EUA acolheram altos quadros nazis
Nos anos que se seguiram à Segunda Grande Guerra Mundial, os EUA transformaram-se num refúgio para altos quadros nazis. O acolhimento de criminosos encontra-se reportado nos documentos elaborados pela Agência de Investigações Especiais (OSI), aos quais o New York Times teve acesso recentemente.
A missão da OSI, criada em 1979, era identificar e expulsar os nazis dos EUA, diz o texto que confirma, mais uma vez, que, durante anos, ex-oficiais nazis trabalharam para o governo norte-americano como agentes secretos ou em projectos de investigação civis e militares.
O informe, não contendo informações maioritariamente deconhecidas, tem a particularidade de incluir detalhes sobre como os ex-colaboradores hitlerianos foram recebidos nos EUA, e de ter sido libertado a muito custo pela administração Obama, que depois de tomar posse continuou a esgrimir argumentos na justiça com a organização Arquivos de Segurança Nacional (ASN).
Desde 2006 que a ASN pretendia que o relatório (incompleto por corte dos recursos, disse entretanto à AFP um funcionário sob reserva de anonimato) de mais de 600 páginas lhe fosse disponibilizado sem censura, o que só aconteceu nas últimas semanas. Comparando a versão truncada com a actual versão integral, fica claro que Departamento de Justiça ocultou informações sem nenhuma justificação jurídica, considerou David Sobel, advogado da ASN.
Ora a «justificação» não era, de facto, jurídica, mas política, uma vez que o texto aprofunda, por exemplo, as ligações entre a CIA e ex-nazis. Um dos casos é o de Otto Von Bolschwing, contratado pelos serviços secretos apesar de se saber que havia trabalhado com Adolf Eichmann, alto quadro da Gestapo.
Outro exemplo é o de Arthur Rudolph, engenheiro responsável pelo programa de foguetões nazis durante a guerra, e comprovado explorador de milhares de trabalhadores que lhe foram enviados como mão-de-obra escrava para os projectos que dirigia. Rudolph acabou por desenvolver o poderoso foguetão Saturno que propulsionou o primeiro voo tripulado dos EUA à Lua, em 1969.
Apoio ao golpe facista de Pinochet
As informações divulgadas pelo New York Times sobre o acolhimento de nazis por parte dos EUA foram divulgadas uma semana depois de um outro lote de documentos desclassificados terem atestado o envolvimento da Casa Branca no golpe de Estado no Chile, em 1973.
Entre outros arquivos, os milhares de documentos entregues às autoridades chilenas reportam um conversa entre Augusto Pinochet e o conselheiro de segurança nacional e secretário de Estado, Henry Kissinger, no qual o político norte-americano reitera o apoio dos EUA ao ditador. «Você está a ser vítima de todos os grupos de esquerda do mundo e o seu pecado não foi outro senão derrubar um governo que se converteu ao comunismo», terá dito Kissinger.
No acervo fica ainda claro que desde 1971 que os EUA planeavam um golpe de Estado contra o Governo socialista liderado por Salvador Allende.