troika ocu­pante voltou em vi­sita de ins­pecção: viu o que quis, disse que o que foi feito foi bem feito e sen­ten­ciou que «o mais di­fícil ainda está para vir».

O pri­meiro-mi­nistro, de fé­rias no Al­garve, qual voz do dono, re­petiu que «isto ainda agora co­meçou».

Esta sin­tonia per­feita entre o «que ainda está para vir» e o que «ainda agora co­meçou» tem a ver, ob­vi­a­mente, com me­didas fla­ge­la­doras dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País. E não sur­pre­ende: bem pelo con­trário, tudo isto era mais do que pre­vi­sível desde que a troika dos par­tidos da po­lí­tica de di­reita se sub­meteu aos di­tames do pro­grama da troika do grande ca­pital fi­nan­ceiro.

Como o PCP pre­veniu e su­bli­nhou na de­vida al­tura, esse pro­grama cons­titui a maior agressão aos di­reitos e in­te­resses de Por­tugal e dos por­tu­gueses desde os tempos do fas­cismo. Trata-se de um ataque, sem pre­ce­dentes na nossa his­tória co­lec­tiva, contra a in­de­pen­dência e a so­be­rania na­ci­o­nais – além de que, como então per­ti­nen­te­mente acen­tuou o PCP, o pro­grama da troika, ver­da­deiro acto de in­ter­venção ex­terna ela­bo­rado a pensar ex­clu­si­va­mente nos in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros na­ci­o­nais e es­tran­geiros, só po­deria apro­fundar, acen­tuar e agravar a gra­vís­sima si­tu­ação a que o País foi con­du­zido por trinta e cinco anos de po­lí­tica de di­reita.

A re­a­li­dade, brutal, aí está a con­firmar os alertas dos co­mu­nistas – e a evi­den­ciar também que tal si­tu­ação só é pos­sível pelo papel de ab­di­cação dos in­te­resses na­ci­o­nais de­sem­pe­nhado pelos três par­tidos da po­lí­tica de di­reita: PS, PSD e CDS/​PP.

 

Com efeito, após es­cassas de­zenas de dias de apli­cação do pro­grama de sub­missão e agressão, o agra­va­mento da si­tu­ação do País e do povo é um facto ini­lu­dível: mais de­pen­dência ex­terna, mais re­cessão eco­nó­mica, in­ten­si­fi­cação da des­truição do apa­relho pro­du­tivo, agra­va­mento do dé­fice ex­terno, au­mento do de­sem­prego, cres­cente in­jus­tiça na dis­tri­buição da ri­queza, mais in­jus­tiças so­ciais, mais e mai­ores di­fi­cul­dades para os tra­ba­lha­dores e o povo, mais po­breza, mais mi­séria, mais fome.

O Go­verno ac­tual que, à se­me­lhança dos que o an­te­ce­deram, fun­ciona como um ver­da­deiro con­selho de ad­mi­nis­tração dos in­te­resses dos grande grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, levou por di­ante e anun­ciou para breve um con­junto de me­didas que exem­pli­ficam lu­mi­nar­mente o seu ca­rácter anti-so­cial e an­ti­po­pular.

O con­teúdo das al­te­ra­ções às leis la­bo­rais pro­postas pelo Go­verno traduz bem a marca de classe da sua po­lí­tica: fa­ci­litar os des­pe­di­mentos, des­re­gular os ho­rá­rios de tra­balho, atacar a con­tra­tação co­lec­tiva, são al­guns dos seus ob­jec­tivos.

E a po­lí­tica de saque con­tinua: ao con­ge­la­mento dos sa­lá­rios e pen­sões, se­guiu-se o roubo de 50% do sub­sídio de Natal a três mi­lhões de por­tu­gueses, a que se su­cedeu, de ime­diato, o brutal au­mento dos preços dos trans­portes, e a su­bida do IVA de 6% para 23% sobre o con­sumo de elec­tri­ci­dade e gás na­tural – me­dida que entra nos bolsos de seis mi­lhões de por­tu­gueses e co­loca Por­tugal no «pe­lotão da frente» da União Eu­ro­peia, com as ta­rifas eléc­tricas mais ele­vadas em todo o es­paço co­mu­ni­tário – isto, sendo Por­tugal, como bem sa­bemos, um dos países com mais baixo poder de compra.

Assim, atacar os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, pe­na­lizar as fa­mí­lias com en­cargos in­su­por­tá­veis e, ao mesmo tempo, au­mentar bru­tal­mente o custo da elec­tri­ci­dade, e pe­na­lizar as pe­quenas e mé­dias em­presas com o brutal agra­va­mento dos fac­tores de pro­dução, a isto se re­sume a tão pro­pa­lada «com­pe­ti­ti­vi­dade» que enche as bocas dos go­ver­nantes.

En­quanto trata assim os tra­ba­lha­dores e o povo – ou seja: a imensa mai­oria da po­pu­lação – o Go­verno mantém in­to­cável o poder eco­nó­mico e as grandes for­tunas – ou seja: a imensa mi­noria dos por­tu­gueses.

In­to­cável nos sa­cri­fí­cios, mas al­ta­mente atin­gida por fa­bu­losos lu­cros.

 

Ao con­trário do que dizem os go­ver­nantes e os seus pro­pa­gan­distas en­car­tados, há uma al­ter­na­tiva a esta po­lí­tica de afun­da­mento do País; há uma al­ter­na­tiva a esta po­lí­tica an­ti­pa­trió­tica e de di­reita: a al­ter­na­tiva pro­posta pelo PCP, uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, que re­jeite o pro­grama de agressão e sub­missão da troika ocu­pante, que não aceite estes es­tran­geiros como donos do País, que as­sente na pro­moção do in­ves­ti­mento, na va­lo­ri­zação dos ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores e dos re­for­mados, no apoio de facto às pe­quenas e mé­dias em­presas, no au­mento da pro­dução na­ci­onal – e que as­suma fron­tal­mente a in­de­pen­dência e a so­be­rania na­ci­onal.

É esta a po­lí­tica capaz de tirar o País do imenso bu­raco em que trinta e cinco anos de go­vernos PS, PSD e CDS/​PP afun­daram Por­tugal.

E é por esta po­lí­tica que é ne­ces­sário e vale a pena lutar.

«Es­peram-nos grandes com­bates» – disse o Se­cre­tário-geral do Par­tido, na se­gunda-feira, em Vila Real de Santo An­tónio.

E res­pon­dendo ao pri­meiro-mi­nistro – que de­fendeu, para Por­tugal, a «con­cer­tação so­cial» em al­ter­na­tiva à «con­fli­tu­a­li­dade que está a acon­tecer nou­tros países» («con­cer­tação so­cial» que, para ele, sig­ni­fica a acei­tação pas­siva por parte dos tra­ba­lha­dores dos di­tames do grande pa­tro­nato) –, o ca­ma­rada Je­ró­nimo de Sousa afirmou que «o Go­verno tem medo da luta or­ga­ni­zada pelo mo­vi­mento sin­dical, pelas co­mis­sões de utentes, pelas as­so­ci­a­ções, e da luta po­lí­tica or­ga­ni­zada pelo PCP». E acres­centou, in­ci­sivo: «Fa­remos a luta or­ga­ni­zada, não para des­truir mas para cons­truir a al­ter­na­tiva».

É na luta or­ga­ni­zada que está o ca­minho para dar a res­posta ne­ces­sária à si­tu­ação ac­tual e para en­con­trar a ne­ces­sária saída.

E nessa luta o PCP as­su­mirá todas as suas res­pon­sa­bi­li­dades.