- Nº 1964 (2011/07/21)

2.ª GALA DE ÓPERA

Festa do Avante!

Arte pela arte?! Música apenas beleza dos sons?! Ópera apenas no encanto das melodias, no brilho das vozes, no talento das interpretações?

Uma polémica com décadas a que a realidade e a vida já deram resposta: a qualidade da forma gera a criação do belo e da sua fruição pelo Homem; o iludir do conteúdo e as ideias que o forjam furta a determinante dimensão do Homem à própria criação da beleza.

O texto de João Maria Freitas Branco revela por que é que, neste ano de 2011 – e precisamente neste ano de 2011 – a Festa do «Avante!» renova a beleza deslumbrante da música da sua 2ª Gala de Ópera. E a completa com a majestade da música sinfónica e, sobretudo, o sentimento patriótico de compositores que ressoam hoje na inquietação dos Portugueses com a Pátria que são. Exactamente em 2011.


Ambicioso espectáculo de abertura 
Ópera, sinfonia e canção popular exaltam patriotismo

 

É um Portugal afligido por uma das mais profundas crises de toda a sua história que vai acolher a Festa deste ano. Tal facto motiva-nos a cuidar ainda mais do caro torrão lusitano, fomentando o espírito patriótico, não na acepção nacionalista patrioteira inculcada pelo Estado Novo, senão que em sintonia com a elevada noção camoniana de patriotismo. Concepção essa que, ao invés do propagandeado nesse passado ditatorial de triste memória, é factor unitivo, universalizante, elemento fautor de concórdia e diluente de fronteiras, concorrendo para a aproximação dos povos e para o diálogo intercultural.

O autêntico patriotismo é o que, à luz dos valores do humanismo, universaliza as qualidades de uma Nação.

Imbuído deste espírito que a crise convoca, o mega espectáculo de abertura volta a trazer a ópera à Festa, depois do sucesso alcançado em 2009. Mas desta vez a gala é, pela sua dimensão assim como pelo seu conteúdo artístico, bem mais ambiciosa.

O espectáculo oferece-nos original combinação ente dois universos: o da ópera e o da sinfonia. Será por isso gala lírico-sinfónica invulgar, desde logo pela sua rica diversidade: trechos célebres do reportório lírico reúnem-se com outros desconhecidos do não iniciado. Como se isto não bastasse, o programa inclui ainda canções populares e peças corais sinfónicas que não são ópera. Teremos assim, uma articulação não só inédita em espectáculos desta natureza como também de elevada exigência técnico-artística para os seus protagonistas (maestro, cantores, orquestra, coro). Um estimulante desafio que Avante! e Ginásio Ópera (co-produtores do espectáculo) quiseram enfrentar com entusiasmo criativo.

Fazendo jus ao tema eleito, o concerto inicia-se com a Sinfonia à Pátria, obra que traduz em música o patriotismo humanista legado por Camões. Depois entraremos no espaço da ópera com apresentação de variado leque de emoções e sentimentos suscitados pela pátria. Algo que também nos será trazido à presença por intermédio de outras formas artísticas, edificando-se desse modo uma unidade estética entre ópera, música sinfónica, canção popular, música coral.

Queremos acreditar que o concerto será uma novidade propiciadora de mais uma enriquecedora experiência artística a inscrever-se na honrosa tradição cultural a que a Festa do Avante! nos habituou.

João Maria de Freitas Branco

Caxias, Junho de 2011

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José Viana da Mota

Sinfonia À Pátria, 1.º andamento

  Esta é talvez a obra programática de excelência saída da pena de Viana da Mota, discípulo brilhante de Franz Liszt e um dos mais relevantes pianistas, pedagogos e compositores da música erudita portuguesa.

 

 

Giuseppe Verdi

Aida, cena final do 3.º acto

 Obra expressamente encomendada, segundo rezam as crónicas, para a abertura do Canal do Suez (1869), ela seria no entanto estreada dois anos mais tarde no Cairo, com enorme êxito. Esta é a famosa cena do final do 3º. acto. Momento de particular intensidade dramática.

 

 

Étienne Nicolas Méhul

Le Chant du Départ

  De entre as muitas canções patrióticas do período da Revolução Francesa, esta Canção da Partida, cujo significado a situa a par de A Marselhesa, inclui-se entre as mais célebres. Inicialmente conhecida por Hino à Liberdade, o seu título definitivo ter-lhe-á sido atribuído por Robespierre.

 

 

Unberto Giordano

Andrea Chénier, "Nemico della Pattria"

Certamente uma das árias mais famosas desta ópera de Giordano (representante destacado do verismo operístico), cuja acção decorre, também, durante a Revolução Francesa.

 

 

Ludwig van Beethoven

Fidelio, Coro dos Prisioneiros

Tal como outras criações de Beethoven, a sua única ópera, Fidelio, tem subjacente o turbilhão dos movimentos políticos seus contemporâneos. Um dos momentos altos da obra é o Coro dos Prisioneiros, cantado por um grupo de prisioneiros políticos.

 

Camille Saint-Saens

Sansão e Dalila, "Mon coeur s' ouvre à ta voix"

Apaixonada declaração de amor de Dalila a Sansão, esta conhecida ária da ópera do compositor francês Saint-Saens é uma das mais belas e intensas páginas de todo o repertório operístico para meio-soprano.

