Onda de revoltas no mundo árabe

Mubarak manobra, manifestações continuam

Ao cabo de duas semanas de incessantes protestos, milhares de pessoas permaneciam anteontem na praça Tahrir, no Cairo, reclamando a demissão do presidente egípcio, Hosni Mubarak.

Novas manifestações no Egipto marcadas para amanhã

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Foto LUSA

Cada vez mais fragilizado, Mubarak já tentou praticamente tudo para salvar o poder. Da mais feroz repressão dos primeiros dias da sublevação popular, passou à organização de uma contra-manifestação que provocou, dia 3, centenas de mortos e feridos. Procurando ganhar tempo e salvar o essencial, declarou que não se recandidataria à presidência, afastou o seu filho da sucessão no poder, demitiu a direcção do seu partido e o governo, nomeou um vice-presidente e abriu o diálogo com formações políticas, algumas das quais há muito ilegalizadas pelo seu regime, prometendo-lhes reformas políticas.

Mas como de tudo isto nada resultou, dado que todas as negociações esbarram com a principal reivindicação dos manifestantes – a queda do regime, Mubarak voltou a manobrar, anunciando, na segunda-feira, através do novo governo, um aumento de 15 por cento dos salários dos funcionários públicos, bem como a subida das pensões dos militares e civis.

A medida custará aos cofres do Estado 6500 milhões de libras egípcias (800 milhões de euros), mas o governo faz questão de se mostrar generoso, prometendo mais cinco mil milhões de libras (614 milhões de euros) para compensar os proprietários de comércios, de fábricas e viaturas que foram vítimas de pilhagens ou vandalismo.

Todavia, o impasse mantém-se. A praça Tahrir (libertação), transformada num acampamento gigante, continuou ocupada pelos manifestantes e o país semi-paralisado pela revolta popular. Novas mobilizações de massas estão convocadas para amanhã, sexta-feira.

Abandonado internacionalmente pelos seus aliados de sempre, que olham hoje para Mubarak como um empecilho, o regime parece caminhar irreversivelmente para o fim.

 

Revolução

em curso na Tunísia

 

Na Tunísia, o partido do antigo presidente do país, Ben Ali, foi finalmente suspenso, na sequência do recrudescimento dos protestos populares.

A decisão, que corresponde a uma das reivindicações centrais do movimento que obrigou à fuga do ditador no passado dia 14 de Janeiro, foi anunciada, na segunda-feira, pelo ministro do interior, Fahrat Rajhi.

Segundo agência noticiosa tunisina TAP, que publicou o comunicado do governante, a medida foi tomada face à «urgência extrema» da situação, aludindo aos protestos no fim-de-semana, e para «preservar os mais altos interesses da nação».

O anúncio foi feito horas depois de manifestantes terem incendiado a esquadra de polícia em Kef, onde, na véspera, se registaram confrontos entre a população e agentes da autoridade.

Na noite de domingo, cerca de mil pessoas concentraram-se frente à referida esquadra daquela cidade a Noroeste da capital, exigindo a demissão do respectivo chefe, acusado de «abuso de poder». Em resposta, os agentes aquartelados abriram fogo sobre os manifestantes fazendo cinco mortos e 50 feridos, de acordo com a EFE.

Confrontos com as forças da ordem registaram-se também em Kebili, nos quais um jovem de 18 anos morreu ao ser atingido por um projéctil com gás lacrimogéneo disparado a curta distância. Os incidentes nesta cidade do Sul da Tunísia tiveram lugar após a população se ter mobilizado para impedir o acesso às instalações do novo governador regional, acusado de ser corrupto e de estar ligado ao antigo regime.



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