Vitórias da luta comprovam que vale a pena
No final da manifestação nacional, milhares de jovens de todos os distritos aplaudiram as vitórias conquistadas com a luta, reafirmaram a exigência de trabalho com direitos, e declararam-se disponíveis para prosseguir a acção com o objectivo de mudar de rumo e alcançar uma nova política.
Perante os milhares de manifestantes que encheram a Rua do Carmo, após o desfile pelas ruas da baixa, Valter Lóios saudou os jovens trabalhadores que se integraram nesta jornada – com diferentes vínculos laborais, na Administração Pública ou no sector empresarial, tal como desempregados e estagiários – e evocou igualmente outros milhares «que estão diariamente em luta e estão com o nosso projecto sindical, mas que, por vários motivos, não puderam hoje participar nesta nossa acção». O dirigente da Interjovem e da CGTP-IN recordou ainda que, na preparação da manifestação – incluindo nas iniciativas que celebraram o Dia Nacional da Juventude, a 28 de Março – a organização contactou mais de 150 mil jovens em locais de trabalho.
Na intervenção que fez em nome da Interjovem, condenou as políticas conduzidas ao longo de «35 anos de alternância de Governo entre o PS e o PSD, com ou sem CDS», as quais «sempre colocaram e colocam a juventude com piores condições de vida e de trabalho, espelhando bem a enorme contradição do sistema capitalista: vivemos numa sociedade que, sendo mais desenvolvida do ponto de vista tecnológico, mantém direitos sociais e laborais do século XIX».
Ao fazer uma breve caracterização da situação actual, acentuou a grande instabilidade a que estão sujeitos mais de 900 mil trabalhadores com contratos não permanentes, dos quais mais de 500 mil são jovens com menos de 35 anos; acresce ainda que «parte significativa dos mais de 800 mil trabalhadores por conta própria isolados são na realidade trabalhadores por conta de outrem», enquanto «a cada três novos empregos, pelo menos dois correspondem a meras ocupações temporárias». Principal razão para este quadro? A Interjovem aponta-a claramente: «uma hora de trabalho de um trabalhador com vínculo precário custa cerca de menos 40 por cento do que a mesma hora de um trabalhador com vínculo efectivo».
O desemprego atinge mais de 287 mil jovens, colocando a taxa perto dos 16 por cento, subindo para 23 por cento entre os menores de 25 anos. Mas há ainda «mais de 300 mil jovens que não trabalham nem estudam» e são «utilizados pelo capital como um exército de reserva duplamente explorado».
Para sublinhar que vale a pena lutar, Valter Lóios realçou que a greve geral de 24 de Novembro e a manifestação nacional de 19 de Março, no quadro da luta dos trabalhadores, «foram fundamentais para que o Governo PS/Sócrates se tivesse demitido». Elencou ainda várias batalhas bem sucedidas, nos últimos meses, nomeadamente:
- conquistaram vínculo efectivo mais de cem trabalhadores da EMEF (Grupo CP), 37 trabalhadores da Bosch, em Braga (entre os quais dois que tinham contratos a termo havia seis anos), e três dezenas de trabalhadores do Jumbo de Setúbal;
- na Brisa, REN Atlantic e Vanpro, foram readmitidos trabalhadores que resistiram à não renovação de contratos precários;
- a Tyco, de Évora, teve que entrar em acordo com 11 trabalhadores que contestaram o aumento do horário, e o Pingo Doce dos Olivais (Lisboa) teve que recuar na alteração de horário de uma trabalhadora, porque esta resistiu à ilegalidade;
- na CSP, em Almada, 22 trabalhadores viram reconhecida em tribunal uma dívida da empresa, por ter recorrido ilegalmente ao banco de horas, e foi reconhecida razão àqueles que o recusaram; a Delphi, no Seixal, também teve que pagar 56 mil euros, por recurso ilegal ao banco de horas;
- a Europac Kraft Viana foi condenada, na Relação do Porto, a pagar o prémio que retirou a quem fez greve em 2007.
É para continuar!
A determinação de prosseguir a luta, afirmada durante todo o protesto por muitas formas, foi realçada na saudação que a Comissão Política da Juventude Comunista Portuguesa divulgou no dia seguinte. Para a JCP, esta «grandiosa manifestação» veio provar «mais uma vez o enorme sentimento de contestação existente, face às actuais políticas, mas também a clara disponibilidade para a continuidade da luta contra a política de direita, seja qual e quem for o seu executante». A todos os jovens trabalhadores, a JCP apela «para que prossigam a luta, nas ruas, nas empresas e nos locais de trabalho, pelo emprego, por melhores salários, pelo direito ao trabalho com direitos, pelo fim do trabalho precário, exigindo que a cada posto de trabalho permanente corresponda um vínculo de trabalho efectivo».
Tema pré-eleições
A elevada precariedade de emprego, que tem entre os jovens uma dimensão quase esmagadora, apenas com o objectivo de aumentar os lucros das grandes empresas e a riqueza de alguns que dominam o sistema, constitui um problema da sociedade e exige a mobilização da sociedade para ser ultrapassada – defendeu Manuel Carvalho da Silva, a encerrar o breve comício sindical na Rua do Carmo.
Para o Secretário-geral da CGTP-IN, o contexto de aproximação de um processo eleitoral coloca uma exigência: que a precariedade laboral seja um tema fundamental do debate político.
A luta dos jovens por emprego estável e com direitos, pela contratação colectiva, por salários justos – apelou – deve prosseguir, até 5 de Junho, com forte participação nas comemorações do 25 de Abril e, sobretudo, do 1.º de Maio.