 

Antonin Dvorák

Going Home, 9.ª Sinfonia, 2.º andamento

Como tantas vezes acontece, há ecos contraditórios acerca da génese deste famoso tema da chamada Sinfonia do Novo Mundo. Será ele baseado num espiritual negro recolhido por Dvorák na sua estadia americana ou deverá afinal a fama à sua posterior apropriação na forma de um hino?

 

Giacomo Puccini

Tosca, "E lucevan le stelle"

Sem dúvida uma das peças-chave de toda a arte lírica, a belíssima ária do terceiro e último acto desta ópera anuncia o derradeiro encontro entre o revolucionário Cavaradossi e a sua amada Tosca e antecede a execução daquele nas masmorras do Castelo de Sant' Angelo.

 

Léo Delibes

Lakmé, "Viens Mallika... les lianes en fleurs"

O carácter orientalizante e a delicada orquestração de Delibes são o pano de fundo sobre o qual se destaca este conhecido e exigente dueto para vozes femininas, também conhecido por Dueto das Flores.

 

Giuseppe Verdi

Don Carlos, "Io vengo a domandar"

Verdi sempre se sentiu atraído pelas questões políticas. Esta sua monumental obra composta para a ópera de Paris e baseada na peça homónima de Schiller chega a ser uma espécie de tratado operístico de política. Neste lindíssimo dueto, paixão amorosa e interesses de Estado entrelaçam-se.

 

Giuseppe Verdi

Traviata, "Coro di Zingarelle e Mattadori"

Num salão parisiense, um grupo de ciganos baila e canta durante uma festa para entreter os convivas. Brilhante momento de música coral que no entanto é irrelevante para a acção dramática da ópera inspirada em A Dama das Camélias de Alexandre Dumas.

 

Georges Bizet

Os Pescadores de Pérolas, "Au fond du temple saint"

O tema musical deste dueto reaparece ao longo da ópera como símbolo da amizade que une os dois protagonistas masculinos, sendo exemplificativo da melhor inspiração melódica de Bizet. A acção decorre no Ceilão, na Antiguidade.

 

Gioachino Rossini

Moisés no Egipto, "Dal tuo stellato soglio"

Tendo conhecido diversas versões e outros títulos, a ópera de Rossini foi estreada na sua forma mais extensa em 1827, na Ópera de Paris. Este trecho, marcado por uma sedutora melodia que vai sendo repetida, é um dos mais célebres da partitura e inspirou mais tarde uma série de variações para violino e piano de Paganini.

 

Gioachino Rossini

O Barbeiro de Sevilha, "Largo al factotum"

Numa mudança de registo e atmosfera, esta ópera cómica do mesmo Rossini foi inspirada (tal como as Bodas de Fígaro, de Mozart) na chamada trilogia Fígaro do dramaturgo francês Beaumarchais. Sendo a primeira intervenção do barítono (a entrada de Fígaro em cena) é ao mesmo tempo a mais célebre ária da ópera.

 

Wolfgang Amadeus Mozart

Così fan tutte, "Ah, scostati!... Smanie implacabili"

Com libreto de Lorenzo da Ponte, esta famosa opera buffa de Mozart foi estreada em Viena em Janeiro de 1790 e é hoje em dia uma das mais cantadas em todo o Mundo. Esta ária pertence ao 1.º acto e expressa o desespero exaltado de Dorabella (meio-soprano) face à inesperada partida do seu namorado.

 

Charles Gounod

Fausto, "Un bouquet!... O Dieu! Que de bijoux!"

Uma das mais extensas obras de todo o repertório operístico, livremente baseada na obra homónima de Goethe e estreada em Paris, em Março de 1859. A ária Un bouquet!... O Dieu! Que de bijoux! é um momento de particular relevo para a soprano (Marguerite).

 

Pietro Mascagni

Cavalaria Rusticana, "Intermezzo"

Este é um expressivo momento orquestral extraído da primeira e mais conhecida ópera composta por Mascagni e também um dos mais famosos e emocionantes intermezzi instrumentais de toda a história da ópera.

 

Joly Braga Santos

4.ª Sinfonia, 4.º andamento, Hino à Juventude

Na sua versão original esta sinfonia tinha um final puramente orquestral, clímax da obra; mas mais tarde Braga Santos decidiu compor um final coral dedicado às Juventudes Musicais, movimento associativo de que foi um dos fundadores em Portugal (a JMP). Porém, a versão com o epílogo coral é muito raramente executada.

 

Agustín Lara

Granada

«Prova-de-fogo» para qualquer tenor que se preze, esta famosa canção do compositor mexicano Agustín Lara espelha, da melhor maneira, o carácter inconfundível da música popular espanhola.

 

Giuseppe Verdi

Nabucco, "Va, pensiero..."

Celebérrimo coro patriótico em que música e povo se unem formando um todo único. Expressão do profundo desejo de liberdade e autonomia do povo italiano em meados do século XIX. Verdi estabelece um paralelo entre a situação dos hebreus oprimidos no tempo de Nabucodonosor e a do povo italiano do seu tempo. Isso lhe irá conferir de imediato enorme fama, prestígio e o estatuto de primeiro grande compositor de Itália.

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Solistas: Ana Paula Russo, soprano; Inês Thomas Almeida, meio-soprano; Mário Alves, tenor;

João Pedro Cabral, tenor; Luís Rodrigues, barítono; Nuno Dias, baixo, com a Orquestra Sinfónica do Ginásio Ópera, o Coro do Tejo e o Coro de Câmara de Lisboa.

 

Direcção Musical: Kodo Yamagishi

Co-produção: Ginásio Ópera, Festa do Avante!