O presidente golpista das Honduras quer suspender os professores em greve e dissolver as suas organizações representativas depois de ter declarado ilegal a paralisação que dura há três semanas. Os docentes não desistem, apesar das ameaças e da repressão.
Em comunicado, emitido domingo e difundido pela rádio e televisão, o executivo liderado por Porfirio Lobo alega que a luta dos docentes provocou «danos graves às crianças, aos pais e à sociedade, degenerando, até, em actos de vandalismo repudiáveis num Estado de direito», pelo que ordenou aos professores para que se apresentem ao trabalho, caso contrário, sofrerão retaliações.
Entre as medidas que o presidente golpista anunciou contra os professores está a suspensão sem pagamento do salário por dois, seis e doze meses, respectivamente, nos casos de manutenção da adesão à greve até às passadas segunda e quarta-feira, ou até à próxima segunda-feira, no caso da retaliação mais pesada, e a dissolução das organizações sindicais.
A decisão do governo golpista foi prontamente rejeitada pelo movimento sindical e pela Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), que reitera a disposição dos profissionais para continuarem a luta com marchas diárias nas ruas da capital, Tegucigalpa, e as exigências que estão na base dos protestos.
Os professores reclamam o pagamento de meses de salários em atraso e rejeitam o conteúdo de uma lei, ainda em discussão no parlamento, a qual abre caminho à privatização do sector, acusam. Em causa está também o novo estatuto sobre direitos e carreira que o governo pretende aplicar.
Fazendo o balanço da repressão ordenada pelas autoridades sobre as jornadas levadas a cabo pelos professores desde 9 de Março, a FNRP informou que uma professora morreu, pelo menos 40 docentes ficaram feridos e mais de uma centena acabaram detidos pela polícia e pelas forças armadas. «O recurso à força condiz com a política de violência institucionalizada de um governo continuador de práticas que violam os direitos humanos», considera a Frente.
Granadas de gás lacrimogéneo, canhões de água e cargas policiais foram usados para aplacar os protestos realizados pelos professores, pais e estudantes nos últimos dias. Só na quinta-feira, 24, oito pessoas ficaram feridas e 26 foram presas quando o contingente repressivo impediu a marcha de se aproximar do palácio presidencial.
Para segunda-feira, 28, previa-se a adesão à greve dos funcionários hospitalares, em luta pela defesa do sistema de pensões e das suas estruturas representativas, ameaçados pelas condições impostas pelo FMI.
Para ontem estava convocada pela FNRP uma paralisação geral em todo o país contra a escalada dos preços dos bens essenciais. «A luta é contra os golpistas e o governo do ditador Porfirio Lobo», disse Juan Barahona, líder da Frente à Radio Globo.