«Os tolos»

Ângelo Alves

Em política a estratégia da mentira, da ignorância e do populismo é bem conhecida. Teve e tem nos partidos de extrema-direita uma expressão particularmente vivida e está cada vez mais presente em discursos e campanhas de vários partidos portugueses como o PS, o PSD e o CDS. Esta tendência é uma expressão da ideologia e do sistema político dominante e assume-se cada vez mais como doutrina política não declarada, mistificada em torno de máximas como «mais importante do que ter ideias é saber fazer passar o discurso». Até aqui nada de novo. O que é qualitativamente novo, e choca, é aqueles que é suposto informarem, suscitarem a reflexão, darem visibilidade ao conteúdo do discurso político e denunciarem a sua falta, serem os primeiros a fazer a apologia da ignorância, do não debate e da ocultação das verdadeiras intenções de quem se candidata a cargos públicos.

Foi isto que aconteceu no passado dia 19 no Fórum da TSF dedicado ao CDS em que Paulo Baldaia, Director da TSF – dando como «prévio vencedor» das eleições de 5 de Junho o CDS e fazendo um elogio público de mais de dez minutos à sua estratégia eleitoral – afirmou, usando o provérbio «o homem fala, o sábio cala, o tolo discute», que o resultado nas sondagens do «partido para quem toda a gente olha» se deve ao facto de o CDS «ter mostrado muito pouco», de «estar a gerir a pouca informação» e de ter um programa eleitoral «simples» que «tem meia dúzia de máximas» e que «não concretiza muitos dados». Até porque, segundo Paulo Baldaia, «o eleitorado tem tendência para penalizar quem apresenta propostas concretas» porque «são discutidas e isso pode assustar». Remata o iluminado director que, até na questão do programa da troika a coisa «está muito bem feita» pois «dos três partidos que assinaram com a troika, o CDS é o que passa mais ao largo», «também assinou [o acordo] mas é como se não tivesse assinado». Mas esquece-se Paulo Baldaia que a História já demonstrou várias vezes que é naqueles a quem ele chama «tolos» que reside a última palavra e o poder para mudar a política e o poder. E já agora para mudar a comunicação que um dia voltará a ser verdadeiramente social e não a voz do dono.



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