Holofotes

Vasco Cardoso

Em poucos dias, com o anúncio da abstenção do PSD e do CDS – e apesar de ainda não se conhecer o conteúdo da dita – a Moção de Censura ao Governo que o BE apresentou, morreu.

Contrariamente ao que é (e continuará a ser) habitual, desta vez o «chico-espertismo» não foi apaparicado por parte da comunicação social dominante e o BE, que num golpe de asa procurava a todo o custo as luzes da ribalta, estatelou-se no seu próprio oportunismo.

O oportunismo de quem, após afirmar que uma Moção de Censura não teria «utilidade prática», quatro dias depois estava a anunciar uma Moção de Censura em pleno debate com o Primeiro-Ministro.

O oportunismo de quem dezoito dias depois das eleições presidências onde esteve de braço dado com o PS no apoio a Manuel Alegre – candidato que por sinal não poucas vezes usou o argumento da «estabilidade política» para recolher votos – quis apagar uma imagem de objectiva convergência com a candidatura do Governo. Deste Governo dos PEC e do Orçamento com o PSD, das privatizações, do aumento dos preços, do BPN e dos apoios à banca.

O oportunismo de quem anunciou uma Moção de Censura a um mês (!!!) de distância da sua discussão e votação na Assembleia da República, acalentando com isso a indisfarçável esperança de polarizar a discussão política e concentrar em si os holofotes.

Significa isto que o Governo PS e a política de direita não merecem censura? Claro que merecem. Merecem a censura dos trabalhadores que viram o seu salário ser roubado, dos reformados a quem congelaram as pensões e aumentaram os medicamentos, dos jovens que estão desempregados, dos estudantes a quem cortaram bolsas de estudo, das crianças a quem cortaram o abono de família ou das populações a quem fecharam o serviço de saúde e cobram portagens.

O Governo PS e a política de direita, da mesma forma que contam com o apoio e o aplauso dos grupos económicos e financeiros, merecem a censura dos trabalhadores, da juventude e do povo.

Uma censura feita nas ruas, nos locais de trabalho, nas escolas e potenciada na Assembleia da República. Uma censura para travar este governo, para dar força à luta, para impor uma ruptura com a política de direita. Uma censura a sério.



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